A luta por igualdade social é uma pauta latente no Brasil, pois ela se distribui por diversas entranhas, sendo a mais cruel delas, o racismo. O preconceito contra os negros, velado ou não, alcança diversas camadas e posições sociais, uma das mais evidentes é o número de pessoas negras que ocupam cargos públicos no país, que é bastante inferior em relação às pessoas brancas.
Se a disputa por oportunidades é diferente e o privilégio dos brancos em relação às mais diversas situações, inclusive econômica, é superior ao dos negros, como teremos Eleições justas em 2020?
Imagine um país onde a população negra supera a branca, em 55%, mas que elege apenas 27,9% dos 47,6 % candidatos negros, como ocorreu nas Eleições de 2018, de acordo com um levantamento feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Pois é, como podemos ver, no Brasil, a desigualdade racial predomina também na política.
A pergunta que não se cala é: Por que em um país de maioria negra, mais brancos se elegem? Vamos aos números para entendermos melhor.
A mesma pesquisa realizada em 2018 pelo STE também apontou que, dos candidatos do sexo masculino, 43,1 % eram brancos e possuíram 58,5% dos fundos partidários para realizarem suas campanhas, enquanto que 26% de candidatos negros, tiveram apenas 16,6% do dinheiro dos partidos, o que configura desigualdade de condições, no que tange a campanhas eleitorais.
Os números quanto às candidatas mulheres também beneficiam mulheres brancas. 18,1% utilizaram o fundo partidário, enquanto às negras representaram o percentual de 12,9 %, e tiveram 6,7% das verbas dos seus partidos para realizarem campanhas eleitorais. Em 2020, o número de mulheres eleitas pode subir devido a nova legislação que obriga que 30% dos fundos partidários sejam destinados a campanhas femininas, assim como os espaços de propagandas eleitorais em rádios e TVs. Agora, as candidatas terão 30% dos horários de propaganda eleitoral. Outra novidade para as próximas eleições é que as candidatas mulheres terão também 30% do fundo eleitoral.
No último dia 13 de novembro, o TSE teve 2 votos a favor para o financiamento proporcional a candidatos negros. Na ocasião, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso foram favoráveis que a verba do fundo eleitoral e do fundo partidário seja destinada proporcionalmente pelos partidos para os candidatos negros. No mesmo dia, o julgamento foi suspenso por Alexandre de Moraes, através de um pedido de vista. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não finalizou tal julgamento, mas já há uma sinalização de que essas mudanças podem acontecer. O adiamento das Eleições 2020 em decorrência da pandemia do coronavírus pode entregar tempo o suficiente para que essas e outras questões sejam avaliadas e julgadas.
O racismo é um assunto que vem sacudindo o mundo. No Brasil, a pessoa negra que mais simbolizou a política foi a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada no Rio de Janeiro, em 14 de março de 2018. Após sua morte, ascendeu em todo o país um movimento anti-racista, e o bordão “Marielle Presente” ecoou nos quatro cantos do Brasil, até hoje questiona-se “Quem Mandou Matar Marielle Franco?”.
Um recente episódio destacou o problema do racismo em nível global. O caso do segurança Jorge Floyde, que foi assassinado por um policial branco, nos Estado Unidos, repercutiu após imagens do ocorrido serem divulgadas nas redes sociais. Ainda outro caso que aconteceu no dia 2 de junho em Recife, estimulou ainda mais o assunto no Brasil. Uma criança, Miguel Otávio, de cinco anos, morreu após cair de uma altura de 35 metros, após ser deixado pela patroa da sua mãe em um elevador do prédio. A mãe do garoto estava ausente, pois havia levado o bicho de estimação da família para a qual ela trabalhava para passear, deixando o seu filho Miguel, que era negro, sob os cuidados da patroa.
Todas as questões que ressoa acerca do racismo estão de alguma forma interligadas. A política deveria ser mais um instrumento para que os negros também tenham voz e direitos assegurados. Como isso poderia acontecer no Brasil sem que haja representatividade no poder público?