“Old Town Road” é uma canção do rapper americano Lil Nas X produzida pelo holandês YoungKio com samples (amostragem e reutilização de uma parte de uma gravação de som em outra gravação) do instrumental de “34 Ghosts IV” pelo Nine Inch Nails.
Lil Nas X em “Old Town Road” misturou o country com o rap em uma transgressão estética, indo contra o conservadorismo, machismo, consumismo e apropriação cultural da sociedade branca elitista americana.
Ele não chegou ao ápice do sucesso “apenas” por ser negro e gay, e sim porque diariamente pessoas são impedidas de mostrar seus talentos por causa do racismo e homofobia. O fato de ter conseguido se destacar na mescla de estilos musicais conservadores como o rap e o country é algo admirável, abre muitas portas para que todos que fazem parte de minorias revelem seu talento nesses gêneros. Se trata de representatividade.
Ressaltar a cor da pele e a orientação sexual de alguém que está no mainstream é lembrar as minorias que elas podem ascender no meio de forças contrárias.
Negros e membros da comunidade LGBTQIA+ ou qualquer outra minoria são constantemente boicotados na indústria audiovisual e também na sociedade como um todo.
Mas como a música se tornou popular? @nicemichael (personalidade comediante na plataforma TikTok [aplicativo de mídia para criar e compartilhar vídeos curtos], que ficou conhecida por suas curtas “esquetes” e vlogs de café da manhã que acumulou mais de 1,2 milhão de fãs), gravou um vídeo cômico dançando ao som da música, criando uma nova tendência dentro da plataforma (TikTok), gerando diversos compilados com milhares de vídeos com a tag “#OldTownRoad”, e “#Yeehaw Challenge”, sendo muitos desses vídeos EXTREMAMENTE populares, atraindo o olhar do público externo para a música e sua origem.
Após a música já ter “viralizado”, Lil Nas X assinou um contrato com a Columbia Records, que lhe permitiu distribuir a canção como um single.
No início de 2019 foi lançado um remix da música incluindo Billy Ray Cyrus, que é de gigantesca influência na música country sulista, e Diplo, produtor musical que mistura em seus sets e produções influências de miami bass, dirty south, hip-hop, trap e pop, o que popularizou ainda mais a música.
Em 5 de abril de 2019, essa nova versão da música liderou o ranking global da Billboard, sendo um sucesso ESTRONDOSO.
Essa música simboliza um movimento de contravenção à cultura rural branca norte-americana e à apropriação que a elite branca faz de modo extremamente conservador, fazendo esses elementos da cultura country se tornarem algo “pertencente” a ela, uma crítica à capitalização branca que existe em algo que surgiu das raízes das tradições afro-americanas, o que conversa justamente com o movimento Yee-Haw Agenda.
Espalhando-se em 2018-19, “Yee-Haw Agenda” é uma tendência na cultura popular, especialmente na cultura popular negra, apresentando artistas e celebridades inspirados na cultura country/cowboy em trajes, músicas ou atitudes.
Yee-Haw Agenda também gerou discussões significativas sobre a história esquecida dos cowboys negros, bem como o papel das comunidades negras na pecuária, no histórico oeste americano e na vida rural. Também abriu considerações ponderadas sobre como a estética do vaqueiro pode capacitar grupos marginalizados, como a comunidade LGBTQ negra.
Quando avistamos um negro gay que vem da realidade urbana cantando rap e retomando toda essa estética e a ironizando por conta de sua “gourmetização”, podemos ver o máximo de transgressão no trecho da música: “Chapéu de caubói da Gucci, vestindo um Jeans Wrangler”, mas com certeza não é o que há de mais sofisticado no sucesso, tanto da música, quanto do artista. Lil Nas X é o resultado da abertura das redes sociais e dessa nova realidade da indústria fonográfica para inovações, onde tudo pode começar num pequeno estúdio e acabar no topo do ranking da Billboard, onde a mistura sonora pode soar como crítica e posicionamento, é a chance de ser e fazer o que quiser, contanto que seja legítimo, seja ela a luta contra o machismo, contra a homofobia, contra o racismo, usando o bom humor e uma linguagem leve a favor da causa, uma sutil mensagem de que em plena modernidade não deveria existir mais tantas barreiras em relação a minorias na sociedade, todos poderiam ter a oportunidade de se destacar onde bem quisessem se não existissem diversos estereótipos, como: “isso é coisa de homem”, “isso é coisa de branco”, e quanto mais sucesso essa música faz, mais pessoas esses ideais alcançam.
O promissor artista Lil Nas X disse em Old Town Road o que muitos precisavam falar e o que muitos precisavam ouvir, além disso, cheio de carisma e talento, o céu é o limite para o rapper dentro ou fora das paradas Country da Billboard!