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Cruzeiro na berlinda – parte II: o problema não é de agora

28/05/2019 às 09:54
Tempo de leitura
6 min

Apesar da bomba ter estourado só agora, com veiculação de matéria que aponta inúmeras irregularidades na administração do Cruzeiro, os problemas do clube não foram criados exclusivamente pela gestão atual. O crescimento da dívida do clube, não pagamento de atletas e negociações no mínimo estranhas vem também da diretoria anterior.

Com 500 milhões em dívidas e vários processos acumulados na FIFA, o Cruzeiro vive o pior momento financeiro da sua história. E a matéria veiculada no domingo (28), pelo Fantástico, serviu para esquentar ainda mais a panela de pressão em que vive o clube. Vindo de maus resultados em campo e fora dele, o clube celeste precisará de muito fôlego para superar o momento. A diretoria inclusive convocou uma entrevista coletiva para a tarde desta segunda-feira (27), para falar das acusações.

Mas apesar das irregularidades terem vindo à tona, de fato, só agora, não se pode esquecer que a cova azul vem sendo cavada há muito tempo. Os problemas são diferentes, tanto que na matéria do Fantástico, mal se cita as dívidas cruzeirenses, mas a situação do clube preocupa em várias frentes.

Gestão Gilvan

A gestão Gilvan de Pinho Tavares, que antecedeu a atual, trouxe bons frutos dentro de campo (dois títulos Brasileiros e um da Copa do Brasil). Mas, fora das quatro linhas a situação se deteriorou. A dívida do clube aumentou exponencialmente e algumas contratações no mínimo estranhas colocaram uma pulga atrás da orelha do torcedor.

Caso Latorre

A situação que mais indigna o torcedor é o caso de Gonzalo Latorre. O atacante uruguaio veio para o Cruzeiro como venda casada, juntamente com o meia Giorgian de Arrascaeta. Na época, o antigo camisa 10 celeste veio por um valor próximo aos R$ 12 milhões. Até aí tudo bem. O meia era, no momento, um dos principais jogadores de seu país e tinha levado o modesto Defensor, seu ex-clube, às semifinais da Libertadores da América. Sendo assim, um investimento válido.

Já Latorre veio quase sem mídia. Inicialmente contratado para atuar nas categorias de base, o ex-atleta do Atenas do Uruguai chegou ao clube sem valor divulgado. Era de consenso geral que este havia chegado de graça. Passou o tempo e o atleta não se adaptou. Reserva no sub-20, reserva quando foi emprestado à um time da terceira divisão italiana. Reserva nos aspirantes do Cruzeiro. Enfim, o jogador inicialmente contratado para a base, mas que recebia salário de profissional, mostrou não ter condição mínima de vestir a camisa celeste.

O uruguaio passou então de um jogador esquecido a uma dor de cabeça das grandes. Sem aceitar rescindir o contrato ou ser emprestado, o atacante foi até a imprensa reclamar do clube e acabou criando caso. Mas o pior estava por vir. Nesse período, o Cruzeiro foi acionado na FIFA por uma dívida milionária referente ao jogador que sequer havia vestido o a camisa celeste.

A diretoria atual bateu o pé e disse que não ia pagar. Que o caso parecia lavagem de dinheiro. Mas nesse ano não foi possível. Correndo risco de perder pontos se não quitasse a dívida até 15 de maio atual, o Cruzeiro foi lá e pagou. R$ 18,5 milhões. R$ 6,5 milhões a mais no que se pagou em Arrascaeta, jogador que se tornou a maior transferência da história do futebol Brasileiro. Latorre, da segunda divisão uruguaia, sem um jogo pelo Cruzeiro, custou mais que o ex-craque do clube e camisa 10 da Seleção do Uruguai. A tranferência do ex-jogador do Atlas, inacreditavelmente, se tornou a mais cara da história do clube. Até hoje, não se sabe porque.

Cruzeiro na berlinda - parte II: o problema não é de agora

O valor pago pelo Cruzeiro por Latorre colocou a negociação como a mais alta da história do clube. Um absurdo – Crédito da foto: Cruzeiro/ Divulgação

Caso Careca

Outro caso bizarro é o de Raianderson Careca. O jogador foi contratado em meados de 2017 após se destacar na Série, não você não leu errado, na Série D, com a camisa do Atlético do Acre. Oportunidade de negócio? Promessa? Não. Careca realmente é um jogador jovem, com 21 anos a época da contratação. Mas apesar de novo, essa idade já é considerada alta para uma aposta dessa estirpe.

O jogador jamais tinha se destacado, jamais tinha atuado por um time grande. Na verdade, jamais jogou fora do Acre. Mas aí você se pergunta: vindo de graça, que mal tem em apostar? E  a questão está aí. Careca não veio de graça. Gilvan de Pinho concordou em pagar R$ 400 mil reais pelo empréstimo de um ano, isso mesmo, empréstimo, de um jogador do Atlético do Acre. Para se ter uma ideia, esse ano, o Cruzeiro pagou R$ 850 mil pelo empréstimo do lateral Dodô. O ala esquerda que já atuou por Corinthians, Inter de Milão, Roma e que na última temporada foi um dos melhores jogadores da posição no país atuando pelo Santos. A proporção assusta. E para constar, careca foi mais um que não jogou uma partida sequer no clube.

Outras dívidas do Cruzeiro

Durante o mandato de Gilvan inúmeras dívidas surgiram. Rafael Sóbis com o Tigres, Ramón Ábila (que bizarramente foi vendido posteriormente para pagar a si mesmo), Ezequiel e seu irmão em mais uma venda casada, vindos do Criciúma, Duvier Riascos, Luis Caicedo, (que posteriormente sairia de graça do clube, simbolizando um prejuízo de mais de R$ 10 milhões) entre outros.

Justificativas

Sempre que questionada pela mídia, a atual diretoria cruzeirense credita os problemas à diretoria anterior. Mesmo que a gestão Gilvan realmente tenha muita culpa no cartório, esse não é o caminho. Um trabalho bem feito, como o realizado no Grêmio, por exemplo, seria suficiente para diminuir as dívidas. O aumento destas passa a impressão de apenas a continuidade de um trabalho ruim.

Política mais eficaz no Cruzeiro

Mas parece evidente que a diretoria anterior do Cruzeiro tem que ser investigada tal qual a atual. Milhões de premiação por competições, vendas de atletas e bilheteria simplesmente deram lugar à um rombo financeiro enorme. Isso não pode ser considerado normal. Mas infelizmente essa é a tônica do futebol brasileiro. Mandatários saem dos times e somem no mundo deixando os clubes à deriva. Políticas como a atual do Flamengo, onde dirigentes arcam do próprio bolso com qualquer prejuízo que deem ao clube, tem de ser adotadas imediatamente. “Cartolas” vem e vão, mas a camisa e o torcedor ficam.

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