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Se você não tem acompanhado as notícias sobre inteligência artificial, seja por falta de tempo, acesso ou simplesmente por desinteresse, confesso que sinto um pouco de inveja. Porque eu tenho acompanhado. E, sinceramente, isso tem me tirado o sono.
A cada novo vídeo, reportagem ou anúncio de inovação, uma angústia cresce no peito. Robôs humanoides que se comunicam com precisão e até empatia. Sistemas autônomos capazes de realizar desde serviços braçais até tarefas complexas como a gestão de um condomínio inteiro. IA que planeja, executa e se adapta melhor do que nós. Isso está acontecendo agora.
Já vi sistemas que criam redes sociais do zero para empresas — nome, identidade visual, conteúdo e até estratégia de engajamento. IA no volante, no comando de máquinas em minas, nos hospitais, nos tribunais. Em alguns lugares, basta alguns minutos para um robô ler todo um processo jurídico e apresentar uma decisão mais rápida e precisa do que muitos juízes humanos levariam semanas para produzir.
E isso não para por aí.
Hoje, existem aplicativos com inteligência artificial que montam dietas personalizadas de acordo com suas alergias, rotina e objetivos. A IA coleta seus dados, cruza com estudos científicos e entrega um plano nutricional em segundos — algo que levaria dias para um nutricionista humano.
O mesmo está acontecendo com a educação física. Plataformas de treino usam IA para criar planos de exercícios sob medida, com vídeos, cronogramas e ajustes automáticos conforme seu desempenho — sem um profissional sequer presente.
Na educação, professores já competem com tutores digitais baseados em IA que ensinam com respostas instantâneas e reforço personalizado. E na saúde mental, surgem “terapeutas artificiais”, prontos para acolher desabafos, analisar emoções e sugerir soluções — com empatia simulada e estatísticas reais.
E ainda há sistemas de recrutamento que fazem todo o trabalho de seleção de pessoal com base em dados, sem contato humano. Softwares que escrevem músicas, livros, poemas, artigos. Que dublam vozes humanas. Que criam rostos que nunca existiram.
Sim, é impressionante. Mas é também profundamente assustador.
A ilusão do controle e a ansiedade do desconhecido
Talvez o mais inquietante não seja o que a IA já é capaz de fazer, mas o fato de que não sabemos onde isso vai parar.
As fronteiras entre o possível e o impossível têm sido ultrapassadas em ritmo tão acelerado que mal conseguimos processar a mudança anterior antes de sermos engolidos pela próxima.
Essa sensação de deslocamento e impotência não é só minha. Conversando com amigos, lendo fóruns, assistindo a entrevistas, percebo que não sou o único a perder noites de sono pensando nisso. O medo do futuro, que sempre existiu em alguma medida, hoje parece ser uma ansiedade coletiva. E não mais exclusiva dos jovens.
A saúde mental na era das máquinas
É impossível ignorar o impacto psicológico desse cenário. A cada nova automação, uma profissão ameaça desaparecer. A cada sistema mais eficiente, mais humanos se sentem descartáveis.
E isso não está apenas ligado ao medo de perder o emprego — é o medo de perder o propósito, o lugar no mundo.
Enquanto nos vendem a ideia de que a IA “veio para nos ajudar”, muitos de nós só enxergam um espelho distorcido — mais rápido, mais inteligente, mais eficiente. Como competir com isso?
Estamos diante de uma revolução que não é apenas tecnológica. É existencial.
O futuro precisa ser mais do que eficiente
Talvez, mais do que nos perguntar o que a IA pode fazer, devêssemos nos perguntar o que queremos que ela faça. E principalmente: o que não queremos perder nesse processo.
O afeto. A arte. O erro. O tempo.
Essas coisas que nos fazem humanos não podem ser apenas ruído estatístico para uma máquina eliminar.
Ainda dá tempo de frear, regular, debater. Mas é preciso querer. É preciso entender que não estamos discutindo apenas tecnologia — estamos discutindo o futuro da vida como conhecemos.
E, acima de tudo, o direito de viver sem medo do amanhã.
Porque o futuro não pode ser só sobre eficiência.
O futuro precisa, acima de tudo, ser habitável.