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Até em casos explícitos de preconceito nosso racismo é escancarado

16/02/2022 às 23:43
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O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe  foi espancado até a morte depois de cobrar por duas diárias de trabalho não pagas em um quiosque na Barra da Tijuca (RJ)
O congolês Moïse Mugenyi Kabagambe foi espancado até a morte depois de cobrar por duas diárias de trabalho não pagas em um quiosque na Barra da Tijuca (RJ)

Depois de merecidas férias estou de volta com a nossa coluna quinzenal e o Brasil, que não é para amadores, não nos deixa nem descansar direito.

Em meio a tantas tragédias, uma me chamou muito a atenção: a diferença de repercussão midiática entre crimes cometidos a brancos e negros.

Não entendeu? Vou explicar.

No dia 24 de janeiro do presente ano o congolês Moïse Kabagambe foi assassinado de maneira brutal na orla da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os responsáveis, homens brancos, espancaram o jovem até a morte por cobrar diárias não pagas do quiosque que um dos agressores era dono.

Já na data de 07 de fevereiro de 2022 o youtuber Bruno Aiub, conhecido como Monark, no programa Flow, defendeu a existência de um partido nazista no Brasil, sendo apoiado pelo deputado federal Kim Kataguiri (Podemos/SP) em seu raciocínio. 

Sem dúvida que ambas as situações configuram crimes, mas por que o segundo caso teve mais repercussão que o primeiro? Será que o assassinato à sangue frio de um africano merecia menos holofotes que a apologia ao nazismo?

A verdade dói, mas ainda assim é a verdade. O motivo para esta situação ainda ocorrer no Brasil é por conta de nosso racismo estrutural, onde a vida de um negro vale menos que as agressões verbais de um branco.

Não há dúvida que apologia ao nazismo é um enorme delito e que os responsáveis devem ser processados e condenados, mas isso precisa valer para todos os crimes, quem não se lembra do filho de um rico empresário branco que matou um ciclista nas ruas do Rio de Janeiro e não viu as cores da cadeia até hoje?

Precisamos colocar o dedo nessa ferida, todo aquele que infringe a lei deve ser tratado por igual, bem como todas as vidas devem importar, o assassinato de Moïse configura um crime que demonstra preconceito de classe, racismo e xenofobia, ou alguém acha que se ele fosse um carioca branco de classe média isso iria acontecer?

Não podemos mais tolerar tanta diferença de tratamento das nossas mídias quando comparamos meros tons de pele, somos iguais, todas as vidas importam e as grandes mídias precisam dar o mesmo destaque a todas, enquanto isso não acontecer, mais episódios trágicos como esse irão se repetir.

Última atualização em 19/08/2022 às 05:13