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Análise e estatísticas: o fim da era Mano Menezes no Cruzeiro

08/08/2019 às 11:00
Tempo de leitura
7 min

Mano Menezes não é mais o treinador do Cruzeiro. Após 235 jogos, contando suas duas passagens pelo time celeste, o treinador não resistiu a derrota para o Inter, em casa, pelo jogo de ida da semifinal da Copa do Brasil, aliado aos meus resultados recentes e o péssimo futebol praticado pelo time.

Com uma vitória nos últimos 18 jogos, há oito jogos sem marcar, recorde na história do clube, na 18ª colocação no Brasileirão e recém eliminado da Libertadores, a situação de Mano Menezes estava insustentável no Cruzeiro. Os jogadores já não pareciam assimilar, ou querer assimilar, seu conceitos e não só uma vez demonstraram insatisfação com o estilo de jogo celeste.

Análise: o fim da era Mano Menezes no Cruzeiro

Mano Menezes pediu demissão após a derrota do Cruzeiro para o Internacional, por 1 a 0, com gol de Edenílson – Crédito da foto: Vinnícius Silva/Cruzeiro

Escudo perfeito

Mano, por tudo que já conquistou no time celeste, tinha respaldo da diretoria. Mas só por isso. O treinador era o escudo perfeito para a corrupta diretoria celeste. Experiente, “velho de casa”, vitorioso e pragmático, o técnico vencendo ou perdendo acabava protegendo a diretoria. Em momentos bons, ocultava a má administração com resultados positivos. Em maus momentos, por seu estilo de jogo, recebia todas as críticas, enquanto os diretores se passavam incólumes. Talvez seja por isso que, mesmo após resultados que não seriam aguentados por treinador algum, Mano Menezes teve que pedir demissão. Sabia que jamais seria dispensado. Foi lúcido.

Estilo de jogo de Mano Menezes

Mano Menezes foi o responsável por trazer de volta a alma “copeira” ao Cruzeiro. Após 14 anos sem ganhar mata-matas, sofrendo em jogos mais tensos e acumulando eliminações, o treinador mudou tudo. Mas isso teve seu preço. Mano implantou um estilo de jogo altamente competitivo mas pragmático e defensivo. O torcedor celeste, acostumado a times goleadores e ofensivos, passou a ter outra realidade diante de si. Esses eram, portanto, ônus e o bônus de se ter um time campeão.

Apesar de claramente apresentar bons resultados, levando em conta que em dois anos podendo trabalhar por toda a temporada, Mano venceu três mata-matas: duas Copas do Brasil e um Campeonato Mineiro, o estilo de jogo do Cruzeiro era ineficaz no Brasileirão, em jogos menos tensos e quando o adversário não se abria. Ver o Cruzeiro fora dos mata-matas era sofrível.

Falta de peças

E tudo tem seu prazo de validade. Difícil um time jogar por três anos da mesma forma e os adversários não aprenderem a neutralizar. No ano de 2019, se tornou cada vez mais difícil o Cruzeiro criar chances de gols e lances perigosos. Os contra-ataques, arma letal do time celeste em 2017 e 2018, passaram a não funcionar. Os rivais já não davam mais tanto espaço e se preocupavam com esta, que talvez era a única arma ofensiva celeste. Fábio seguiu fazendo milagres, Dedé seguiu tirando tudo, mas água mole em pedra dura…

E para o ano de 2019, o Cruzeiro não tinha mais seu coelho na cartola: Giorgian de Arrascaeta, que em muitas situações, numa jogada de qualidade, ou num posicionamento perfeito, conseguia abrir caminhos. Sem o Uruguaio, os lampejos de decisão de Thiago Neves também pararam de aparecer. Jogadores que deveriam ajudar, como Fred e Edilson, passaram a atrapalhar. O primeiro por conseguir se superar nas más atuações, jogo após jogo. O segundo, por sua vez, nem joga.

