Encenação da Semana Santa de Congonhas terá ator de novelas da Globo e Record

Após dois anos de pandemia em que a celebração da Semana Santa foi feita de forma virtual, a Prefeitura de Congonhas, por meio da Secretaria de Cultura, Esporte, Turismo, Eventos e Lazer, realizará o evento religioso, cultural e turístico de forma presencial. A partir de domingo, 10 de abril, no Domingo de Ramos, a população poderá acompanhar as missas, procissões e encenações bíblicas.

Serão 250 atores e figurantes envergando figurinos suntuosos e originais durante a Semana santa, que contará com uma grande estrutura de palco, som, luz e efeitos especiais. Além disso, as encenações também contarão com a presença do ator congonhense Amaury Lorenzo, que tem participações na Rede Globo e TV Record.

O ator responsável pelos ensaios, vestimentas e organização de todas as figuras bíblicas, que também é servidor da Prefeitura de Congonhas, José Felix Junqueira, também conhecido como Zezeca, fala sobre a expectativa da volta das celebrações presenciais da Semana Santa.

“A Semana Santa de Congonhas é um dos eventos preferidos da população e referência nacional. Estou muito feliz de poder contribuir mais um ano com as encenações e figurações. É um trabalho de equipe, que conta com a participação dos atores do Teatro Dez Prás Oito e população que tem orgulho em participar deste grande evento”, diz Zezeca.

No sábado de Aleluia acontecerá, na Romaria, o grande Sermão da Montanha com diversos shows de grupos evangélicos atraindo um grande público. A programação completa da Semana Santa de Congonhas está disponível ao final da reportagem.

O Mais Minas conversou com Amaury Lorenzo, que participou de novelas como “Amor Sem Igual” e “Gênesis”, na Record, e “A Dona do Pedaço” e “Bom Sucesso” na Globo. O ator fez a novela “Nos Tempos do Imperador” que teve fim em fevereiro deste ano e está no elenco da produção que seguiu na programação das 18h da Globo, “Além da Ilusão”.

Amaury Lorenzo revelou que o convite para participar da encenação foi feito por Zezeca, com quem fez teatro aos 11 anos de idade, em Congonhas. O ator disse que foi muito emocionante ser convidado para interpretar Jesus Cristo nas encenações da Semana Santa e que não teria como negar. Então, ele reorganizou a sua agenda, pois, além das gravações, também é professor de artes cênicas no Rio de Janeiro, para viajar nesta semana para Minas Gerais e iniciar os ensaios.

“Dar vida ao Cristo é um desafio enorme, principalmente nesse período de pandemia que a cidade ficou dois meses sem a Semana Santa e sem a encenação, que é tão importante não só religiosamente como para os artistas da cidade. A encenação leva para o palco cerca de 80 artistas da cidade, isso é muito poderoso”, conta Amaury.

Amaury fez sua primeira encenação aos 9 anos e seu personagem era uma criança de Jerusalém. Participar da peça tradicional da Semana Santa de Congonhas neste ano é um desafio para o ator, pois terá que levar a poderosa história do Cristo para todo o público, além de ser um reencontro de Lorenzo com antigos amigos dos tempos em que atuava em sua cidade natal.

“Eu já sou muito dedicado à construção dos meus personagens, mas o diferencial do Cristo é que se trata de uma figura que está na fé, no coração e na mente de praticamente todo o mundo. O personagem é histórico e espiritual. Eu tenho me preparado de uma maneira técnica enquanto ator e de forma espiritual, me encontrado com minhas origens religiosas. Eu frequentava a missa quase que rotineiramente em Congonhas com a minha mãe. Haverá ensaios todos os dias, precisamos trabalhar arduamente lá no adro do Bom Jesus de Matosinhos, vou reencontrar com antigos amigos que não vejo há tanto tempo. É muito bonito de ver”, diz o ator.

Mais sobre o ator

A primeira coisa que surge na cabeça de Amaury quando fala de sua trajetória é a cidade em que nasceu. Congonhas foi onde Lorenzo iniciou no teatro, junto de Zezeca. Ele fez dança aos 7 anos com Bárbara Santos, quem a chama carinhosamente de “Tia Bárbara”, além de ter feito atuações com Edilson, que também era professor de teatro na terra dos Profetas. “Eles fizeram com que eu entendesse o quão artista eu era e que era possível eu voar para outros caminhos”, acrescenta.

Foi assim que, com 14 anos, Amaury Lorenzo foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em companhias de dança e depois fez vestibular para o curso de Artes Cênicas na UniRio. Desde então, o congonhense já acumula 25 anos de carreira, que passou pelo teatro até chegar à televisão.

“Costumo dizer que a base para todo ator de televisão é o teatro. É no teatro que se aprende a trabalhar de verdade, a respeitar o coletivo, a entender o tempo da cena, a respiração, a relação com o público e outros profissionais, além da relação com o ao vivo a um metro do público. Ali que você percebe se você vai dar funcionar para a arte, pois a arte não é para todo mundo, tem que ter muita dedicação, muito trabalho e saber fazer a interpretação, que trabalha com o seu material técnico e emocional. Então, foi um passo para a televisão”, relata.

