30 anos sem Raul Seixas: o Pai do Rock Brasileiro deixou seu legado

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Nascido em Salvador, na Bahia, Raul Santos Seixas é um dos maiores ícones (se não, o maior) da história do rock brasileiro. Além de pioneiro do estilo no país, Raul foi produtor musical da CBS, além de multi-instrumentista, cantor e compositor. Têm sua obra composta por 17 discos, somando 956 mil álbuns vendidos, e tendo quatro discos de ouro na conta.
Seu estilo muito curioso chamou à atenção das redes de televisão ao redor do país. Sendo sempre ligado à uma imagem de revolucionário, Raul trouxe voz às questões progressistas de liberdade que reverberam entre adultos e jovens até os dias de hoje. Raul uniu como o rock n’ roll de Elvis Presley até o baião de Luiz Gonzaga, ambos ídolos declarados de Seixas.
Após 30 anos de sua morte, Raul manteve-se nas paradas de sucesso com discos póstumos, como “O Baú do Raul” (1992), “Raul Vivo” (1993), “Se o Rádio não Toca…” (1994) e “Documento” (1998). E sua esposa, Kika, lançou um livro biográfico chamado “O Baú do Raul”, em 2004.  Em 2015, a gravadora Som Livre lançou o DVD e CD “O Baú do Raul – 25 Anos Sem Raul Seixas”, gravado em agosto de 2014 na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, justamente durante o mês em que se completaram 25 anos da morte do cantor. O DVD contou com participações de Jerry Adriani, Nação Zumbi, Baía, Ana Cañas, Forfun, Zeca Baleiro, Marcelo Nova, Marcelo Jeneci, Digão, Tico Santa Cruz, Cachorro Grande, entre outros, além da banda original do músico, Os Panteras.

Além disso tudo, em 2012 lançou-se o filme “Raul – O Início, o Fim e o Meio”, com direção de Walter Carvalho e produção de Denis Feijão. O filme biográfico entra bem afundo da vida pessoal do cantor, contando sobre suas parcerias com Paulo Coelho, e sobre seus casamentos e seus fãs, que continuam mobilizados mesmo após tantos anos de sua morte.

O início

Raul Santos Seixas, nascido em 28 de junho de 1945 numa família de classe média baiana, já tinha atitudes revoltadas desde novo. Foi reprovado na 2.ª série três vezes por ir em lojas de discos ouvir rock n’ roll ao invés de ir às aulas. Aos 14 anos, o menino, que se interessava muito por música, criou uma espécie de clube junto de seus amigos chamado “Elvis Rock Club”, em que tinham atitudes punks, como procurar brigas na rua, fazer arruaça, roubar algumas bugigangas e quebrar vidraças de estabelecimentos.
Com isso os pais de Raul, Raul Varella Seixas e Maria Eugênia dos Santos, matricularam seu filho num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde chegou à 3.ª série em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. O menino nunca teve uma boa relação com o ambiente escolar, tendo seguidas reprovações. Seu estudo foi através da vasta biblioteca de livros literários de seu pai.
Com forte influência de Little Richard, uma banda começou a ser formada nos anos 1960, passando por diversas formações e nomes diferentes, “Os Panteras”, teve sua formação definitiva com Raulzito, Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em 1968, o conjunto lança seu primeiro e único disco intitulado de “Raulzitos e Os Panteras”, tendo fechado contrato com a gravadora “EMI-Odeon”, quando conheceu, ninguém mais e ninguém menos, que Chyco Anísio e Roberto Carlos. Entretanto o disco de estreia da banda não obteve muito sucesso e obteve sérias dificuldades pelo Rio de Janeiro, cidade na qual se mudou para o lançamento de sua carreira com seu conjunto, mas que acabou passando fome.
Em retorno à Bahia, Raul se torna produtor musical da “CBS Music”. Algumas bandas e artistas que trabalhavam com a gravadora, como  Ed Wilson, Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani e Odair José começaram a tocar as músicas compostas por Seixas. Mas, em 1971, o produtor já renomado e conhecido no mundo da música se arriscou a lançar um LP de ópera-rock chamado “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, com a parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star. Todavia o disco não obteve sucesso de público e nem de crítica. O disco foi abandonado até mesmo pela gravadora, cujos executivos não gostaram do resultado final. Assim, não houve investimento em divulgação do trabalho nas rádios e programas musicais da época.

E o meio

Então, em 1972, após insistência de Sérgio Sampaio, Raul Seixas decide participar do Festival Internacional da Canção. Com as composições “Let Me Sing, Let Me Sing”, defendida pelo próprio Raul e “Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo”, defendida por Lena Rios & Os Lobos, Raulzito chegou à final, finalmente tendo sucesso de critica e público. Com isso, a gravadora “Philips” contratou o artista baiano, em que, posteriormente, lançaria seis discos. Na mesma época, ele também se tornou amigo do escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.
Em 1973, Raul lança “Krig-ha, Bandolo!”, em que emplacou seu sucesso “Ouro de Tolo”, uma música quase auto-biográfica. Além dessa, “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa” e “Al Capone” alcançam grande repercussão nacional, graças a divulgação da imagem do cantor como ícone popular. Ainda no mesmo ano, Raulzito lança “Krig-ha, Bandolo!”, mas foi impedido de assinar o disco com seu nome, por medo da gravadora atrapalhar o sucesso do álbum anterior. O LP teve seu lançamento praticamente esquecido pela imprensa, e só alcançou sucesso posteriormente, com o sucesso do artista.