E, como se não bastasse, devido aos problemas financeiros, jogadores importantes foram saindo e ninguém chegou para o lugar. Rafinha, Murilo, Lucas Silva, Raniel e Lucas Romero foram embora, renderam pouco ou nenhum dinheiro, e não foram substituídos. Todos estes, com exceção de Murilo, eram figurinhas carimbadas nos jogos.

Problemas internos

Apesar de ter sua parcela de culpa nos problemas do Cruzeiro, Mano Menezes não pode ser considerado o grande responsável. Os problemas internos e judiciais do Cruzeiro respingaram no futebol de forma contínua. Desde a saída de jogadores e a não reposição, como dito acima, passando por uma pressão exacerbada por resultados que garanta premiações financeiras, pressão da torcida e falta de um ambiente calmo para se trabalhar.

E apesar da saída de Mano resolver problemas técnicos, de estilo de jogo e motivação, outros problemas sérios devem surgir. Afinal, que treinador irá querer assumir um clube em péssimo momento técnico, com elenco enfraquecido e envelhecido, além de uma bomba administrativa? Bom, um de segunda linha, talvez.

Histórico de Mano Menezes

Apesar dos últimos resultados, Mano Menezes deixa o Cruzeiro como um dos grandes treinadores da história. Foram 235 jogos nas duas passagens, que o colocaram em quarto lugar no ranking de comandantes com mais jogos pelo clube. Destes, foram 112 vitórias, 69 empates e 54 derrotas. 333 gols feitos e 205 sofridos.

O treinador esteve em cinco anos diferentes no clube. Em 2015, chegou no meio da temporada para salvar o time do rebaixamento. E com uma arrancada impressionante, conseguiu, deixando o time na parte de cima da tabela. No fim do ano deixou o clube, seduzido por proposta milionária da China.

Em 2016, voltou ao clube, também no meio da temporada, para, mais uma vez, salvar o time da zona de rebaixamento. Conseguiu novamente. E daí não saiu mais. Em 2017 e 2018, únicos anos em que teve toda a temporada para trabalhar, levou o inédito bicampeonato da Copa do Brasil e um Campeonato Mineiro, dando ao cruzeirense o prazer de voltar a gritar “É campeão!” num torneio mata-mata. Grande sonho da torcida, a Libertadores não veio. No auge do “Manobol“, em 2018, uma atuação vergonhosa da arbitragem nos dois confrontos das quartas de final acabaram com o sonho celeste.

Em 2019, mais um estadual conquistado e mais uma semifinal de Copa do Brasil, de onde o Cruzeiro saiu derrotado por 1 a 0, em casa, no jogo de ida, que causou o pedido de demissão de Mano. Na Libertadores, mais uma vez, o time celeste ficou pelo caminho. Após dois 0 a 0 desinspirados, uma derrota nos pênaltis, para o River Plate, nas oitavas. Sendo assim, tudo isso aliado ao péssimo desempenho no Brasileirão, culminaram, portanto na saída do treinador.

Análise: o fim da era Mano no Cruzeiro

Mano Menezes foi bicampeão da Copa do Brasil, pelo Cruzeiro – Crédito da foto: Vinnícius Silva/Cruzeiro

Convicções

Apesar dos gritos de burro e xingamentos no estádio, ontem (7), o cruzeirense é muito grato a Mano Menezes. As críticas eram inevitáveis e ele sabe bem disso. E as portas do clube seguem abertas para aquele que trouxe de volta a alma aguerrida, copeira e raçuda de volta ao Cruzeiro.

E agora, treinador pode aproveitar o tempo para rever algumas convicções e melhorar como profissional. Mano Menezes sempre deixou claro seu estilo e que não abria mão deste, que não iria mudar. Mas nada na vida é assim. É preciso se adaptar, adquirir repertório. E isso que faltou para o Cruzeiro de Mano ser ainda mais vencedor.

Reação da torcida com o adeus de Mano Menezes

Após o anúncio da queda de Mano, torcedores foram as redes sociais comentar o assunto. Veja algumas das opiniões:

No mais, fica ao treinador o muito obrigado e o até logo, da torcida celeste.

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