Amaury fez um espetáculo no Rio de Janeiro em que o produtor de elenco da Globo, André Reis, estava presente. Ele convidou o ator de Congonhas para um trabalho e, assim, não parou mais. A primeira novela na Record foi “Milagres de Jesus”, em que o congonhense interpretou São Judas Tadeu, já começando a relação entre sua carreira artística e a religiosidade. Seu primeiro trabalho na Rede Globo foi na minissérie “As Cariocas”. Além de atuar, Lorenzo também é dramaturgo e roteirista de cinema.

O ator conta ao MM a vez em que trabalhou com o renomado diretor da Globo, Jorge Fernando, na novela “Verão 90”. Amaury viajou para Saquarema para filmar o primeiro capítulo da dramaturgia. Foram três dias de gravação na praça pública da cidade. Ele interpretou um caminhoneiro e contracenou com os dois protagonistas da novela. Três câmeras voltadas para ele e 100 profissionais trabalhando ao seu redor aumentaram a sua tensão e expectativa de início das gravações.

“Na hora de passar o texto, o Jorge Fernando vem até a mim. Um diretor de novelas emblemáticas da Rede Globo nos anos 1980 e 1990. Aquilo mexeu tanto comigo que eu realmente senti que estava fazendo parte do mundo da televisão. Eu disse para ele ‘sou seu fã, sou absurdamente apaixonado pelo seu trabalho’ e ele ‘ah tá, vamos trabalhar’. Fizemos a cena em três takes e quando terminou, eu perguntei para o Jorge o que ele achou. Ele botou a mão no meu ombro, olhou bem nos meus olhos e disse ‘neguinho, você manda muito bem na cena, parabéns'”, conta Amaury empolgado.

Para Amaury, essa foi a chancela de que tudo estava no caminho certo. O segundo ponto da carreira que o ator destaca é na Record, durante a gravação da novela “Amor Sem Igual”, em que houve o retorno das gravações durante a pandemia. “Ensaiei com máscara, no estúdio toda a equipe com material de segurança, vestindo macacões brancos e a gente fazendo PCR todos os dias. Foi a virada que o audiovisual precisou fazer para poder seguir. Essa novela, então me marcou, porque foi a volta aos trabalhos de uma forma muito diferente”, completou.

Carreira na TV

Lorenzo interpretou o personagem Faustino em “Nos Tempos do Imperador” e já está em “Além da Ilusão”, engatando duas novelas “das 6” em sequência. Apesar de ter uma extensa participação na televisão, o ator de Congonhas diz que quando começou a estudar teatro não tinha o pensamento de trabalhar na TV, apenas queria viver daquilo. Mas, com o passar dos anos, Amaury notou que as telas eram o caminho legítimo para garantir dignidade com a arte. “Eu sinto que a minha carreira vem se solidificando na televisão pelo meu trabalho, dedicação, esforço, testes diários e por anjos que tem passado na minha vida”, comenta.

Amaury agradece ao amigos e profissionais que contribuíram para a consolidação da sua carreira artística na televisão, dos quais cita os produtores de elenco Fabio Zambroni, Frida Richter e Guilherme Gobbi da Globo, e Marina Feauches e Mônica Teixeira da Record. Ele também cita o diretor da Globo, Emer Lavinni, em seus agradecimentos. “É um conjunto de coisas que fazem com que eu pense que estou em um momento bacana na TV, mas que vem depois de muito trabalho e escuta” declara.

Palco x TV

Um dos grandes ensinamentos de seus mestres e que o ator de Congonhas leva consigo é: “o trabalho do ator é o mesmo em todos os veículos, o que une é a verdade que colocamos na cena”. Assim, Amaury não vê grande diferença entre atuar na televisão ou no palco.

“Na TV a gente tem a oportunidade de cortar e repetir a cena, no teatro não temos essa possibilidade, por isso fazer a Paixão de Cristo traz esse frescor para mim. Na pandemia eu também tive que me afastar dos palcos, mas não posso errar em frente ao público. Serão três palcos, as pessoas vão estar a um metro de mim e elas se emocionam, podem me tocar e esse teatro é muito potente. É uma diferença que a TV não traz para nós”, declara.

Lorenzo destaca a falta de investimento do poder público federal na arte como um problema para viver dos palcos de teatro. A restrição mais recente do governo foi o veto à Lei Paulo Gustavo, que previa o repasse de R$ 3,86 bilhões em recursos federais a estados e municípios para o enfrentamento dos efeitos da pandemia sobre o setor cultural.

“Fazer arte no nosso país tem se tornado cada vez mais difícil, especialmente nos tempos atuais. Precisamos sempre estar sobrevivendo. Eu tenho a sorte de viver em Niterói, hoje, onde o governo tem investido na cultura, vejo Congonhas num caminho interessante. Arte é como vida, a gente precisa para poder viver”, comenta.

