A circulação de caminhões de minério nas BRs 040 e 356, em trechos que cortam Itabirito e municípios vizinhos, deve diminuir a partir da adoção de uma rota alternativa discutida entre poder público e setor mineral. Um acordo recente definiu medidas para retirar parte do tráfego pesado das rodovias, com impacto direto na segurança viária e na fluidez do trânsito em uma das regiões mais pressionadas pelo transporte de carga em Minas Gerais.
A proposta não é inédita. Em setembro, o portal Mais Minas já havia noticiado que o uso compartilhado da estrada Pico–Fábrica, controlada pela Vale, surgia como uma das soluções debatidas para reduzir o fluxo de carretas com minério nas rodovias federais. À época, a discussão ocorreu no âmbito de um Grupo Executivo coordenado pelo Ministério Público de Minas Gerais, criado justamente para buscar alternativas ao tráfego intenso e aos riscos associados ao transporte mineral.
Naquele momento, a estimativa apresentada era de que cerca de 1.500 carretas carregadas circulavam diariamente pelas BRs da região. A liberação da estrada privada permitiria que caminhões de outras mineradoras chegassem aos terminais de embarque sem atravessar trechos congestionados. A Vale, então, ainda não havia se manifestado oficialmente sobre a possibilidade de uso coletivo da via.
Agora, o tema avança com a formalização de um entendimento mais amplo. A articulação foi conduzida pela Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais, por meio da Câmara de Prevenção e Resolução Administrativa de Conflitos, em conjunto com o Ministério Público de Minas Gerais, pelo Centro de Autocomposição e da Resolução de Conflitos e Segurança Jurídica. Ao todo, 22 instituições públicas e privadas participaram das negociações que resultaram no acordo.
O ponto central é o uso compartilhado de cerca de 25 quilômetros da estrada Pico–Fábrica, entre Itabirito e Congonhas. A expectativa é que a medida retire milhares de caminhões por ano das BRs 040 e 356, reduzindo a pressão sobre trechos urbanos, curvas perigosas e áreas com histórico recorrente de acidentes.
Com a perspectiva de menor fluxo de veículos pesados, o acordo também prevê a antecipação de intervenções na BR-040 já previstas no contrato de concessão. Entre elas estão a implantação de um novo trevo de acesso a Moeda, a duplicação do trecho entre Congonhas e Conselheiro Lafaiete e melhorias na chamada curva da Celinha, considerada um ponto crítico da rodovia.
Além das obras, serão realizados estudos técnicos para avaliar a viabilidade de implantação de uma terceira faixa exclusiva para veículos leves em alguns segmentos. A separação entre tráfego local e transporte pesado é vista como uma forma de reduzir conflitos, melhorar a fluidez e aumentar a segurança dos usuários.
Outro eixo do acordo é a adesão das mineradoras ao Plano Mínimo de Segurança Viária, que já havia sido debatido nas reuniões anteriores. O plano inclui medidas emergenciais como controle eletrônico de velocidade, treinamento de motoristas e padronização de procedimentos operacionais, enquanto soluções estruturais de longo prazo seguem em discussão.
Entre essas alternativas definitivas está o projeto da chamada Rodovia do Minério, que pretende desviar de forma permanente o tráfego pesado das rodovias federais e criar rotas mais seguras para os municípios afetados. O tema continua em debate entre empresas, órgãos de transporte e entidades públicas.
O acordo também prevê a instalação de uma balança de alta tecnologia na BR-040, capaz de pesar veículos em movimento. O equipamento permitirá fiscalizar todo o fluxo rodoviário, coibindo excesso de carga e contribuindo para a preservação da via.
As negociações tiveram início em outubro de 2023, a partir de uma mobilização de associações de municípios mineradores. As reuniões reuniram representantes do Ministério Público Estadual e Federal, mineradoras, órgãos estaduais e federais de transporte e meio ambiente, além de entidades municipalistas, reforçando a pressão por soluções que reduzam os impactos do transporte mineral nas cidades cortadas pelas BRs.



