Atlético, o time de reis

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É muito comum ver um fã de futebol das antigas falar “esse fulano aí não jogou um terço do que o ‘Chiquinho das Patolinhas’ em 1900 e cacetada”. É uma prática um pouco injusta se for pensar melhor, porque não tem muito material documentado para avaliar, mas eu, esperto que sou, ouço a voz da experiência e confio na linda imaginação dos mais velhos. Ainda bem que 2021 está sendo todo registrado através de imagens ou o atleticano não conseguiria contar para as gerações futuras o que ele está vivendo agora. Nesse último domingo, 28 de novembro, no Mineirão, o torcedor alvinegro soltou o grito, fez a festa, o time celebrou no gramado, após vencer de virada o Fluminense por 2 a 1, com mais uma atuação de super herói do Incrível Hulk, que marcou dois gols e deu a vitória para o Atlético.

Inclusive, a partir do segundo gol iniciou um clima diferente do jogo na transmissão. Isso porque Hulk foi até à beira do gramado e ergueu o punho cerrado, olhando de forma fixa para um lugar específico na arquibancada, era uma homenagem a nada mais e nada menos que o Rei, o maior ídolo da história do Atlético. Ali, naquele momento, todos já começaram a soluçar e perto do final do jogo, ao som de “Vou Festejar”, de Beth Carvalho, as lágrimas nos olhos eram inevitáveis. Um mar de homens e mulheres chorando, entre eles estava Reinaldo, que também não se conteve e chorou.

Atlético, o time de reis
Foto: Redes sociais / Pedro Souza/Atlético

O choro que muitas vezes foi de tristeza e revolta, ontem, foi de alegria. O Rei foi lembrado e abraçado pelos quase 60 mil atleticanos que estavam no Mineirão. O que foi tirado do maior camisa 9 que o atleticano já viu está sendo entregue a ele, mesmo que na arquibancada (deem a taça para o Reinaldo fazer a volta olímpica pelo amor de Deus!). O “Vou Festejar”, cantado em 2006, porque o Atlético era campeão da Segunda Divisão, será esbravejado durante a semana inteira pela Massa por ser campeão brasileiro, após 50 anos. O que se presencia em 2021 não é só um título, mas uma reparação histórica a um torcedor que ficou cinco décadas amargurado, com um rancor que não cabia no peito.

Esse título, portanto é de João Leite, Alves, Márcio, Vantuir, Valdemir, Toninho Cerezo, Ângelo, Marcelo Oliveira, Serginho, Caio Cambalhota, Ziza, Paulo Isidoro, Joãozinho Paulista e do treinador Barbatana (disputaram a final do Campeonato Brasileiro com o São Paulo em 1977). É também de Orlando, Osmar, Luisinho, Jorge Valença, Chicão, Palhinha, Pedrinho, Rei, Éder Aleixo, Marcos Vinícius e do técnico Procópio Cardoso (das finais do Campeonato Brasileiro contra o Flamengo em 1980). E o mais importante, essa taça, esperada há 50 anos, é dos mais de 8 milhões de atleticanos, que resistiram um hiato tão grande sem se abalar.

O título de 2021 é, além de tudo, um abraço de gerações. É Hulk homenageando Reinaldo, que estava abraçado com o pai do camisa 7 no camarote do Mineirão. É o pai abraçando o filho, o filho levando a memória do pai que se foi na espera por essa conquista. São todos os atleticanos, do céu e da terra, celebrando juntos o paraíso que tanto esperavam. Por isso ontem no Mineirão se via lágrimas por toda parte, é uma história de gerações sendo escrita, continuada.

Meu pai dizia quando o Atlético estava na pior que a torcida do Galo é igual massa de pão, quanto mais bate mais cresce. Nunca vou me esquecer disso. Realmente, é uma torcida que se fortaleceu na dor. Depois de ver seu time ser assaltado dentro dos gramados, viu seu rival ter glórias e ainda por cima chegou à Série B. É muito castigo acumulado para um povo só, não tem como isso ser justo. Por isso, o título de 50 anos é uma reparação histórica. É o avô nos céus sorrindo para seus filhos na terra e os pais abraçando seus filhos, celebrando, finalmente, a conquista.

Chore atleticano, mas chore de alegria. Celebre uma semana, porque falta apenas um ponto. O título pode chegar matematicamente na terça, 30 de novembro, na quinta, 2 de dezembro, sexta ou mesmo no domingo. A data não importa muito, o que interessa é acontecer. Até lá, o torcedor vai celebrando a conquista aos poucos. É melhor tirar um grito entalado há 50 anos de forma parcelada, mais seguro para a saúde.

Abraço de gerações nos números

José Reinaldo de Lima foi revelado nas categorias de base do Galo e fez 475 jogos, além dos 255 gols pelo clube, entre 1973 e 1985. Chegou à Seleção e disputou a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Rei é o maior artilheiro da história do Mineirão e do Alvinegro. Ele foi vice-campeão em 1977 e 1980, numa das gerações mais brilhantes da história do Clube Atlético Mineiro, além de ter conquistado sete campeonatos mineiros (1976, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982 e 1983).

Em 2021, Hulk, que já foi campeão mineiro, é o artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 17 gols, e da Copa do Brasil, com seis tentos marcados. Em uma temporada histórica, o camisa 7 vai escrevendo o seu nome na história do Atlético logo em seu primeiro ano em Belo Horizonte, com 64 jogos, 32 gols e 12 assistências.

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