Na última quinta-feira (16), Mariana completou 324 anos, mas para muitos não há muito a que comemorar. Esse é o caso dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, que aconteceu há quase cinco anos, e que ainda precisam reivindicar indenizações por parte da Renova, empresa responsável pela reparação dos danos causados pela Samarco. Com isso, no dia de aniversário da cidade, foram vistos diversas faixas espalhadas em pontos da cidade contra a mineradora, responsável pelo maior crime ambiental do país e de 19 óbitos.
“Ninguém pediu para ser atingido”, “queremos justiça do lados dos atingidos e não do lado das empresas”, “Mariana nasceu do garimpo e hoje os garimpeiros não podem garimpar”, e “Se a Vale pode Minerar por que o garimpeiro não pode garimpar” foram algumas das faixas colocadas em pontos estratégicos em protesto a Vale e Samarco.
Além disso, uma das faixas lembrou a situação da Covid-19 na cidade. “Renova está contaminando Mariana de novo, primeiro o rejeito agora o coronavírus”. Isso porque a Primaz de Minas já soma um número alto de contaminações pela doença, sendo 777 casos confirmados e nove óbitos pelo vírus, segundo o Boletim Epidemiológico da Prefeitura Municipal divulgado na última quinta-feira. É inevitável associar esse registro alto de infecções com as atividades de mineração no município.
Em maio, quando Mariana registrava 75 confirmações da Covid-19, 26 eram de funcionários que trabalham para a Vale, Fundação Renova ou empresas terceirizadas que atuam na cidade. Além disso, se compararmos a Primaz de Minas com Itabirito, onde também há atividade mineradora, ambos tem mais de 700 casos confirmados, sendo a primeira com 775 e a segunda com 745 infecções. Porém, comparando com Conselheiro Lafaiete, por exemplo, onde não há mineração, há 223 confirmações.
Veja registros das faixas em protesto
Indenizações na Justiça Britânica
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior (PPS), anunciou nessa segunda-feira (13), em coletiva de imprensa, que irá para a Inglaterra para participar de uma nova audiência da chamada “Ação Mariana”, que é um processo jurídico internacional contra a BHP Billiton, umas das controladoras da mineradora Samarco à época do rompimento da Barragem de Fundão, em 2015, além da própria multinacional brasileira Vale. Mariana, juntamente com outras dezenas de municípios atingidos direta ou indiretamente pela lama, além de centenas de empresas, é parte interessada no processo, que busca, na Justiça britânica, indenizações e recursos oriundos da exploração mineral. Só de Cfem, segundo o prefeito, o valor acumulado que não foi repassado a Mariana já se acumula em torno de R$ 200 milhões. O prefeito alega que o repasse foi suspenso por causa da iniciativa da prefeitura em participar da ação internacional. Ainda segundo o chefe do executivo municipal, a participação de Mariana desagradou, por exemplo, a Fundação Renova e outros órgãos, sem citar quais são. Esse é atualmente o maior processo do Reino Unido em número de vítimas e o segundo maior em relação a valores financeiros.