Criado pela professora Zelinda Barros, em 2015, o Calendário Negro são novas datas comemorativas que homenageiam personalidades importantes para a cultura negra no Brasil e mundo. Ele foi produzido embasado em atividades de diversos movimentos negros como:
- ALMEIDA, Acácio S.; REGINALDO, Lucilene (Org.). Agenda Afro-brasileira, 1997;
- GRUPO DE REFLEXÃO SOBRE A VIDA RELIGIOSA, NEGRA E INDÍGENA
- GRENI. Calendário Beleza Negra. Rio de Janeiro: Vozes, 1998;
- CONSELHO DE PARTICIPAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA COMUNIDADE NEGRA DE SÃO PAULO. Memória Afro-brasileira. Calendário 2002.
A edição do Calendário Negro de 2022 já foi divulgada. Desta vez serão homenageadas (os) cientistas sociais negras/os. Veja os nomes:
7 de Janeiro – a antropóloga Zora Neale Hurston
3 de Fevereiro – o sociólogo Stuart Hall
17 de Março – o antropólogo Manuel Zapata Olivella
23 de Abril – a antropóloga Ifi Amadiume
9 de Maio – o antropólogo Nei Lopes
22 de Junho – a antropóloga Katherine Dunham
28 de Julho – o sociólogo Eduardo Oliveira e Oliveira
12 de Agosto – o antropólogo Edison Carneiro
24 de Setembro – o sociólogo Franklin Frazier
18 de Outubro – o antropólogo Joseph-Anténor Firmin
10 de Novembro – a socióloga Oyèrónke Oyèùmí
29 de Dezembro – o antropólogo Cheikh Anta Diop
Quem são (foram) essas pessoas homenageadas?
Zora Neale Hurston
A estadunidense Zara Neale Hurston (1891/1960) foi uma antropóloga, escritora e cineasta. Ela atuou mais intensamente nas áreas da Literatura e Antropologia realizando pesquisas sobre vodu na cultura afro-americana, América Central, Sul dos EUA.
Ele registrou a biografia do último sobrevivente adulto vendido no comércio de escravos no Atlântico entre a África e os Estados Unidos, Cudjo Lewis (1841/1935).
Stuart Hall
Muito conhecido e citado no meio da comunicação, Stuart Hall (1935/2014) foi um teórico cultural nascido na Jamaica que se naturalizou britânico. Ele teve uma importante participação na criação da escola de pensamento conhecida como Estudos Culturais ou Escola Birmingham dos Estudos Culturais, juntamente com Richard Hoggart.
Ele também fundou a revista New Left Review, em 1960, no Reino Unido, pela qual disseminava suas idéias sobre hegemonia e cultura, assumindo uma posição pós-gramsciana.
Também presidiu a Associação Britânica de Sociologia entre 1995 e 1997.
Manuel Zapata Olivella
O colombiano Manuel Zapata Olivella (1920/2004) foi um médico, antropólogo e escritor que dedicou sua vida à disseminação da cultura negra. Em 1983 ele lançou a novela (escrita) “Changó, el Gran Putas”, uma obra fictícia em que o autor narra histórias dos quilombolas em Cartagena, a independência do Haiti e contra a segregação nos Estados Unidos.
Escreveu nove romances, entre eles “Chambacú, corral de negros” que foi mencionado no Prêmio Casa de las Américas, em 1963, e “ Historia de un Joven Negro”, lançado em 1983. Ele também lançou seis contos curtos e um ensaio, “ La rebelión de los genes”, em 1997.
Ifi Amadiume
Nascida na Nigéria em 1943, Ifi Amadiume trouxe à tona novas informações da cultura igbo, revolucionando academicamente as relações de gênero na África.
Ela se formou na School of Oriental and African Studies da Universidade de Londres, onde obteve mestrado (1978) e doutorado (1983) em Antropologia Social.
Suas contribuições abrangeram a Nigéria, Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Senegal. Seus pensamentos são constantemente espalhados pelo mundo.
Nei Lopes
Nei Lopes compôs grandes sambas que fazem parte da história brasileira, como “Senhora LIberdade”, “Justiça Gratuita”, entre outros.
Ele é filósofo, bacharel em Direito e Ciências Sociais, além de poeta e estudioso das culturas africanas.
Trouxe uma importante contribuição para a cultura brasileira através de seus escritos, como “Dicionário da História Social do Samba”, lançado em 2015, Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana, lançado em 2011, entre outros livros.
