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Grão Mogol: cidade de pedra no Norte de Minas ganha destaque no turismo nacional

Cidade da Cordilheira do Espinhaço transforma patrimônio histórico e paisagens naturais em motor de desenvolvimento turístico

Rodolpho Bohrer
Grão Mongol: Cidade de pedra no Norte de Minas ganha destaque no turismo nacional
Destino histórico mineiro cresce com turismo de experiências e geração de renda — Crédito: IEPHA/Divulgação

No alto da Serra Geral, no Norte de Minas Gerais, Grão Mogol surge como um destino que combina história, natureza e identidade cultural de forma singular. Localizada a cerca de 560 quilômetros de Belo Horizonte, a cidade tem como principal porta de entrada aérea o Aeroporto Mário Ribeiro, em Montes Claros, distante aproximadamente 120 quilômetros. A partir dali, o acesso é feito por rodovias que atravessam o sertão mineiro e revelam, aos poucos, a paisagem da Cordilheira do Espinhaço.

Fundada durante o ciclo dos diamantes, Grão Mogol preserva marcas profundas do período colonial. O passado ligado ao garimpo está presente não apenas nos registros históricos, mas também no traçado urbano, nas trilhas antigas, nas cachoeiras e, sobretudo, na arquitetura em pedra que se tornou símbolo da cidade. Ruas pavimentadas com blocos irregulares, muros rústicos e edificações erguidas com mão de obra escravizada formam um conjunto arquitetônico tombado que atravessou séculos.

Essa relação íntima com a pedra fez com que Grão Mogol ganhasse, informalmente, o título de “cidade de pedra”. Em muitas construções do centro histórico, o revestimento colonial foi retirado ao longo do tempo, revelando paredes de pedra cuidadosamente encaixadas. O resultado é um cenário urbano de aparência austera e, ao mesmo tempo, singular, que diferencia o município de outros destinos históricos mineiros.

Um dos marcos mais conhecidos é a Igreja Matriz de Santo Antônio, construída em pedra e considerada o principal cartão-postal local. A edificação resume bem a estética que define Grão Mogol: simplicidade formal, robustez e integração com a paisagem serrana.

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Igreja Matriz de Santo Antônio — Crédito: SECULT-MG

Entre os detalhes menos evidentes, mas carregados de significado histórico, estão os chamados sóis maçônicos. Ainda visíveis em trechos da pavimentação original, esses símbolos foram formados pela disposição das pedras em frente às residências de membros da maçonaria. Apesar de parte desses registros ter se perdido com reformas ao longo dos anos, ao menos três exemplares permanecem na Rua Direita, oficialmente chamada de Rua Cristiano Relo.

Cidade a 120 km de Montes Claros se firma como novo polo turístico de Minas — Crédito: SECULT-MG

A própria origem do nome Grão Mogol carrega versões distintas, todas ligadas ao período do garimpo. Há quem associe o nome aos conflitos e disputas violentas entre garimpeiros, refletidos até nos nomes dos cursos d’água locais, como o Ribeirão do Inferno e o Córrego das Mortes. Outra hipótese relaciona o nome a um famoso diamante indiano conhecido como “Grande Mongol”. Em comum, as versões reforçam o vínculo da cidade com os diamantes e com um passado marcado tanto pela riqueza quanto por tensões sociais.

Além do patrimônio histórico, Grão Mogol se consolidou como um importante polo de turismo de natureza. Inserida na Cordilheira do Espinhaço, a região abriga trilhas, cachoeiras, formações rochosas e espécies endêmicas da fauna e da flora. O Parque Estadual de Grão Mogol é um dos principais atrativos, reunindo paisagens preservadas e áreas de visitação controlada.

Nos últimos anos, esse conjunto de atributos passou a ser trabalhado de forma estratégica. Há cerca de três anos, o município iniciou um plano de desenvolvimento voltado à valorização do turismo. A iniciativa envolveu parcerias com instituições como o Governo de Minas Gerais, Sebrae, Sesc, Senac e operadoras privadas, com foco na qualificação de serviços, melhoria da infraestrutura urbana e promoção do destino.

Segundo a Secretaria Municipal de Turismo, o esforço integrado permitiu estruturar Grão Mogol como um destino voltado ao turismo de experiências. A proposta buscou atrair visitantes interessados não apenas em paisagens, mas também em vivências culturais, históricas e gastronômicas, com maior tempo de permanência e maior gasto médio.

Os resultados começaram a aparecer. O fluxo turístico passou a crescer, em média, cerca de 20% ao ano, e em períodos de maior demanda a ocupação da rede de hospedagem chega a atingir 100%. No mercado de trabalho, o impacto é direto: o número de empregos formais ligados ao turismo cresceu cerca de 50% desde o início da estratégia, com reflexos principalmente entre jovens que passaram a encontrar oportunidades no próprio município.

Esse movimento também chamou a atenção de grandes nomes do setor. Em visita realizada em 2023, o fundador da CVC, Guilherme Paulus, apontou Grão Mogol como uma das apostas do turismo nacional. Para ele, o município reúne características de destinos históricos consolidados, aliando patrimônio cultural, paisagens naturais e investimentos recentes no setor.

Operadoras especializadas passaram a incluir a cidade em seus roteiros. É o caso de empresas que atuam com cicloturismo e turismo de aventura, explorando o relevo, as estradas históricas e os cenários naturais da região. A avaliação do setor privado é de que Grão Mogol reúne condições para se firmar como um destino nacional voltado ao turismo de vilarejo, aventura, cultura e gastronomia.

Entre as novas frentes que ampliaram o leque de experiências está o enoturismo. A Vinícola Vale do Gongo passou a oferecer visitas agendadas, degustações e jantares harmonizados, integrando a produção de vinhos ao contexto natural da Cordilheira do Espinhaço. A proposta conecta o visitante ao território por meio da gastronomia, da paisagem e da cultura local.

A combinação entre patrimônio histórico preservado, natureza exuberante e iniciativas de turismo sustentável transformou Grão Mogol em um exemplo de como cidades do interior podem reinventar sua economia sem perder identidade. Mais do que um destino emergente, o município se apresenta hoje como um território onde passado e presente convivem, moldando novas oportunidades a partir de suas próprias raízes.

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Diretor geral, graduando de jornalismo e redator de cidades e política.