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A história da Capela de Nossa Senhora Auxiliadora dos Calastróis, em Miguel Burnier

A história da Capela de Nossa Senhora Auxiliadora dos Calastróis, em Miguel Burnier
Foto: Reprodução/Site/Prefeitura de Ouro Preto/Acervo do PROPAT

No distrito de Miguel Burnier, em Ouro Preto (MG), existe uma capela que guarda muito mais do que apenas paredes antigas. Ela carrega histórias, também memórias e uma espiritualidade que atravessa os séculos. Estou falando da Capela de Nossa Senhora Auxiliadora dos Calastróis, um tesouro do patrimônio cultural mineiro que todos precisam conhecer, porque apesar de ser tombada e reconhecida por sua importância, ainda enfrenta o esquecimento e os desafios do tempo.

Um nome com muitas camadas

O nome da capela chama atenção e mexe com a curiosidade logo de cara. De acordo com o livro “Marcas Históricas: Miguel Burnier”, organizado por Alenice Baeta e Henrique Piló, o “nome da Igreja foi retirado da mata e do ribeirão que corria ali. A origem do nome é desconhecida, mas uma hipótese é a corruptela do sobrenome espanhol ‘Calastro’.” Fato é que esse nome não está ali por acaso: ele liga a capela à história fundiária da região e ao período colonial.

Já o título “Nossa Senhora Auxiliadora” foi adotado mais tarde, no fim do século XIX, durante uma restauração conduzida por Alice Wigg, esposa do Comendador Carlos Wigg, nome importante na industrialização local. Assim, o nome completo da capela mistura dois momentos históricos: o passado rural e escravocrata e a modernização que chegou com a indústria.

Das origens a São Julião

A primeira capela do local, dedicada a São Julião, foi construída em 1749 e abençoada por Frei Ambrósio. Ela fazia parte da fazenda dos Maciel e era ponto de encontro da vida religiosa do povoado. Mas em 1842, dois eventos mudaram tudo: o assassinato de um padre bem na porta da igreja e os conflitos da Revolução Liberal. A capela foi fechada.

Durante décadas, o lugar ficou abandonado, até que, no final do século XIX, Alice Wigg decidiu restaurá-lo. Uma nova torre foi construída, e em 1903 a capela reabriu, agora dedicada a Nossa Senhora Auxiliadora, sendo elevada a status de sede paroquial em 1918. O mais bonito é que partes da construção original foram preservadas, como o frontão e algumas paredes, numa espécie de diálogo entre o antigo e o novo.

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Um patrimônio com muitas histórias

Mas a capela não está sozinha. Ela faz parte de um conjunto arquitetônico e arqueológico que inclui um adro, um coreto, a casa do vigário e dois cemitérios. Um deles é o Antigo Cemitério de Pessoas Escravizadas, com muros de pedra do século XVIII. Esse espaço é um dos registros mais importantes da memória negra em Minas Gerais e carrega um simbolismo profundo de resistência.

Apesar de todo esse valor, o conjunto só foi tombado em novembro de 2011, a partir de uma solicitação do. Ministério Público Estadual, e ainda assim, continua ameaçado. Em 2023, por exemplo, obras de terraplenagem da Vale S/A chegaram a invadir a área do cemitério escravizado. A intervenção só parou depois da atuação do Ministério Público Federal, que foi pressionado por movimentos sociais e defensores do patrimônio.

Por que é tão importante?

Preservar a Capela de Nossa Senhora Auxiliadora dos Calastróis não é só sobre conservar uma construção antiga. É uma forma de lembrar e respeitar histórias que muitas vezes foram esquecidas, como a das pessoas escravizadas que ali viveram e morreram. É também reconhecer o papel de mulheres como Alice Wigg, que deixaram sua marca na cultura local.

A capela é um símbolo vivo de fé, de luta e de identidade. Cuidar desse espaço é garantir que futuras gerações possam conhecer, e sentir, a complexidade da nossa história, com toda a sua dor, beleza e força.