Das cativantes e inspiradoras histórias de vida que permeiam por cada canto de nossos charmosos municípios e seus distritos, hoje falaremos sobre uma em especial, que possui como principal fonte de inspiração e alicerce, a arte da música.
Erika Curtiss é uma artista, cantora e professora de canto, natural de Ouro Preto e residente em Mariana. Há mais de trinta anos ela se apresenta em espaços culturais da região, levando consigo, sua arte e seu encanto – entoando canções da Música Popular Brasileira e do Samba com um timbre único e potente, e trazendo representatividade para as mulheres no palco.
Recentemente, há cerca de 1 ano, Erika passou por um momento bastante desafiador em sua vida: a luta contra um câncer de mama em estágio 02. Hoje, finalmente livre do tumor, porém ainda em tratamento, ela compartilha sua jornada sobre o tratamento em suas mídias sociais, a fim de conscientizar outras mulheres acerca do tema e trazer motivação àquelas que passam pelo mesmo desafio, criando assim uma grande rede de apoio.
O projeto mais recente da artista é a gravação de seu novo álbum “Desdobrável”, um trabalho 100% autoral, que será lançado em comemoração ao seu renascimento – como ela mesma diz – e aos seus 51 anos de idade. Para a realização do projeto, um financiamento coletivo foi criado no site Vakinha.com, no qual fãs e apoiadores da arte de Erika podem contribuir com valores espontâneos para que o álbum seja custeado.
O Mais Minas conversou com a cantora, que respondeu algumas curiosidades sobre sua carreira e sobre o novo projeto que está saindo do forno. Confira:
MM: São mais de 30 anos de trajetória como cantora abrilhantando diversos espaços culturais aqui da região. Como é fazer parte do cenário musical de Mariana e Ouro Preto durante tantos anos?
Erika: Para mim é uma honra! Ouro Preto é a cidade onde nasci, cresci e me desenvolvi como pessoa, cidadã e artista, e Mariana, que é a cidade irmã, me recebeu de braços abertos e é a cidade onde vivo. É muito gratificante ver que existe resposta na sociedade. Me sinto muito querida tanto em Ouro Preto quanto em Mariana, as pessoas têm muito carinho por mim e pelo meu trabalho.
MM: Você recentemente venceu a luta contra o câncer de mama. A música, de alguma forma, serviu de suporte para a sua recuperação em algum momento do tratamento? Se sim, como ela fez parte do seu processo de cura?
Erika: A música foi fundamental. Ela serviu de suporte durante todo o período do tratamento. Me afastei do trabalho, mas continuei fazendo música. Não parei de cantar! A música é sempre um suporte muito bom. Ela é algo que mexe nas entranhas mais profundas da alma. Quando você está com o corpo doente e fragilizada, a música traz conforto. Foi uma grande aliada durante o meu tratamento. Na última semana do tratamento, era meu aniversário de 50 anos e eu comemorei com um show. Foi um alento muito grande!
MM: Em suas apresentações você traz como marca registrada a MPB e o samba. Sendo um trabalho autoral, o que podemos esperar do novo álbum “Desdobrável”? Quais foram as suas principais influências durante o processo de criação?
Erika: Será um álbum eclético e diverso, feito com muito carinho, afeto e cuidado. Eu quis deixar nesse álbum uma impressão diversa. Sou uma mulher diversa, uma cantora, uma artista diversa que se desdobra em muitas. A ideia é que ele transpareça esse meu lado eclético, diverso e “Desdobrável”!
MM: Existe algum significado especial para o título do álbum?
Erika: “Desdobrável” foi inspirado em um poema de Adélia Prado. Nesse poema, Adélia dialoga com o poeta Carlos Drummond de Andrade, que em seu “Poema de Sete Faces”, ele começa assim:
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida […]”
E a Adélia faz um diálogo, dizendo assim:
“Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada […]”
E ao final do poema ela diz assim:
“Vai ser gauche na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.”
E nesse poema ela fala do quanto nós mulheres somos diversas e nos desdobramos em muitas para poder cumprir tantas funções… a maternidade, o trabalho, os relacionamentos, os amores. Eu me sinto muito identificada com esse poema. Ele fez parte de um espetáculo que participei no final dos anos 90 chamado “Mulher em Cena”. Esse poema sempre foi muito forte para mim, e agora, depois de ter passado pela doença e de ter feito tantas reflexões: mulher é desdobrável. Eu sou!
MM: Mulher, artista independente e com mais de 30 anos de estrada: você considera o lançamento desse trabalho a realização de um sonho? Quais são as suas expectativas?
Erika: Sim, esse trabalho é a realização de um sonho. Passei por esses 30 anos sem fazer nenhuma gravação oficial de um disco próprio. A vida foi acontecendo, os caminhos mudando… a vida foi me levando e eu fui deixando essa parte do produto cultural mais “acanhada”. Tenho algumas participações em discos de outras pessoas – que estão todas disponíveis nas plataformas digitais, se você procurar por Erika Curtiss vai encontrar várias gravações. Mas um trabalho com a minha cara, feito por mim e para mim, sim, é a realização de um sonho! Minha expectativa é conseguir alcançar o coração das pessoas com esse trabalho novo. Que essa minha sensação de vitória, dever cumprido e alegria de viver consiga atingir os corações de todas as pessoas que nos ouvem!
Para contribuir com o financiamento coletivo do novo álbum da artista Erika Curtiss acesse: Financiamento coletivo para gravação do álbum “Desdobrável” da cantora Erika Curtiss | Vaquinhas online (vakinha.com.br). As doações podem ser feitas via Pix e a Vakinha acontece até o dia 15 de dezembro.
Próximo show de Erika Curtiss
Para encerrar o ano de 2023, a artista irá se apresentar no dia 09 de dezembro durante o evento Arte e Cultura no Parque das Andorinhas em Ouro Preto. Convidada pelo grupo de chorinho Regional da Barra, Erika sobe ao palco às 16h também acompanhada pela cantora Silvia Gomes.
A programação completa do evento pode ser conferida no Mais Minas.