Há igrejas que impressionam pelo tamanho e outras pela riqueza de detalhes, mas algumas marcam pela permanência, pela forma como atravessam o tempo sem perder o sentido. Antes mesmo de Ouro Preto ganhar seu nome atual, já havia fé presente em suas ladeiras. O Santuário de Nossa Senhora da Conceição nasceu junto com a cidade, acompanhando cada ciclo, como o do ouro, o do barroco, o da devoção… Conhecer essa igreja é compreender um pedaço essencial da formação cultural e religiosa ouro-pretana e, por que não, mineira.
Foi em 1699, de acordo com a Arquidiocese de Mariana, que tudo começou, com uma pequena capela erguida em devoção à Imaculada Conceição. Era uma época em que a fé mariana guiava não só o espírito das pessoas, mas também a formação das cidades. Em torno da fé, criava-se o espaço, nascia o cotidiano, fundavam-se os vínculos. A paróquia, oficializada não muito tempo depois, logo se tornou centro de uma comunidade em formação.
Mas o que mais impressiona é como a igreja traduz, em sua própria arquitetura, a travessia entre séculos. A partir de 1727, a obra assumiu contornos mais característicos. Primeiro com Manuel Francisco Lisboa, depois com seu filho, “O Aleijadinho”, a construção se transformou em uma síntese sensível do barroco mineiro, com delicadeza em cada curva, densidade simbólica em cada altar. Os relevos, os entalhes e as imagens são pontes entre o visível e o divino.
Dentro da igreja, o silêncio tem textura. Entre os altares laterais, é possível observar os detalhes dourados, a ancestralidade da madeira e da pedra. No fundo, repousam os restos dos que a construíram. Ao lado, o Museu Aleijadinho aprofunda essa experiência. Cada peça exposta são fragmentos de um tempo em que a arte não era apenas expressão, mas linguagem da fé.
Todo mês de dezembro, o Jubileu da Imaculada Conceição renova o sentido daquele lugar. A cidade se enche de passos, velas, cânticos e orações. A imagem da padroeira, em tamanho real, serena e poderosa, chama a atenção do altar como se olhasse de volta para cada fiel que se aproxima de coração aberto. Há quem vá por tradição, quem vá por promessa, e há quem vá apenas para sentir algo difícil de nomear, mas impossível de esquecer.
O Santuário Arquidiocesano da Conceição, título concedido à Matriz em 2005 pelo então então arcebispo de Mariana, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida, após pedidodo pároco cônego Luiz Carlos César Ferreira Carneiro, nunca foi só um monumento, ela é uma presença altiva, mesmo que silenciosa. Fala com quem tem fé e com quem busca pertencimento e acolhimento, oferecendo abrigo no colo da Mãe Imaculada, que é a intercessora, e que é quem nunca deixa de interceder por seus filhos. E talvez seja isso o mais bonito: mesmo diante do tempo que tudo dissolve, ela permanece.
Você sabia que Ouro Preto lidera lista de cidades históricas que impulsionam o turismo cultural no Brasil? Um dos principais pontos turísticos da cidade é a Mina Du Veloso, que integra Guia Nacional do Afroturismo e destaca legado negro em Ouro Preto.
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