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Angelo Oswaldo, Macaé Evaristo e Nilmário Miranda recebem título de Doutor Honoris Causa da UFOP

Cerimônia reúne comunidade acadêmica, guardas de congado e artistas da cultura negra

Rodolpho Bohrer
Angelo Oswaldo, Macaé Evaristo e Nilmário Miranda recebem título de Doutor Honoris Causa da UFOP
Créditos: Flávio Reis/UFOP

A Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) concedeu o título de Doutor Honoris Causa às personalidades Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, Macaé Maria Evaristo dos Santos e Nilmário Miranda. A cerimônia de outorga teve a participação de representantes do Conselho Universitário, familiares, amigos e integrantes da comunidade acadêmica.

A solenidade contou com uma apresentação da Guarda de Moçambique de Ouro Preto, manifestação tradicional que preserva a memória e a ancestralidade afro-brasileira. O artista e referência da cultura de matriz africana em Minas Gerais, Maurício Tizumba, também integrou o momento cultural do evento, que aconteceu na noite de quarta-feira (26).

A outorga do título de Doutor Honoris Causa é a maior honraria acadêmica de uma instituição de ensino superior atribuída a personalidades com trabalhos e contribuições que impactam significativamente a educação, a cultura, a ciência, as artes, a tecnologia e o desenvolvimento social.

Macaé Evaristo é homenageada

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 A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, uma das outorgadas, nasceu em São Gonçalo do Pará (MG) e possui trajetória marcada pela luta antirracista, pela defesa dos direitos humanos e pela atuação em políticas educacionais. Professora e assistente social, já foi secretária de Educação de Minas Gerais e de Belo Horizonte, além de vereadora e deputada estadual. No Ministério da Educação (MEC), esteve à frente de políticas importantes, como as Escolas Indígenas e o sistema de cotas na educação superior.

Macaé Evaristo é homenageada — Crédito: Flávio Reis/UFOP

Em seu discurso, Macaé destacou a relação entre liberdade e educação.

“Estar aqui em Ouro Preto, terra da Inconfidência, me toca profundamente. Dediquei minha vida à educação, porque não há liberdade sem conhecimento. A educação é ponte, é cuidado e é força comunitária. Ela é a principal ferramenta de emancipação”, assinalou.

A ministra reforçou ainda seu compromisso com o combate ao racismo:

“Recebo este título convicta de que sou porque nós somos. Este reconhecimento não é individual, é fruto de uma trajetória coletiva, construída com muitas mãos. Precisamos dar um basta ao racismo que insiste em nos aprisionar. Uma universidade de uma cor só não constrói o Brasil que queremos”.

Sua mãe, dona Maria Antônia Evaristo, de 89 anos, participou emocionada da cerimônia e relembrou sua própria luta por educação. “Eu sempre cobrei muito estudo dos meus filhos. A educação abriu caminhos para mim, e eu queria que abrisse para eles também”. Ela também falou da alegria em ver a filha recebendo a honraria. “Estou muito feliz, emocionada e grata por poder presenciar este momento, que significa muito para a trajetória da Macaé e de toda a nossa família”.

Ângelo Oswaldo

Atual prefeito de Ouro Preto, Ângelo Oswaldo também recebeu o título. Nascido em Belo Horizonte, ele possui longa atuação na vida política e cultural do estado. Foi secretário de Cultura de Minas Gerais, presidente do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Cultura, ministro interino da Cultura e membro da Academia Mineira de Letras.

Ângelo Oswaldo recebe título — Crédito: Flávio Reis/UFOP

Ao receber a outorga, Ângelo resgatou a história da UFOP e o antigo sonho dos inconfidentes de criação de uma universidade em solo ouro-pretano.

“Receber esta distinção da UFOP é uma das maiores honras da minha vida. Sempre estive próximo da Universidade e continuar ao lado dela é um compromisso permanente. Este título reconhece meu trabalho na cultura, área à qual dediquei toda a minha vida”.

Ele também celebrou o fato de dividir a homenagem com Macaé Evaristo e Nilmário Miranda.

“É muito significativo estar ao lado de dois grandes companheiros de jornada. Atuamos juntos no governo de Minas, e o destino nos reúne novamente”.

Nilmário Miranda

Nascido em Teófilo Otoni, Nilmário Miranda foi a terceira personalidade que recebeu a honraria. Ele foi o primeiro ministro dos Direitos Humanos do Brasil, em 2003. Militante político desde a juventude, viveu quatro anos e meio na clandestinidade e três anos e meio preso durante a ditadura civil-militar. Atuou como deputado estadual e federal, presidindo a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e é autor de livros sobre direitos humanos e repressão política no país.

Em seu discurso, Nilmário expressou forte emoção.

“Foi uma grande surpresa. Quando recebi o convite, senti uma onda de emoção. As universidades são tudo para o Brasil, e ser reconhecido pela UFOP significa muito para mim”, revelou.

Ele relembrou ainda figuras marcantes em sua trajetória e refletiu sobre desafios atuais, como as desigualdades de gênero.

“A democracia ainda é desfavorável às mulheres. Precisamos avançar muito mais”.

Nilmário Miranda celebra homenagem — Crédito: Flávio Reis/UFOP

Reconhecimento na cultura, educação e direitos humanos

Durante a cerimônia, a vice-reitora da UFOP, Roberta Fróes, ressaltou o simbolismo de acompanhar a conquista dos títulos honoríficos em um país que ainda enfrenta retrocessos na educação, na cultura e nos direitos humanos.

“Nós estamos saindo de um período muito duro, em que defender educação, cultura e direitos humanos era quase um ato de resistência. Hoje, ver a UFOP valorizando essas áreas é uma resposta importante”.

Roberta ainda destacou a importância das escolhas feitas pela Universidade e reforçou os valores que orientam a concessão do título. “A escolha dos nomes reflete características muito relevantes para a UFOP, especialmente nas áreas da cultura, da educação e dos direitos humanos, que são pautas essenciais da nossa Universidade. Vivemos isso diariamente: a dedicação à educação, que é a própria razão de existir da Instituição, o compromisso com a cultura, já que estamos em um verdadeiro berço cultural, e a defesa dos direitos humanos, cada vez mais atacados no país”, assinalou, acrescentando que “outorgar novamente o título de Doutor Honoris Causa nos traz a alegria de reconhecer e honrar pessoas que nos inspiram e que contribuem de forma significativa para a sociedade”.

O reitor da UFOP, Luciano Campos, agradeceu os homenageados e ressaltou a importância da homenagem concedida.

“Posso garantir que por onde passamos encontramos unanimidade quanto à legitimidade dessas indicações e, por isso, apresentar à sociedade personalidades que se destacam pela contribuição que oferecem à população é também uma forma de prestigiar a educação, o próprio título universitário e de reconhecer pessoas que utilizam o conhecimento em prol do desenvolvimento social. Foi muito emocionante”, afirmou.

Ele também destacou marcos relevantes da história institucional. “A UFOP é um exemplo de resistência e transformação. Somos fruto de duas instituições centenárias, a Escola de Minas e a Escola de Farmácia, que construíram parte importante da história científica e tecnológica do país. Em todos os lugares onde vamos, sempre há alguém com uma memória afetiva ligada à UFOP, e isso nos orgulha imensamente”, concluiu.

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Diretor geral, graduando de jornalismo e redator de cidades e política.