“Falta ou excesso de atenção durante a infância pode gerar dependência emocional”, diz terapeuta

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Entre os anos 70 e 80 a psicologia conseguiu identificar um transtorno psicológico que quando desenvolvido, faz com que a pessoa sinta necessidade generalizada e excessiva de ser cuidada. Em 1985, a terapeuta Robin Norwood publicou o livro “Mulheres Que Amam Demais”, que trata-se de um best seler com conselhos para mulheres que se “atolam em relacionamentos obsessivos” e devem ajudar a si mesmas.

Em entrevista ao portal Mais Minas, a terapeuta complementar que trabalha com Constelação Familiar e Sistema de PNL, Nanah Gotas, explicou que, de acordo com DSM5 do manual diagnóstico da psicologia, essa necessidade pode ser um transtorno, o “Transtorno de Personalidade Dependente”, mais conhecido como dependência emocional.

É importante que a pessoa que esteja passando por isso identifique em si o transtorno, ou a pré-disposição para ele.” O primeiro passo para se identificar como uma “Mulher Que Ama Demais” é perceber quanto espaço a vida do outro está ocupando na sua vida. Normalmente uma mulher que ama demais, ela vive em função do outro, pensando sobre ‘o que ele está fazendo? Com quem ele está? Como eu posso ajuda-lo? O que eu posso fazer por ele?’ Ela começa a ocupar muito espaço na vida do outro”, explica a terapeuta Nanah Gostas.

Nahah fala sobre como o transtorno pode surgir: “A dependência emocional se desenvolve nos primeiros anos de vida, ela vem de uma infância disfuncional. Na verdade, o dependente emocional tem uma necessidade de uma aprovação muito grande, ele tem uma necessidade de valorização, uma carência muito profunda, uma baixa autoestima, e tudo isso veio de uma infância disfuncional.”

Fatores importantes podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno nas pessoas: “Uma criança que não foi vista, que foi negligenciada, que não recebeu a devida atenção, os devidos cuidados, ou uma criança que foi extremamente mimada, uma criança que recebeu tudo, esses dois extremos dessa falta de equilíbrio desenvolve essa visão deturpada de si mesmo. Ao longo da vida a pessoa vai desenvolvendo essa necessidade de aceitação, essa necessidade de ser vista, de ser olhada, porque muito provavelmente não teve isso na infância ou teve demais e agora não consegue lidar com a vida de uma forma equilibrada”, nos conta a terapeuta.

Homens Que Amam Demais

É mais comum que os casos aconteçam entre mulheres, no entanto existem relatos dos “Homens que Amam Demais” que também requerem atenção. O “homem que ama demais” não tem clareza no  seu relacionamento e nem das suas emoções, faz de tudo pra agradar a outra pessoa, ele quer comprar o amor da outra pessoa, é ciumento, tem baixa autoestima, tem dependência emocional e, com isso, não consegue se relacionar bem, pois a dependência emocional é uma inabilidade de se relacionar, e apesar de pensarmos que isso só acontece com mulheres, não, acontece muito com homem. Mas há uma nuvem machista que diz que “homem não sofre por amor, homem não chora”, o que pode impossibilitar que muitos homens consigam identificar e tratar a doença. A dependência emocional não escolhe sexo, sequer idade, existem crianças que fazem de tudo para tentar agradar os pais em busca de aprovação, e crescem buscando amor e aprovação, e muitas vezes não recebem, e por isso passam a vida inteira tentando tapar esse vácuo deixado pelos pais.

O público que mais se interessa por esse tema e que mais procura terapias e tratamentos para a dependência emocional é o público feminino, existe a questão da educação diferente de ambos os sexos. “A mulher tem muito mais facilidade para abrir os seus sentimentos, para expor os seus sentimentos do que o homem, que não foi educado pra isso. A mulher tem uma facilidade maior para expor o seu sentimento”, explica Nanah.

Nossa reportagem foi até as duas redes sociais “Homens que Amam Demais” e “Mulheres Que Amam Demais” para comparar o número de seguidores e o resultado foi:

Página do Facebook Homens Que Amam Demais – 1.826 seguidores
Página do Facebook Mulheres que Amam demais – 13.078 seguidores

A diferença em números é grande, porém Nanah acredita que “a quantidade de mulheres dependentes emocionais é maior porque o homem tem dificuldade de expor o seu sentimento, contudo a proporção deve ser muito próxima, a única diferença é a facilidade que ambos encontram em expor o seu sentimento”.

Sintomas

– Pessoa que vive em função do outro;
– Querer saber o que o outro está fazendo e com quem;
– Querer ajudar o tempo inteiro , sempre se colocando em lugar de servidão;
– Dar mais tempo a vida do outro do que a própria vida;
– Perdoar demais;
– Compreender demais;
– Aceitando demais;
– Auto anulação e
– Sentir necessidade de controlar a vida do outro.

Estes são alguns sintomas que podem ser potencializados, dependendo de caso a caso.

Tratamento para Dependência Emocional

Segundo a terapeuta, ao identificar o transtorno a primeira coisa que a pessoa deve fazer é procurar a psicoterapia, ou seja, a terapia com um psicólogo, e dependendo do nível do transtorno, se ele desenvolveu outros transtornos, como um transtorno de ansiedade, ou uma depressão, nesse caso é preciso também procurar um médico psiquiatra para realizar o tratamento devido. Há também algumas terapias alternativas ou complementares, como a meditação, a constelação sistêmica, e a aromaterapia, que contribuem nos resultados quando a pessoa já iniciou o tratamento médico e psicológico. “Esse trabalho de autoconhecimento, com as ferramentas complementares, e tratamento médico, tudo isso junto pode trazer uma recuperação bastante segura”, explica Nanah.

No caso da psicoterapia, há diversas universidades e faculdade que oferecem o serviço de forma gratuita.

Existem grupos de ajuda

Os grupos de ajuda são importantes para a troca de experiências e auxilio para aquelas pessoas que buscam ajuda, mas não querem ser identificadas.

Um dos grupos existentes no Brasil é o “Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA)”. Trata-se de uma irmandade de mulheres baseada no livro Mulheres que Amam Demais (de Robin Norwood) e adaptada do programa de recuperação de 12 Passos e 12 Tradições de Alcoólicos Anônimos (A.A.)

O único requisito para ser membro de MADA é o desejo de evitar relacionamentos destrutivos. Para ser membro de MADA não há necessidade de pagar taxas ou mensalidades, basta comparecer a uma reunião. Para acessar os locais e horários clique aqui.

Outro grupo que reúne pessoas que sofrem do transtorno de dependência emocional é o CoDependentes Anônimos (CODA), que também segue dos “Doze Passos” e nas “Doze Tradições” adaptados de AA para obter o conhecimento e a sabedoria. Conheça mais aqui.

Há também o grupo NA (Neuróticos Anônimos), que é uma uma irmandade formada por homens e mulheres que compartilham suas experiências, e se fortalecem uns aos outros trazendo esperança para resolverem seus problemas emocionais comuns, e dessa forma se reabilitarem da doença mental e emocional.

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