
Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), em parceria com a Associação Autistas Brasil, identificou 150 falsas causas e 150 falsas curas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em comunidades conspiracionistas no Telegram, espalhadas pela América Latina e Caribe. O levantamento analisou mais de 58 milhões de mensagens e envolveu cerca de 5,3 milhões de usuários entre 2015 e 2025.
De acordo com os dados, o Brasil ocupa posição central na disseminação dessas desinformações. O país é responsável por quase metade (48%) dos conteúdos conspiratórios sobre autismo, com mais de 10 mil publicações em 487 comunidades digitais. Estima-se que essas mensagens tenham atingido mais de 1,7 milhão de usuários no território nacional.
Entre as alegações falsas mais recorrentes estão supostas ligações entre autismo e fatores como consumo de alimentos industrializados, exposição a redes 5G, uso de vacinas e até “chemtrails” (trilhas químicas supostamente deixadas por aviões). No campo das curas, o estudo lista práticas sem comprovação científica, incluindo ingestão de dióxido de cloro, uso de ozônio medicinal, terapias vibracionais e enemas com substâncias tóxicas.

O estudo aponta ainda que essas práticas ganham força especialmente a partir da pandemia da COVID-19, período no qual houve aumento de 15.000% no volume de publicações conspiratórias sobre TEA.
As comunidades analisadas também mantêm vínculos com outras temáticas conspiratórias, como globalismo, antivacinas, esoterismo e teorias da Nova Ordem Mundial. O ecossistema digital formado por essas redes reforça a circulação coordenada de conteúdos desinformativos, explorando o desespero de familiares e promovendo produtos e métodos pseudocientíficos como alternativa ao acompanhamento médico.
Os autores do estudo alertam para o impacto social desse fenômeno. Além de comprometer a saúde pública, a propagação dessas narrativas pode reforçar o estigma sobre pessoas autistas e influenciar políticas públicas inadequadas, baseadas em desinformação.
Como resposta, o relatório recomenda ações integradas envolvendo regulação de plataformas, alfabetização midiática crítica e políticas públicas voltadas ao enfrentamento da desinformação. Leia a íntegra do relatório aqui.

João Paulo Silva, nascido em Barueri/SP e bacharel em Letras pela Universidade Estácio de Sá, pós-graduado em Revisão de Texto e em Linguística e Análise do Discurso. Contato: joaopaulobarueri@outlook.com