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Carolina de Jesus, uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil

30/12/2019 às 11:00
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Carolina de Jesus é um dos nomes mais importantes e também mais esquecidos da literatura brasileira. Uma mulher negra, pobre, favelada que presenteou a nossa literatura com sentimentos, emoções e desejos que ela registrou em pedaços de papéis.

Em uma sociedade altamente desigual, e que deixa de lado os pobres, negros e indígenas, Carolina encontrou uma forma de luta para levantar a voz, a voz de uma mulher negra e forte: papel e caneta. Suas obras foram traduzidas para várias línguas, como o alemão, o espanhol e o francês.

Carolina Maria de Jesus, nasceu na cidade de Sacramento, Minas Gerais, em 14 de março de 1914, mas mudou-se para a cidade de São Paulo em 1947, mesmo período em que começavam a surgir as primeiras favelas na cidade. Viveu boa parte da sua vida na extinta favela do Canindé, zona norte da capital paulista, e mesmo com pouco estudo ela registrou o seu cotidiano e o da favela onde morava em cadernos que encontrava no material que recolhia nas ruas.

Ela escreveu livros e diários com relatos emocionantes sobre a desigualdade social e o preconceito racial: “eu digo que a favela é o despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos como madeira velha.” Frases como essa foram descobertas no final da década de 1950 pelo jornalista brasileiro Audálio Dantas.

O jornalista se interessou pela escritora e seus escritos, então, em 1959, trabalhando na revista “O Cruzeiro”, o jornalista publicou trechos escritos por Carolina. Posteriormente, nascia o livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”, publicado em 1960 e traduzido para de treze idiomas e vendido em mais de 40 países.

Quarto de despejo é um livro atemporal, mostra problemas ainda existentes no Brasil nos dias atuais. Em 1961, publicou seu segundo livro, intitulado “Casa de Alvenaria”. Em 1963 ela publicou “Pedaços de fome”, seu único romance, que teve pouco retorno e, posteriormente, lançou “Provérbios”.

Com seus discursos Carolina não agradou a elite política da época, então acabou caindo no esquecimento e viveu de forma muito humilde até os últimos momentos de sua vida. Ela era mãe de três filhos e morreu em 13 de fevereiro de 1977, aos 62 anos. Algumas de suas obras foram publicadas após sua morte, das quais a mais significativa é “Diário de Bitita”, que contém suas memórias de infância e juventude na cidade Sacramento, Minas Gerais, até o momento em que vai para São Paulo.

Seu nome faz parte da literatura brasileira, literatura feminina e literatura de mulheres negras brasileiras. Hoje é estudado em várias partes do mundo, mas ainda encontra barreiras dentro do nosso país. Num país sem memória, o nome Carolina Maria de Jesus cai no esquecimento a cada dia que passa.

Se você não conhece, procure conhecê-la. Busque suas obras. Valorize seus escritos carregados de sentimentos.

“… Eu classifico São Paulo assim: O Palácio é a sala de visita. A Prefeitura é a sala de jantar e a cidade é o jardim. E a favela é o quintal onde jogam os lixos.” (Quarto de despejo: diário de uma favelada, Carolinna Maria de Jesus, 10ª edição, editora Ática, página 32).

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