Branca de Neve: a rainha, o espelho e o ‘efeito Mandela’

Branca de Neve: a rainha, o espelho e o ‘efeito Mandela’

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Está em cartaz nos cinemas brasileiros a nova versão em live-action de Branca de Neve, lançada pela Disney. Diferente do que se esperava de uma releitura de um de seus maiores clássicos, o filme amarga desempenho nas bilheterias. Muitos atribuem esse fracasso à atriz Rachel Zegler, intérprete da protagonista, que se envolveu em polêmicas nas redes sociais durante a divulgação do filme. Suas declarações críticas a Donald Trump e de apoio à causa palestina geraram reações negativas, e, ao mesmo tempo, ela foi alvo de comentários racistas.

Ainda que esses elementos tenham influenciado a recepção do filme, eles não explicam, sozinhos, a frieza do público diante da nova Branca de Neve. A falta de inovação narrativa e estética pesou mais. Mesmo com a atriz israelense Gal Gadot no elenco, o filme pouco acrescenta à história já conhecida: é apenas mais uma versão com novo elenco, mas sem originalidade. O conteúdo, no fim das contas, não vai além do entretenimento.

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Mesmo assim, o conto de Branca de Neve ainda provoca reflexões interessantes. Uma delas envolve a famosa frase do espelho mágico, que muitos acreditam ser “Espelho, espelho meu…”. No entanto, na animação original da Disney, de 1937, a fala correta é “Mágico espelho meu: quem é mais bela do que eu?”. Esse erro coletivo é um exemplo do chamado efeito Mandela, fenômeno em que diversas pessoas compartilham uma lembrança incorreta de algo que nunca aconteceu da forma como é recordado.

Essa confusão entre lembrança e ficção encontra eco em um outro fenômeno das redes sociais, especialmente no TikTok, conhecido como shifting, ou mudança de realidade. Trata-se de uma prática em que jovens tentam vivenciar universos fictícios como se fossem reais — uma forma de fuga, de habitar temporariamente realidades idealizadas.

Voltando à narrativa original, uma questão central permanece relevante: por que a rainha deseja matar Branca de Neve, se é considerada tão bela quanto? Mais ainda, por que ela exige especificamente o coração da princesa, e não apenas sua aparência destruída? A resposta está na própria construção simbólica da personagem. A rainha não inveja apenas a beleza física de Branca de Neve, mas algo mais profundo — aquilo que o espelho enxerga como a verdadeira forma de beleza: o coração.

Na animação de 1937, quando a rainha ordena ao caçador que traga o coração da jovem, a crueldade do pedido revela o desejo de eliminar a essência da princesa, aquilo que a torna capaz de cativar a todos ao seu redor. É esse coração puro que impede o caçador de executar a ordem da rainha má. É ele que faz os animais da floresta se aproximarem da jovem. É ele que conquista a amizade dos sete anões e o amor do príncipe. O espelho mágico não mente. Quando responde que há outra mais bela, fala de uma beleza que vem de dentro.

Nos próprios dicionários, o adjetivo “bela” não está restrito à aparência. Ele também remete a nobreza de caráter, generosidade e bondade. A rainha pode ter uma aparência única, mas é Branca de Neve quem carrega a verdadeira beleza, a que transforma o mundo ao seu redor e inspira amor e lealdade. Essa é a diferença fundamental entre ser bela e parecer bela — um contraste que muitas vezes se perde nas versões modernas, mas que permanece essencial para entender a força do conto original.

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