Faltando 30 dias para o carnaval, presidentes das escolas de samba de Ouro Preto reclamam por ainda não terem recebido os recursos necessários para montar suas apresentações na Praça Tiradentes. O curto prazo para se organizarem traz muitas inseguranças quanto ao desfile.
O Carnaval de Ouro Preto terá o patrocínio da empresa Ambev, que acordou em disponibilizar cerca de R$ 2,2 milhões para o evento, sendo destinados R$ 40 mil para cada escola de samba. Entretanto, o valor ainda não chegou para aqueles que irão desfilar na Praça Tiradentes.
O presidente da Escola de Samba Inconfidência Mineira, Jorge Sérgio Gonçalves, disse que estão de “mãos atadas”. “Estamos sem saber o que fazer, porque não dá pra comprar nada quando (a verba) sair. Quando o dinheiro cair na conta, vamos comprar tudo mais caro e ainda não compramos nada. Estamos confeccionando nossas coisas reciclando com o que sobrou do desfile do ano passado e com o que achamos no lixo”, declarou Jorge.
Fernando Marques, um dos fundadores da União Recreativa do Santa Cruz, também pede para que o poder público olhe para as escolas de samba da cidade como um patrimônio. “Aqui nós temos um tipo específico para as baterias serem tocadas. Por exemplo, no surdo, o tocador bate e marca e por isso ele usa duas baquetas. Isso mostra um tipo de tocar mais pesado, mais acelerado, mas sem perder o ritmo do samba, se torna algo único no Brasil todo e que só tem aqui em Ouro Preto. Já pedi várias vezes para o pessoal levantar essa bandeira e isso se tornar um patrimônio, assim como existe o Olodum, o frevo, as escolas do Rio. Então, a gente tenta, porque eu tenho certeza, a partir do momento que eles fizerem esse trabalho, vai ganhar mais visibilidade, porque isso aqui é patrimônio da cidade”, relata o regista da escola de samba.
Contraponto
Em decorrência do problema, o recurso disponibilizado pela Ambev para as escolas de samba está inserido no projeto de lei de incentivo. Com isso, o prazo para o pagamento é até dia 10 de fevereiro, firmado em contrato com a Liga das Escolas de Samba. Porém, há a intenção da empresa de antecipar esse dinheiro para o dia 31 de janeiro.
Sobre o incentivo por parte do município para as escolas de samba atuarem no carnaval deste ano, a Prefeitura se responsabilizou pagar R$ 50 mil para assumir o que a lei de incentivo não permite, que é a contratação dos jurados, o transporte, etc.
Mas, além disso, o Secretário de Turismo, Indústria e Comércio de Ouro Preto, Felipe Guerra, alegou que as escolas de samba precisam buscar um pouco de independência financeira.
“Outro problema é que as escolas de samba passam o ano inteiro sem fazer um bingo, sem um evento, então os caras não tem caixa. Diferente do Rio de Janeiro e de outros lugares, em que as escolas de samba tem eventos programados ao longo do ano, como bingo solidário, feijoada e etc, para não dependerem chegar no início do ano e vir pedir dinheiro da Prefeitura. Como é que eu vou lá na Ambev e falo ‘você vai pagar agora’?”, disse o secretário.
E quanto ao incentivo do poder público para as escolas de samba, Felipe firmou que a Prefeitura e a gestão das secretarias como um todo estão dando oportunidades às escolas, enquanto as outras cidades estão acabando com o carnaval.
“Quando nós assumimos isso aqui em 2017 não teve nem carnaval com escola de samba. Então houve um processo de reerguimento deles, inclusive perante o poder público que, antes, era radicalmente contrário a qualquer verba pública envolvida com carnaval de escola de samba, como é no Rio de Janeiro. E eles tem que entender esse trato jurídico e a situação atual dos municípios. Os carnavais nas cidades históricas estão acabando, haja vista que esse ano não teve patrocínio para ninguém (apenas para Belo Horizonte e Ouro Preto). O ‘cara’ (Ambev) chega com R$ 2 milhões para Ouro Preto, aliviando os cofres públicos para gastar em saúde e educação, aí como eu abro mão disso porque eles só podem pagar em janeiro ou fevereiro?”, comentou Felipe Guerra.
Liga das Escolas de Samba
A Liga das Escolas de Samba é uma organização que trabalha como representação de todas as nove escolas de Ouro Preto. Nela, é feito o intermédio de contratos como esse com a lei de incentivo patrocinado pela Ambev.
Bosco é o presidente da Liga e considera que o prazo para a compra dos materiais e a organização das escolas de samba para o carnaval são realmente curtas. “Na verdade o prazo é curto. Eu acho que é exatamente pela falta de planejamento da Prefeitura junto com as escolas de samba. E também, o lançamento da carta convite para patrocínio do carnaval somente está sendo feita em dezembro, coisa que eu acho que poderia ser feito com mais antecedência, e que nesta carta, ou edital, as Escolas de Samba fossem contempladas de fato”, alegou Bosco.
Além disso, o presidente da Liga das Escolas de Samba de Ouro Preto disse que as escolas mantém uma organização antecipada justamente para não sofrer esse tipo de problema com os prazos.
“Sobre o atraso, nós somos sempre penalizados, pois sempre deixam essas coisas para ultima hora. Quando falo isso falo da Prefeitura, porque entregamos nosso planejamento seis meses antes e isso deveria ser levado em consideração, exatamente pelo trabalho que dá para montar todo um desfile de escola de samba. Isso acarreta em preços mais altos e menos qualidade, devido à grande demanda das demais cidades e os poucos locais que trabalham com material específico de carnaval”, disse Bosco, presidente da Liga.
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