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O olhar poético de Cecília Meireles sobre Ouro Preto

Versos de “Improviso para Guignard” retratam a cidade histórica com procissões, ladeiras, igrejas, estudantes e saudades

Rodolpho Bohrer
O olhar poético de Cecília Meireles sobre Ouro Preto
Versos citam montanhas, igrejas, estudantes e o artista Guignard

Cecília Meireles registrou em poema sua impressão de Ouro Preto no final da década de 1940. Os versos fazem parte de “Improviso para Guignard”, publicado em 1949 no Livro de Dedicatórias para Guignard. O texto, escrito como homenagem ao pintor Alberto da Veiga Guignard, transforma elementos do cotidiano da cidade em imagens poéticas.

O poema percorre símbolos reconhecidos pelos moradores e visitantes. Montanhas, luares, procissões nas ladeiras, sinos, burrinhos, pombos brancos e nuvens vermelhas aparecem como marca do cenário mineiro, assim como igrejas tradicionais como Rosário, São Francisco, Santa Efigênia e Pilar. Cecília também menciona altares, oratórios, candeirinhas de arruar, estudantes, saudades e fantasmas, compondo um retrato afetivo da cidade.

A autora associa ainda esses elementos ao trabalho de Guignard, que viveu e produziu intensamente em Ouro Preto. O poema encerra lembrando o pintor, que aparece como figura risonha observada da varanda de um bar na Rua das Flores. O trecho final sugere que teria sido colocado no mundo para pintar a cidade que marcou sua trajetória artística.

A seguir, o poema na íntegra conforme divulgado pelo Museu Casa Guignard:

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o que Ouro Preto tem?
tem montanhas e luar;
tem burrinhos, pombos brancos,
nuvens vermelhas pelo ar;

tem procissões nas ladeiras,
com dois sinos a tocar;

opas de todas as cores,
anjinhos a caminhar…

Tem Rosário, São Francisco,
Sta. Ifigênia, Pilar

Tem altares e oratórios,
cadeirinhas de arruar.

Casas de doze janelas,
estudantes e cantar…
Tem saudades e fantasmas,
ouro por todo lugar;

santos de pedra-sabão,
calçadas de escorregar

E ali, na Rua das Flores,
na varandinha do bar,
tem a figura risonha
do grande pintor Guignard
que Deus botou neste mundo
para Ouro Preto pintar.

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Diretor geral, graduando de jornalismo e redator de cidades e política.