Dona do maior acervo barroco de Minas Gerais, a cidade histórica de Ouro Preto vive uma crise no turismo. A queda começou a ser sentida no carnaval e, agora, comerciantes, empresários e políticos temem uma baixa também na Semana Santa.
O motivo é o temor causado pela possibilidade do rompimento de barragens. A tragédia já assolou o estado por duas vezes.
O medo dos turistas é justificado pelo fato da cidade comportar o maior número de barragens do tipo a montante. Esse é o mesmo tipo de estrutura utilizado pela Samarco e Vale que se romperam em Mariana (2015) e em Brumadinho (2019).
As autoridades já afirmaram que no caso de um rompimento, Ouro Preto não está na rota de rejeitos. Entretanto, desde que começou a circular na mídia notícias de que as barragens da cidade eram de alto risco e poderiam se romper, os turistas vêm se afastando da cidade.
Rodney Maia é Museólogo e gerente do Uai Hostel, que funciona há quatro anos na cidade e recebe turistas de diversos lugares. Ele afirmou ter sentido uma queda no número de procura e muitos cancelamentos de reserva. Rodney acredita que a circulação de informações errôneas sobre a situação das barragens em Ouro Preto pode justificar a baixa de turistas.
“As pessoas sempre me perguntam se a cidade está segura, têm um certo medo do que pode acontecer. Realmente elas pensam que tem uma barragem em cima de Ouro Preto e que vai atingir o Centro Histórico”.
Ele ainda teme que a baixa continue após a Semana Santa.
Combate às notícias falsas
O secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Felipe Guerra, também vê as notícias falsas como uma das causas da baixa dos turistas. Para combater os efeitos que elas tiveram sobre a cidade, vem sendo feito um trabalho de retratação da imagem de Ouro Preto na mídia.
As ações estão sendo pensadas em conjunto entre a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais), CVB (Convention e Visitors Bureau), COMTUR (Conselho Municipal de Turismo) e em reuniões que vem acontecendo desde antes do carnaval, onde se discute como mostrar a veracidade para o público.
O plano é reverter essa imagem em grandes meios. Tentado disseminar notícias boas sobre a cidade. Felipe cita alguns programas de alcance nacional que estiveram em Ouro Preto, como o programa Estrelas e Terra de Minas, ambos da Rede Globo. Outras ações são divulgadas pela própria secretaria, por meio de canais como o Facebook. Trazer eventos de fora para aumentar a visibilidade e atrair turistas também é uma estratégia.
“O objetivo é mostrar que a cidade está preparada e vivendo normalmente”, completa o secretário.
Felipe afirmou que o intervalo entre carnaval e Semana Santa não é de alta temporada. Mas que é visível uma queda no turismo pedagógico de Ouro Preto. Segundo o secretário, com as medidas tomadas no período pré-carnaval, eles conseguiram amenizar a crise e manter o público da festa na cidade. Eles esperam conseguir o mesmo para a Semana Santa.
“Pelos últimos números de donos de hotéis, que dizem estar com 95% das vagas fechadas, acredito que as medidas vão minimizar os impactos. Mas oficialmente só podemos falar depois da Semana Santa”, finalizou.
Quanto mais divulgação melhor
Para Rodney, as notícias falsas sobre a barragem não são o único problema. Ele acha que a cidade é pouco divulgada.
“Acredito que precisa de uma divulgação em massa fora de Ouro Preto, do Estado e fora do país também. É uma riqueza incalculável, que, por mais que tenha sido tombada como patrimônio histórico,tem que continuar falando, divulgando. Só ter o título não é suficiente”, conclui Rodney.
O secretário de Turismo rebate essa informação. Ele alega que conjuntos e planos de mídia são colocados em ação e que surtem grandes efeitos. Felipe Guerra cita o fato de Ouro Preto ter ganhado um espaço permanente no aeroporto de Confins. Segundo ele, apesar das dificuldades, o turismo vem se desenvolvendo na cidade.
“Depois de um 2014 ruim, a gente vêm tendo um crescimento no turismo. Julho de 2018 foi o melhor mês na história do turismo em Ouro Preto. Além disso, surgiram mais de 60 novos empreendimentos turísticos aqui”, garante Felipe.
Tradição dos tempos coloniais
Os tapetes de serragem encantam os turistas em Ouro Preto. Neste ano, a Semana Santa vai oferecer mais um atrativo ao público: a Procissão do Fogaréu ou Endoenças. Ela é uma tradição colonial e, segundo a Igreja Católica, não acontece há mais de um século.
A procissão vai ter início na Igreja São Francisco de Assis, às 23h. De lá, após a cerimônia de lava pés, os fiéis, vestidos de túnicas e capuzes seguirão para a Igreja Nossa Senhora das Mercês e Perdões, de onde sairá a imagem de Jesus Flagelado rumo à Igreja Nossa Senhora das Dores. Os fiéis carregam tochas acesas durante toda procissão. Reviver a tradição é um marco histórico para a cultura de Ouro Preto.
A programação completa da Semana Santa em Ouro Preto você pode acessar aqui.