Projetos futuros

Amaury revela ao MM, em primeira mão, quais são seus próximos projetos. Ele vai estrear um monólogo no segundo semestre deste ano sobre a Guerra de Canudos, sob direção de Rose Abdallah e com texto de Ivan Jaf. O show solo levará o nome “A Luta”, em analogia não apenas ao acontecimento histórico no Sertão da Bahia, mas à luta atual que os seres humanos vivem no país.

Sem muitos detalhes, o ator congonhense também revela que vai estrear uma série em uma plataforma de streaming. “Um personagem bem bacana, dramático e violento. É o que posso falar”, diz.

Outro projeto de Amaury será de direção de teatro, junto da produtora Cambará Filmes. Ele vai dirigir “Kuanãpará – Terra Treme – Terra Treme”, que contará a história dos Tupinambás no entorno de Guanabara. Um espetáculo de dança e teatro que será realizado entre o fim do segundo semestre deste ano e início do ano que vem, em comemoração aos 450 anos da cidade de Niterói. “Vamos contar o surgimento da cidade, a partir dos povos que habitavam Guanabara. O Alto de São Lourenço que foi a primeira peça feita no Brasil, que foi na Igreja de São Lourenço, em Niterói. Contar a história de luta dos povos, a resistência e a formação do povo carioca”.

Prosseguindo a extensa lista de projetos futuros de Amaury, também há a série de TV chamada “Rastro dos Bichos”, que contará com a direção de Sérgio Lobato, produção executiva de Bruno Vilela e com o fotógrafo Adriano Gambarini. A série trata de cinco animais da fauna brasileira:

• Onça no Pantanal;
• Lobo Guará no Parque do Caraça e na Serra da Canastra;
• O Mico Leão Dourado na reserva do Rio de Janeiro;
• O Boto na Baía de Guanabara
• A Arara Azul na Bahia.

E claro, Congonhas também está dentro do “roteiro” dos projetos futuros de Amaury. O ator busca parcerias com os órgãos públicos, financiamentos na cidade e colaboração dos potentes artistas congonhenses para produzir um documentário sobre a história do município, a partir do seu povo, ouvindo a sua gente, transitando entre religiosidade, cultura e história, levando este “mundo “para as telas do cinema. “Nossa terra é muito rica e quero parcerias com minha produtora para produzir um documentário ou longa sobre a cidade”, declarou. Lorenzo também deseja levar o espetáculo “A Luta” para os palcos de Congonhas.

Programação da Semana Santa em Congonhas

Domingo de Ramos – 10 de Abril

• 7h – Praça da Basílica
  Benção dos Ramos e procissão até a Matriz
• 8h – Praça da Matriz
  Celebração da Santa Missa e Encenação Bíblica

Segunda-feira Santa -11 de Abril

• 18h – Igreja Nossa Senhora da Conceição
• Celebração da Santa Missa e procissão com a imagem do Cristo Flagelado
• 20h – Praça da Basílica
  Sermão do Predatório

Terça-feira Santa – 12 de Abril

• 18h30 – Praça do Rosário
• Celebração da Santa Missa e procissão com a imagem de Nossa Senhora das Dores até a Matriz de Nossa Senhora da Conceição
• 19h – Salão Basílica
  Celebração da Santa Missa e procissão com a imagem do Senhor dos Passos até a Matriz de Nossa Senhora da Conceição das figuras bíblicas e Sermão do Encontro

Quarta-feira Santa – 13 de Abril

• 19h – Praça da Matriz
  Celebração da Santa Missa e procissão com a imagem da Nossa Senhora das Dores para a Basílica, onde acontecerá o Sermão das Sete Dores de Maria

Quinta-feira Santa – 14 de Abril

• 19h – Praça da Matriz
  Encenação Bíblica da Santa Ceia
• 20h – Praça da Matriz
  Celebração da Santa Missa e Vigília até meia noite

Sexta-feira Santa -15 de Abril

• 7h – Praça São José Operário
  Via Sacra saindo da Matriz de São Jose Operário para a Matriz de Nossa Senhora da Conceição
• 15h – Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José Operário
  Celebração
• 19h – Praça da Basílica
  Encenação Bíblica da Paixão e Morte de Jesus Cristo e Sermão do Descendimento da Cruz
  Procissão do enterro até a Matriz de Nossa Senhora da Conceição
• 20h – Igreja Nossa Senhora da Conceição
  Vigília Pascal com a Benção do Fogo Novo do Ciro Pascal

Domingo de Páscoa – 17 de Abril

• 5h30 – Praça da Matriz
  Celebração da Santa Missa e procissão para a Basílica do Senhor Bom Jesus com a Benção do Santíssimo Sacramento
• 11h – Praça da Basílica
  Encenação Bíblica da Ressurreição de Cristo
• 18h -Praça da Basílica
  Procissão do Triunfo de Nossa Senhora em Direção à Matriz de Nossa Senhora da Conceição
  Santa Missa da Encenação Bíblica