30 anos sem Raul: O Pai do Rock Brasileiro deixou seu legado

Crédito da foto: Reprodução/Facebook


Fato curioso de Raul foi a criação, conjunta com Paulo Coelho, de uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei: a “Sociedade Alternativa”. Em sua sede eram encontrados papel timbrado e relatórios mensais. O lugar chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais para a construção da “Cidade das Estrelas”, onde seria instaurada uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei”. Já conhecido pelos seus fãs, em todos os seus shows, Seixas divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome.
A ditadura militar, então, através do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo. Os exilaram nos Estados Unidos, onde há uma história de um possível encontro entre Raulzito e John Lennon, porém não há nenhuma comprovação de que a história é verdadeira.
Mas, antes do exílio, o disco “Gita” fez tanto sucesso que obrigou a Ditadura à trazê-los de volta para o Brasil. O álbum “Gitarendeu” à Raul um disco de ouro após a venda de 600 mil cópias, sendo considerado o LP de maior sucesso de sua carreira. Em 1975, lança o LP “Novo Aeon”, onde tem um sucesso escrito com Paulo Coelho , “Tente Outra Vez”, entretanto, o novo trabalho vendeu menos de 60 mil cópias.
Em 1976, Raul supera a má-vendagem do último disco com o álbum “Há Dez Mil Anos Atrás”, mas no mesmo ano, se desvincula da gravadora “Philips”. A empresa de lançamentos musicais acabou trapaceando o cantor lançando “Raul Rock Seixas”, antes de Raulzito e seu cunhado, Jay Vaquer, mixá-lo. Isso prejudicou o trabalho de ambos, pois, finalmente, o nome de Jay estava num LP de Raul como produtor, arranjador, e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.
No ano de 1976, Seixas fecha contrato com a gravadora “WEA”, com quem lançou o disco “O Dia Em Que A Terra Parou”. Apesar de não ter agradado muito a crítica, foi um estouro para os fãs ao ouvirem “Maluco Beleza” e  “Sapatão 36”. Entretanto, o final daquela década não foi muito bom para Raul. A partir do ano de 1978, o músico começa a ter problemas de saúde devido ao alcoolismo, lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Neste ano, Raul lança o LP “Mata Virgem”, que conta com a volta de Paulo Coelho, porém ambos chegam a conclusão de que essa parceria já não tinha mais como dar certo. Além disso, a má divulgação atrapalhou as vendas do disco e a crítica também não ajudou.

O fim

30 anos sem Raul: O Pai do Rock Brasileiro deixou seu legado

Crédito da foto: Reprodução/YouTube


Posteriormente, em 1979, Raul se depara com a depressão, além de ser internado para tratar do alcoolismo. Ao mesmo tempo, Raul lança seu último LP com a “WEA”, “Por Quem os Sinos Dobram”, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen e, logo após, rescinde o contrato com a gravadora. Em 1980, Raul retorna à CBS e lança “Abre-te Sésamo”, que contém outros sucessos e têm as faixas “Rock das Aranha” e “Aluga-se” censuradas. Logo depois, há um nova rescisão com a gravadora.
A carreira de Raul vivia uma fase de declínio. Ele se apresentou bêbado em Caieiras, estado de São Paulo, e foi quase linchado pela plateia que não acreditava que era o artista de verdade. Raul Ficou sem gravadora desde 1980. Com depressão, Raulzito se afundou nas drogas. Ele ainda gravou o álbum “Raul Seixas” (1983), pela gravadora “Eldorado”, “Metrô Linha 743” (1984) pela gravadora “Som Livre”, e “Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!” (1987) pela empresa “Copacabana”.
Ainda em 1986, Seixas se aproxima de Marcelo Nova, e contribui na produção do disco “Duplo Sentido”, da banda Camisa de Vênus. Em 1988, Raul lança seu último disco solo: “A Pedra do Gênesis”. Por meio de um convite da Nova, Raul faz alguns shows em Salvador após três anos sem pisar num palco, e no ano seguinte, ele faz uma turnê conjunta com Marcelo, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Mas durante os shows, Raulzito parece bastante debilitado, apresentando somente a segunda metade do show, enquanto na primeira era feita somente pelo seu parceiro.
Raul morreu no dia 21 de agosto de 1989, sendo encontrado em sua cama, por volta das oito horas da manhã em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca. O alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causou-lhe uma pancreatite aguda que acarretou no falecimento do artista. Ainda após a morte, o cantor recebeu um disco de ouro póstumo pelo do LP “A Panela do Diabo”, lançado ainda no mesmo ano pela gravadora “WEA”, acarretando na venda de 150 mil cópias.
Confira um dos seus maiores sucessos ao vivo:

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