Inspirado na cantora Beyoncé e em seu hit “Single Ladies”, o Bloco “Garotas Solteiras” faz parte do carnaval de rua de Belo Horizonte desde 2015 e envolve os foliões nas músicas pop, funk, nacional e internacional. Nascido de raízes da música pop, o bloco homenageia em cada ano, uma “diva”, com um tema específico. Para o ano de 2020 a diva homenageada é a cantora Elza Soares, com o tema “Deus é mulher”.
Para começarmos a falar sobre a homenagem para Elza Soares, é preciso entender de onde surgiu a ideia do empoderamento feminino dentro do cenário carnavalesco brasileiro. Em entrevista ao Mais Minas, Edu Ruas, vocalista do bloco, nos leva a 2015, onde tudo começou.
“O bloco surgiu como uma brincadeira entre amigos numa mesa de bar. Durante o papo, surgiu a pergunta sobre ‘um bloco de carnaval que só tocasse Beyoncé’, e as pessoas levaram a sério. Ao fazer a ideia tomar corpo, expandimos a proposta para um bloco de música pop”, conta.
O empoderamento feminino e a representatividade LGBTQ+ chegou ao carnaval de Belo Horizonte em meio às músicas pop do “Garotas Solteiras”, para então ganhar espaço e visibilidade. “A gente uniu isso tudo e resolveu fazer algo nesse sentido da maneira que a gente gosta: lacrando e dando muito close”, brinca Edu.
O hino “Garotas solteiras”
Moldando a ideia de empoderamento feminino e a representatividade LGBTQ+, o bloco “Garotas Solteiras” tem um hino que fala sobre luta, poder e revolução. “Ele retrata bem o que é o Garotas: um bloco de rua, feito para a rua, e que acredita que os padrões normativos ainda impedem que muitos espaços sejam alcançados por mulheres e pessoas LGBTQ+”, explica Edu.
E é assim que o bloco vai resistindo e revolucionando, em busca de espaço seguro, voz, representatividade e reconhecimento de seus direitos à mulheres e pessoas LGBTQ+. Assim como fala Edu em entrevista, trazer essa mobilização para a época do carnaval, proporciona irmos além de um momento de festa. “Lacrar é um ato revolucionário. E acreditamos que a nossa revolução se dá pela nossa força e pela alegria de viver que carregamos conosco”.
“Diva pop”
E então, conhecendo um pouco mais sobre a trajetória do bloco, chegamos a idealização de homenagear uma diva do pop a cada ano. Fortalecendo assim, a representatividade feminina, afinal, assim como dita o hino, “Quando a gente tá junta a gente é quase Beyoncé”.
A representatividade do bloco vai além da escolha de uma homenagem feminina. A bateria, produção, corpo musical e a equipe técnica são compostos, na maioria, por mulheres e pessoas LGBTQ+, trazendo uma ideia de novo poder, quebrando padrões patriarcais, machistas e homofóbicos. “Hoje os tempos são outros. As pessoas tem voz, reconhecem seu valor, se apreciam mais e exercem seus direitos”, afirma.
Elza Soares
E é aí que entra a diva homenageada Elza Soares, reconhecida mundialmente e dona de diversas músicas, em paralelo ao tema “Deus é mulher”. A artista, mulher, negra, de origem pobre, que enfrentou dificuldades e preconceitos será agora, representada e homenageada nas ruas de Belo Horizonte, compondo a ideia do Bloco de luta, poder e revolução. “Mesmo do alto dos seus 90 anos de idade e 70 anos de carreira, (Elza) ainda usa sua voz para carregar a luta das mulheres, negros e LGBTs. Ela é um símbolo de resistência, de sororidade e de pensamento coletivo”, declara Edu.
E assim como afirma o bloco, Elza é, com certeza, símbolo de resistência. Em sua música “Maria da Vila Matilde”, a cantora expressa e denuncia a violência contra a mulher. A letra vem como forma de “gritar” o que muitas vezes é ignorado. Além dessa canção, Elza produziu em 2002 a música “A Carne”, que também fazia uma denúncia, dessa vez racial, como mostra o trecho “A carne mais barata do mercado é a carne negra”.
O bloco nas ruas de BH
“O carnaval é um retrato do nosso espírito, mas também é uma construção gigante e que tem potencial pra fazer diferença na vida de muitas pessoas. A economia se movimenta, o turismo acelera, a cidade vira outra. Embora ainda não haja um retorno adequado para os blocos, é muito bonito ver isso acontecer e se sentir parte disso”, conta Edu em relação a fazer parte do carnaval mineiro que vem crescendo cada vez mais.
As novidades do bloco para 2020 são muitas e entre elas, a ala de dança volta a fazer parte da programação. “Tivemos somente no primeiro ano e, por diversas razões, não conseguimos retomar. Mas este ano já estamos com tudo sendo organizado com antecedência. Vai ser muito lacre na ‘coreô’, meu amor”, conta.
Além disso, outra novidade, ainda em segredo, brincando com a ideia de “#garotasmisteriosas”, “Garotas Solteiras” pretende tirar um sonho do papel. Qual novidade será que vem por aí!?
Outra coisa ainda em segredo e muito esperado pelos foliões é o local de concentração do bloco. “Uma das poucas tradições que temos é guardar segredo do local do cortejo até a semana do Carnaval. Quem quiser saber vai ter que seguir a gente nas redes sociais: @blocogarotassolteiras“, explica Ruas.
O carnaval de volta às ruas de Belo Horizonte
E para finalizar a entrevista, com a expectativa em alta para o carnaval, o vocalista aclama a volta do carnaval para às ruas de Belo Horizonte, que hoje chama e movimenta pessoas de todos os lugares, não só de Minas Gerais mas de todo o país.
“Felizmente, a festa tem se tornado muito mais plural, e isso traz desafios técnicos. O maior deles é que, para diversificar os ritmos do Carnaval, é preciso alinhar bateria, preparar levadas, acompanhar tendências, ensaiar muito… Mas o esforço vale. E é muito bom saber que a população de BH reergueu o Carnaval com as próprias mãos, e que isso se reflete na pluralidade de gostos que a gente vê pela avenida. Que bom é poder pular um Carnaval onde todos os gostos tem lugar”, finaliza.
“Somos muitas, e vamos juntas a cada batuque, construir um espaço seguro para nós e para as nossas”, declara Edu.
Confira nossa cobertura, com fotos exclusivas, do “Garotas Solteiras” no ano de 2019: Marcado pela diversidade, carnaval de BH tem até bloco que homenageia divas do pop