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A Rota do Café Especial, em Carmo de Minas

18/08/2019 às 17:27
Tempo de leitura
10 min

Não tem como pensar na Serra da Mantiqueira sem considerar o “terroir” tão especial desta região. O ar frio, a altitude e a água oferecem condições perfeitas para a produção de uma vasta gama de produtos e gêneros que a gente só vai conseguir por lá: leite, queijo, azeite… este também é, sem sombra de dúvidas, o caso do café.

Várias outras regiões no Brasil produzem café, mas nós sabemos muito bem da qualidade e fama dos cafés da região Sul de Minas e aqui falamos especialmente do premiado café produzido nas fazendas do Grupo Sertão, em Carmo de Minas. A Fazenda Santa Inês (Grupo Sertão / Unique Cafés) possui o recorde mundial em pontuação com 95.85 pts em uma escala de 0 a 100 no concorrido concurso “Cup of Excellence”, obtido no ano de 2005. (Fonte: Site Unique Cafés)

Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

A família que há gerações toca as fazendas do grupo criou a marca Unique Cafés. A ideia é levar o grão à xícara, aproximando-se do consumidor final, que hoje pode provar de todos os grãos produzidos na charmosa Unique Cafés Store, que fica no calçadão de São Lourenço. Além disso o grupo criou também uma empresa específica para gerir passeios nas fazendas. Mais do que colocar o grão na xícara e oferecer ao consumidor final, a família mostra as suas terras e detalhes do processo de produção. A gente escuta a história, caminha pelos cafezais, observa toda a vasta área da Fazenda e pode até tocar e comer do grão que a gente mesmo tira do pé.

Gabriele (nossa guia) colhendo o grão na hora para a gente provar – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

O grupo possui várias fazendas, mas o passeio é feito na Fazenda Sertão, uma fazenda centenária reconhecida há mais de 10 anos por produzir “o melhor café do mundo”. Para agendar é muito fácil: o site é excelente, bonito e super intuitivo, a reserva é feita pelo site mesmo.

Há várias possibilidades de passeio, desde uma rota indoor, para dias de chuva, por exemplo, feito por vídeo; até experiências mais completas que podem incluir um passeio de balão panorâmico pelas fazendas, um roteiro a cavalo pela região ou ainda cursos e treinamentos mais específicos para potenciais baristas que queiram aprofundar no mundo do café. Nós fizemos o passeio mais tradicional, “Do Pé à Xícara”, um roteiro guiado que inclui passeio pelas lavouras de café e pela casa sede da fazenda histórica (o Museu do Café), degustação e visita à Cafeteria Unique em São Lourenço (Custo em agosto/2019: R$ 130,00 por pessoa).

Pausa na “casa da árvore”: vista linda da Fazenda – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

Nós optamos por fazer o passeio só nós dois, porque estávamos em baixa temporada e dia de semana. Pagamos R$ 170,00 cada um, mas como já tem um tempinho este valor pode ter sido atualizado. 

A guia Gabriele nos acompanhou em nosso próprio carro, combinamos um ponto de encontro em Carmo de Minas e de lá partimos para a Fazenda Sertão.

A primeira parada foi no Mirante da Cachoeira de Canaã, já no interior da fazenda. Lá temos bela vista da cachoeira e das plantações e Gabriele introduz as explicações sobre o cultivo, técnicas de colheita, poda, manejo do solo, etc. Ela nos mostrou os grãos e sugeriu que experimentássemos, foi a primeira vez na vida que provamos do café ainda no grão. É docinho, gostoso! A variedade era de um Bourbon Amarelo, sim, de cor amarela e com bastante acidez (uma característica agradável de muitos cafés – foi um café dessa variedade que ganhou o pontuação recorde no Cup of Excellence, em 2005).

Há muitas variedades e tipos de café, vários deles cultivados na Fazenda Sertão, e Gabriele ia nos explicando as características básicas de cada um. O Frutado, vermelho e mais doce, com pouca acidez; o Moca, de grão único, ao contrário do usual, o que acaba influenciando seu processo de torra e dando um caráter mais doce e achocolatado; os grãos hipermaduros, que colhidos seletivamente conferem dulçor e intensidade. Um deleite para amantes de café e curiosos!

Depois seguimos para a Casa da Árvore de onde temos vista privilegiada da lavoura Santa Inês, a que produziu o famoso café premiado. Lá Gabriele nos contou uma história linda: a fazenda Sertão está em sua quarta geração. Os mais jovens foram se aprimorar e estudaram no exterior e claramente trouxeram muito saber e inovações para o cultivo. Contudo a matriarca Nazareth Dias Pereira, conhecida por “vovó”, pediu aos netos que preservassem nos moldes originais a lavoura Santa Inês, pois esta foi a primeira plantada por seu marido, já falecido. Atendendo a seu pedido os pés de café foram preservados tal como plantados por volta de 1907. Vocês acreditam que a amostra do café enviada ao concurso “Cup of Excelence” no ano em que obteve a maior nota foi justamente da lavoura da “vovó”? Pois é minha gente, com amor e “vovós” não se brinca não.

