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Casa Thomas Jefferson recebe Ars Nova – Coral da UFMG

26/09/2018 às 11:08
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5 min

Dando sequência na programação cultural gratuita, a Casa Thomas Jefferson recebe no dia 5 de outubro, às 20h, o Ars Nova – Coral da UFMG que apresentará algumas obras que foram trabalhadas ao longo de 2018. O foco do grupo neste ano é a música composta no século XX, além de divulgar não só os compositores brasileiros, mas também novos repertórios de compositores internacionais, com ênfase em obras ainda consideradas inéditas em território brasileiro. Esta é uma maneira de incentivar a produção de novas obras para coral, além de garantir que cantores e público pratiquem e escutem a música de nosso tempo, com suas idiossincrasias, seus contrastes e suas coerências e incoerências.

O repertório está dividido em três blocos e, no primeiro bloco, o Ars Nova explora a textura de coro acompanhado por piano, abrindo o concerto com os  Three Madrigals, da compositora norte americana Emma Lou Diemer (1927). As canções trazem 3 poemas de William Shakespeare, cada um deles explorado de maneira diferente: harmonias transparentes em “Oh Mistress Mine, Where Are You Roaming?“, harmonias pesadas em “Take, Oh Take Those Lips Away” e rápidas provocações ao piano em “Sigh No More Ladies, Sigh No More!“.

Hymne au Soleil é a próxima obra, composta por Lili Boulanger (1893-1918) ainda hoje considerada como uma das compositoras mais habilidosas na França do início do século XX. Em 1913 Boulanger tornou-se a primeira mulher a ganhar o Prix de Rome. Acometida por graves problemas de saúde desde jovem, após um surto de pneumonia, faleceu aos 24 anos. Sua obra é caracterizada por um alto nível de habilidade, complexo senso de harmonia e cuidadoso manuseio de textos. Composta em 1912, Hymne au Soleil descreve um cenário evocativo de um despertar do sol, baseado no poema de Casimir Delavigne (1793-1843).

O primeiro bloco encerra-se com a trilogia Remembrances of  Love, do compositor estadunidense James McCray (1938). Os poemas “Come to me”, de Christina Rossetti (1830-1894), “Music when soft voices die”, de Percy Byshee Shelley (1792-1822) e “Remember me”, também de Christina Rossetti – musicados por McCray nesta trilogia –  falam de esperança, saudade e amor.

O segundo bloco explora a textura a cappella, ou seja, sem acompanhamento do coro. O Ars Nova abre o bloco com a obra My Flight for Heaven, do compositor estadunidense Blake R. Henson (1983), com texto do poeta inglês Robert Herrick (1591-1674). Esta obra é profundamente comovente e fala sobre a busca de conforto no abraço da morte como saída para uma nova vida sem dor, sofrimento, guerra ou fome.

Em seguida, o Ars Nova celebra o centenário de morte de Claude Debussy (1862-1918), com as Trois Chansons, de Charles D’Orleans (1394-1465). Estas foram as únicas canções escritas por Debussy para a formação a cappella. Só por essa razão, essas canções são valiosas quando se trata de estudar e compreender a obra do compositor. A primeira canção “Dieu! Qu’il la fait bon regarder” é fluente, flexível e límpida, com uma qualidade instrumental inquestionável! A segunda canção, “Quand j’ai ouy le tambourin”, possui uma clara influência da música espanhola. Vozes masculinas “executam” o pandeiro – tambourim – em lá-lá-lá e fazem uma cama harmônica para o solo de mezzo soprano. O ciclo de três canções se encerra com “Yver, vous n’estes qu’un villain”, uma explosão irada contra o Inverno, o qual o poeta chama de vilão! A primeira e terceira canções datam de 1898 e a segunda de 1908, ano em que a coleção foi publicada.

No terceiro e último bloco deste programa o Ars Nova faz uma homenagem a dois compositores brasileiros. O compositor e fundador do Ars Nova-Coral da UFMG, Carlos Alberto Pinto Fonseca (1933-2006), compôs um vasto acervo de peças para coro, instrumentos solistas, canto e piano, e escreveu inúmeros arranjos de peças do folclore popular brasileiro. O Ars Nova reuniu Três Pontos de Umbanda escritos pelo compositor em uma série inédita. Nestas três obras, “Ponto de Oxum-Iemanjá”, “Ponto de São Jorge-Ogum Guerreiro” e “Ponto Máximo de Xangô”, o compositor explora o sincretismo religioso, valoriza o aspecto rítmico, inclusive com as vozes imitando tambores e propõe melodias com um forte sentimento lírico.

O Concerto se encerra com Cancioneiro de Lampião, 3 Corais Brasileiros para coro misto a cappella, opus 52, do pernambucano Marlos Nobre (1939), uma trilogia escrita em 1980, com cantigas baseadas no folclore nordestino, atribuídas ao famoso cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião (1898-1938). “Muié Rendera”, “É Lamp, É Lamp, É Lamp”, e “Cantigas de Lampião” fazem parte desta trilogia. Na escolha desta obra, descobrimos uma curiosidade! Em 2018, nós celebramos os 120 de nascimento e 80 anos de morte de Lampião.

SOBRE O ARS NOVA – CORAL DA UFMG

Desde 2016, quando passou a ser regido pelo maestro Lincoln Andrade, o Ars Nova tem buscado ampliar a área de atuação do coral e divulgar não só os compositores brasileiros, mas também novos repertórios de compositores internacionais, com ênfase em obras ainda consideradas inéditas em território brasileiro.

É uma maneira de incentivar a produção de novas obras para coral, além de garantir que cantores e público pratiquem e escutem a música de nosso tempo, com suas idiossincrasias, seus contrastes e suas coerências e incoerências, mas acima de tudo, com o registro de uma leitura atual do movimento coral mundial.

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Última atualização em 19/08/2022 às 10:37