A Gerdau, uma das maiores produtoras de aço das Américas, anunciou a demissão de 1,5 mil funcionários e a interrupção de parte dos investimentos programados no Brasil. A medida foi confirmada pelo presidente da companhia, Gustavo Werneck, em entrevista à coluna de Guilherme Fiúza, da Revista Oeste, publicada na última quinta-feira (31 de julho).
Segundo Werneck, a decisão está ligada à crescente perda de competitividade da indústria nacional, motivada principalmente pelo aumento de custos operacionais e pela ausência de políticas públicas voltadas à produção. “Estamos sendo penalizados por decisões equivocadas, como essa tentativa de incentivar veículos elétricos sem base industrial local, enquanto importamos aço da China em condições desiguais”, disse o executivo à Oeste.
Perda de espaço no mercado
A empresa afirma que o aço importado da China está chegando ao Brasil com subsídios e vantagens que tornam impossível competir em pé de igualdade. Ainda de acordo com Werneck, a produção nacional tem enfrentado um ambiente cada vez mais hostil, com altas cargas tributárias, energia cara e uma política industrial “desconectada da realidade”.
O presidente da Gerdau também criticou os incentivos à importação de carros elétricos sem exigência de conteúdo nacional. “O que se está promovendo não é uma transição energética, mas sim uma substituição da nossa indústria por produtos chineses”, afirmou.
A decisão da Gerdau afeta diretamente unidades da companhia localizadas em diferentes estados brasileiros, mas a empresa ainda não divulgou quais operações serão paralisadas ou redimensionadas. Com 122 anos de atuação, a siderúrgica possui 35 mil funcionários em 10 países, sendo 16 mil no Brasil.
Investimentos em xeque
A companhia vinha executando um plano de investimentos robusto, com cerca de R$ 12 bilhões previstos entre 2021 e 2026. Parte desse montante, no entanto, está sendo revista. “O investimento segue onde há ambiente favorável. Hoje, o Brasil perdeu esse lugar”, disse Werneck.
Segundo ele, a empresa continuará com projetos pontuais no país, mas deve concentrar seus principais aportes fora do Brasil, especialmente nos Estados Unidos e em países da América Latina. A Gerdau é considerada uma das empresas brasileiras com maior presença internacional no setor industrial.
A repercussão das demissões e da suspensão de investimentos gerou críticas de representantes do setor produtivo e preocupação entre trabalhadores e sindicatos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) tem alertado para os impactos da desindustrialização, apontando que o país precisa urgentemente de uma política industrial eficaz para conter a perda de empregos e o encolhimento do setor.
E os investimentos em Ouro Preto?
Em meio ao anúncio de demissões e suspensão de parte dos investimentos no Brasil, a Gerdau também destacou, nesta semana, que um dos seus maiores projetos está em pleno andamento em Minas Gerais. A expansão do Projeto Itabiritos, localizado em Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto, está mobilizando R$ 3,2 bilhões e deve entrar em operação no primeiro semestre de 2026.
Com cerca de 4.500 pessoas já trabalhando nas obras, a iniciativa é considerada uma das mais ambiciosas da história da companhia. A estrutura vai fornecer 5,5 milhões de toneladas de pellet feed por ano para abastecer a usina da Gerdau em Ouro Branco, a maior da empresa no estado.
O empreendimento está sendo construído com a tecnologia de empilhamento a seco, sem uso de barragens, o que reduz o impacto ambiental e amplia a segurança. De acordo com a Gerdau, o projeto também deve diminuir a emissão de gases de efeito estufa por tonelada de aço produzida.
“Estamos transformando a região de Miguel Burnier. Esse é um projeto que traz mais competitividade para nossa operação e, ao mesmo tempo, reduz impactos ambientais. Queremos que as pessoas participem dessa mudança”, afirmou Maurício Metes, vice-presidente de Operações da Gerdau Aços Brasil, em vídeo divulgado nas redes da empresa.
Além de infraestrutura para moagem, filtragem e transporte, o projeto também contempla sistemas logísticos internos e externos. A Gerdau reforça que o objetivo é tornar a produção mais sustentável e fortalecer a operação da empresa em Minas Gerais, mesmo diante das dificuldades enfrentadas por outras unidades no país.