No Dia da Literatura Brasileira, celebrado em 1º de maio em homenagem ao nascimento de José de Alencar (1829-1877), é oportuno lembrar não apenas os grandes nomes consagrados, mas também aqueles que foram relegados ao esquecimento ao longo do tempo, apesar de sua relevância histórica e literária.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Coelho Neto (1864-1934), que no início do século XX foi um dos autores mais lidos do país, com vasta produção que ia do romance ao teatro. No entanto, sua obra foi desacreditada por parte da crítica, especialmente após as críticas dos modernistas de 1922. Embora tenha escrito obras como “Rei Negro” (1914) e “Miragem” (1895), seu nome raramente aparece em salas de aula ou listas de leitura obrigatória.
Outro nome importante é o de Joaquim de Sousa Andrade (1833-1902), conhecido como Sousândrade. Autor do poema “O Guesa” (1870), de linguagem inovadora para a época, ele foi esquecido por décadas até ser redescoberto por poetas do movimento concretista, que o consideraram um precursor da vanguarda literária brasileira.
Entre os autores que vivem hoje num “limbo editorial”, destacam-se Murilo Rubião (1916-1991) e Pedro Nava (1903-1984). Rubião foi um dos pioneiros da literatura fantástica no Brasil, com contos como “O Ex-Mágico da Taberna Minhota” (1947) e “Teleco, o Coelhinho” (1993), que exploram o surreal e o absurdo. Já Nava se destacou como memorialista, autor da série “Baú de Ossos” (1972), que retrata com minúcia e lirismo aspectos da sociedade brasileira do século XX.

Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) foi uma das poucas mulheres a integrar o cenário literário do século XIX, com obras como “A Falência” (1901) e forte atuação na luta por direitos civis. Apesar de sua produção significativa, ficou de fora da fundação da Academia Brasileira de Letras, embora tenha participado das discussões iniciais.
Também merecem menção José Cândido de Carvalho (1914-1989), autor do clássico “O Coronel e o Lobisomem” (1964), e Carlos Dias Fernandes (1874-1942), que além de escritor, atuou como jornalista e educador, com grande influência na cultura nordestina. Josué Montello (1917-2006), por sua vez, foi autor de romances históricos e chegou a ocupar cargos importantes no cenário cultural, mas foi gradualmente excluído do circuito editorial.
Relembrar esses e tantos outros nomes no Dia da Literatura Brasileira é compreender que o patrimônio literário nacional foi historicamente construído a partir de múltiplas vozes, percursos e perspectivas — muitas das quais foram marginalizadas ou silenciadas ao longo do tempo. Valorizar autores que foram relegados à condição de esquecidos é um gesto de justiça histórica e um exercício de preservação da memória cultural do país e de ampliação crítica do cânone literário brasileiro.