De forma simplificada, a semiótica é a ciência que estuda os significados das coisas, os signos. O principal nome desse campo de estudo é o do americano Charles Sanders Peirce (1839-1914), ele estabeleceu alguns critérios e categorias que usamos de forma inconsciente para interpretação dos símbolos e das experiências que se apresentam durante a vida. No momento, não convém um aprofundamento detalhado desses critérios, mas o importante aqui é que a interpretação dos signos é dada por fenômenos que estão a nossa volta, como a cultura e a linguagem, e aqui está o nosso ponto de interesse.
A língua estabelece uma relação de identidade de uma nação, de um povo, de uma cultura. É através da língua que organizamos processos de comunicação em sociedade, seja comunicação verbal, escrita, visual, a língua é a forma de nos expressarmos no mundo. E toda vez que alguém se expressa de alguma maneira, um sujeito qualquer automaticamente interpreta essas manifestações e interpretação gera conflitos, afinal cada pessoa interpreta as coisas de um jeito, o processo interpretativo é individual.
No já distante 2016, Michel Temer assumia a presidência da República depois de acertar uma rasteira em sua companheira de chapa na eleição de 2014, a petista Dilma Rousseff. Naquele 2016, o #ForaTemer ganhava as ruas, as pichações e as tags nas redes sociais. Temer fez o governo mais impopular da história da República, uma administração rodeada de ataques a direitos constitucionais, encontros com empresários nos porões do Jaburu (a residência oficial da vice presidência), mala de dinheiro, denúncia criminal contra o presidente e um “grande acordo nacional com Supremo, com tudo”.
Pouco mais de dois meses, depois de ter deixado o maior cargo do país, Temer foi preso no último dia 21. Do nada. No meio da rua. Se tratava de mais uma fase da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. No final das contas, o ex-presidente ficou apenas quatro dias na carceragem da Polícia Federal.
No dia da prisão, não foram poucas as manifestações nas redes sobre a notícia da prisão, o grito #ForaTemer, perdeu totalmente o significado naquele momento. A base da teoria do nosso amigo Peirce é que o mundo a nossa volta afeta como interpretamos os símbolos, o mundo. A vida passa por mudanças o tempo todo, logo nossa interpretação sobre esse mundo também é alterada. Nesses tempos que muito se fala de polarização política Temer é uma unanimidade, gostava do seu governo e todo mundo queria que ele continuasse na prisão, de repente o #ForaTemer era #FicaTemer, mas fica na prisão.