Katherine Dunham
Uma bailarina que revolucionou o mundo da dança levando a coreografia folclórica e étnica para o segmento artístico que até então era totalmente “embraquecido”. Assim podemos definir parte da passagem de Katherine Dunham (1909/2006) por este mundo.
A estadunidense foi uma das primeiras mulheres afro-americanas a se formar em um curso superior, ela frequentou a Universidade de Chicago, onde estudou antropologia. Também fundou o Movimento Antropológico de Dança.
Eduardo de Oliveira e Oliveira
Eduardo de Oliveira e Oliveira (1923/1980) trouxe um divisor de águas para a história do negro brasileiros. Ele foi a primeira pessoa negro a colocar os pés, para estudar na Universidade de São Paulo (USP).
Graduou e se pós-graduou em Ciências Sociais. Depois disso não parou de lutar pelo seu povo.
Juntamente com Diogo Pacheco, maestro, produziu o projeto “Coral Crioulo”, composto por jovens negros em 1969. Ele foi um dos fundadores do Centro de Cultura e Arte Negra e promoveu a “Quinzena do Negro na USP”, em 1977.
Edison Carneiro
Advogado, antropólogo e escritor, Edison Carneiro (1912/1972) era especializado em cultura afro-brasileira, possuindo importantíssimo destaque para entendimento desta cultura para o país.
É por meio de suas obras que muitos brasileiros, negros, hoje tem acesso a suas histórias e uma compreensão maior do que ocorreu com o seu povo no período do Brasil Colonial. Conheça alguns livros de Edison Carneiro:
– Religiões Negras (1936);
– Castro Alves: ensaio de compreensão (1937);
– Negros Bantus (1937); Quilombo dos Palmares (1947);
– Antologia do Negro Brasileiro (1948) e
– Guerra de los Palmares (1946).
Edward Franklin Frazier
A declaração “A Questão da Raça” foi a primeira das quatro realizadas pela Unesco acerca do que seria uma definição da raça humana. No meio dos produtores do texto está Edward Franklin Frazier (1894/1962).
O sociólogo americano foi o primeiro negro a se tornar presidente da American Sociological Association.
Também publicou um importânte livro em 1939, “The Negro Family in the United States”, A Família negra nos Estados Unidos.
Joseph Anténor Firmin
O jornalista, ministro e diplomata haitiano Anténor Firmin (1850/1911) deu uma resposta à autura aos insultos escritos e destinados aos povos negros realizados pelo francês Arthur de Gobineau, considerado o autor “pai do racismo”.
Anténor escreveu o livro que foi o mais importante em sua carreira “Essai sur l´égalité des races humaines”, A igualdade das raças humanas: Antropologia positiva, que destacou as contribuições das culturas africanas desdes os egípcios até a “República Negra”, do Haiti.
Oyérónké Oyéwúmí
Autora da tese premiada na American Sociological, “The invention of women; making an african sense of western gender discourses” (A invenção das mulheres; fazendo um sentido africano dos discursos de gênero ocidentais), publicada em 1997 na Universidade da Califórnia, Oyérónké Oyéwúmí é uma socióloga nascida na Nigéria.
Popularmente conhecida como “pesquisadora oxunista”, Oyérónké fez importantes explanações para os assuntos relacionados ao gênero. Em sua premiada tese, trouxe importante pesquisa sobre a cultura dos povos iorubás, em que, segundo ela, os gêneros não se dividem.
Para a professora, usar os termos obìnrin e ọkùnrin, respectivamente, por mulher/fêmea e homem/macho já carrega a divisão ocidental da percepção dos modos de organização social baseada no gênero. O que ainda de acordo com a mesma não acontecia com os povos iorubás antes do processo de colonização.
Ela defende que esta tradução é incorreta para o contexto iorubá, pois de acordo com seus estudos culturais, para estes povos o que define uma posição de prestígio é a idade e não o sexo das pessoas.
Cheikh Anta Diop
Físico, historiador, antropólogo e político, Cheikh Anta Diop (1923/1986), teve sua tese rejeitada em seguida, após reunir provas empíricas, conseguiu conquistar o título acadêmico de doutor pela Universidade de Paris.
Com origem no Senegal, Anta Diop defendeu e comprovou a ideia de que o antigo Egito havia sido uma civilização negra.
Pode ser considerado um estudioso da cultura africana pré-colonial. Tendo grande relevância para o resgate dos costumes de seu povo.