A famosa “lavoura da vovó”, de onde saiu o café campeão – Crédito da foto: Vanessa Barreto/Mais Minas

O café premiado da “vovó” foi tão celebrado que seu valor de venda foi 60 vezes o habitual, na época da premiação (2005) cada saca foi vendida a R$ 15 mil reais. Somente 22 sacas foram produzidas.

O último ponto do passeio é a sede da centenária Fazenda Sertão (Museu do Café), onde podemos ver muitas notícias sobre a família, os cafés produzidos e ver alguns cômodos do jeitinho como eram, com objetos pessoais e mobília preservados. O quarto da vovó está lá! Gabriele diz que o dono da fazenda (da terceira geração) atualmente não morá lá mas eventualmente pode-se encontrá-lo em visitas a trabalho. Ele ficou bem famoso com várias publicações em revista à época da premiação no “Cup of Excellence”.

Sede da Fazenda – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

Quarto da matriarca, a “vovó”, exatamente como deixado por ela – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

É incrível testemunhar a história destas pessoas e destes locais. A Mantiqueira é um lugar difícil, quase inóspito, e que por séculos se manteve fechada entre suas cadeias montanhosas. Hoje se abre ao mundo exibindo com todo o aprimoramento que novas gerações trouxeram aquilo que produz de qualidade há já muito tempo. Depois da Fazenda Sertão, inúmeras outras fazendas de cidades do sul de Minas, incluindo a própria Carmo de Minas, Cristina, Pedralva, Marmelópolis, para citar só algumas, vieram a ganhar prêmios de reconhecimento mundial com sua produção de café.

Como todo mineiro sabe, a gente sempre recebe alguém em casa é na cozinha e é justamente na cozinha da Fazenda que se encerra o passeio: lá podemos provar dos cafés produzidos pela fazenda, acompanhado de pão de queijo e broa de fubá. A ideia original dessa parte da visita é fazer uma comparação do café especial, produzido pelo Grupo Sertão, com um café mais comercial, como os que compramos em supermercado (Gabriele nos informou que os produtores chamam de “café combate”) – mas essa parte a gente pulou, a gente só queria coisa boa, hehe.

Aquele momento delicioso: hora de provar o café – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

De lá a gente vai a São Lourenço conhecer a Cafeteria Unique, onde é possível comprar dos cafés e outros produtos como bolsas, camisas, copos térmicos, etc. O ambiente é muito bonito e o atendimento é especial: a gente percebe o cuidado com a educação e informação. Os funcionários sabem muito dos cafés estão prontos para sanar todas as dúvidas dos clientes e auxiliar nas escolhas.

Loja da Unique Cafés, em São Lourenço – Crédito da foto: Vanessa Barreto/O Queijo vai na Mala

Nós, que somos mineiros orgulhosos, voltamos desse passeio AINDA MAIS orgulhosos. Saber que o melhor café do mundo é mineiro é demais pro nosso coração não? É muito bonito ver como a família e todos os funcionários se orgulham desta história e é incrível que hoje ela esteja aberta para quem quiser se aventurar pelas terras da Fazenda Sertão. O melhor café do mundo é nosso, é brasileiro, é mineiro, é da Mantiqueira. 

*Nosso agradecimento à guia Gabriele que foi super simpática e nos permitiu viver uma experiência tão incrível como esta.

DICAS:

Para fazer o passeio é possível hospedar-se tanto em Carmo de Minas como em São Lourenço ou Cristina. Destas três opções, São Lourenço é a cidade que tem mais atrativos e muito provavelmente a maior rede hoteleira.

As reservas são feitas diretamente pelo site. Em caso de dúvidas chame-os no chat, eles respondem muito rápido.

Nós fizemos o passeio “Do pé à xícara”. Ele tem duração média de 03 horas. A maior parte do passeio é feito ao ar livre, então protetor solar, chapéu e água é essencial. Calçados confortáveis para andar pelas lavouras também são indicados.

O pagamento é feito ao final, no escritório da Rota do Café Especial, que fica em cima da Cafeteria Unique, em São Lourenço. Aceitam cartão de crédito.

Para pagar os valores indicados no site é preciso ter um grupo já previsto para saída, o que acontece aos finais de semana, quando mais turistas procuram o passeio. Contudo se quiser fazer o passeio em dia de semana e estiver disposto a pagar um pouco mais é possível agendar um passeio personalizado, como foi o nosso caso. Neste caso não há van, e o guia acompanha o cliente em seu próprio carro.

Para chegar à Fazenda pegamos um trecho de estrada de terra e obviamente lá dentro circulamos também em estradas assim. Gabriele já nos alertou para isto, considerando que fomos com nosso próprio carro. Mas é bem tranquilo, não tem nenhum trecho de perrengue!

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