A Escola de Samba Império do Morro Santana foi fundada em 1957 e é a primeira escola de Ouro Preto. O seu maior diferencial é a valorização do lugar onde é sediada, tanto do bairro quanto da cidade. Inicialmente, ela funcionava no início do bairro, na rua 15 de agosto (a maior rua de Ouro Preto), assim ela agrupava todos os outros bairros do município.
A Império do Morro Santana foi registrada onde é, atualmente, a Casa de Gonzaga, que também é a sede da Secretaria de Turismo, Indústria e Comércio da cidade, por Ângelo Oswaldo, antigo prefeito de Ouro Preto.
Há cerca de quatro anos, a Império do Morro Santana foi para a sua comunidade, propriamente no coração do morro, onde é a praça de esporte do bairro.
Um personagem inesquecível da escola de samba é Antônio Borges Brechó. Ele foi um dos fundadores e manteve na escola até os anos 2000, quando ganharam o carnaval. Mas Antônio parou de trabalhar com a Império do Morro Santana devido a falta de diálogo com a Prefeitura da cidade.
Títulos
Se for seguir a linha cronológica, a Império do Morro Santana é a escola que mais possui títulos. São 18 títulos de primeiro lugar, sendo seis conquistados consecutivamente (de 1986 a 1992). Mas a última vez que a escola ganhou um carnaval em primeiro lugar foi no ano de 2000, ou seja, há vinte anos atrás.
Batuque próprio
Mas o diferencial da escola de samba está no ritmo da bateria. Em Ouro Preto há uma influência grande da cultura negra, incluindo, também, a música. Então a Império do Morro Santana tem um tipo específico de tocar os instrumentos, desenvolvida independentemente. Algo bem diferente do que se vê nas escolas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo.
Funcionamento
O bairro Morro Santana é o mais populoso de Ouro Preto, com cerca de 12 mil pessoas, portanto, a escola de samba traz toda uma integração com a comunidade, ofertando cursos, oficinas, trabalhando com o time de futebol local, além do samba propriamente. Todos os eventos culturais e sociais do bairro passam pela interseção com a escola de samba.
O presidente da Império, Temystokles Rosa Filho, mais conhecido como “Teco”, conta como é o funcionamento da escola ao longo do ano, e também, nos momentos que antecedem o carnaval.
“Como a gente depende muito da questão de recursos, nós trabalhamos num carnaval sempre pensando no próximo, justamente para poder reaproveitar os materiais. Nós estamos há 37 dias do carnaval e ainda não recebemos verba do município, nem uma sinalização. Então a gente vive buscando material alternativo, reciclando e tudo mais durante esses dias que antecedem o carnaval. Passou-se o desfile, nós juntamos todo o material e separamos para trabalhá-lo já para o próximo ano”, contou o presidente.
A diretoria é formada por 12 pessoas, mas existem os componentes que são chamados de “agregados”, que são os que trabalham com a parte artística da e de eventos da escola. Ao todo, são cerca de 30 participantes ativos na Império do Morro Santana.
No dia do desfile é uma incógnita para a Império. Às vezes é esperado desfilar com 300 pessoas e aparecem 500, ou o contrário, planejam sair com 200 e surgem apenas 100 pessoas.
Tema
Sobre os temas, Teco conta que são escolhidos de forma democrática, todo mundo dá opinião, mas que há uma forma de seleção específica.
“Eu, hoje estou como presidente, mas durante a maioria do tempo em que trabalhei com carnaval, eu fui carnavalesco. Então, os temas, geralmente, são apresentados e discutidos na própria escola. Nós fazemos uma espécie de peneira e deixamos quatro temas a serem decididos. Quando vai chegando perto da época de carnaval, a gente faz uma comparação com as outras escolas para ver se estamos no páreo”, conta Temystokles.
Para o carnaval deste ano, Teco conta que a Império do Morro Santana precisou fazer essa comparação com as outras escolas para decidir o tema, mas que fará um espetáculo “mágico” na Praça Tiradentes.
“No carnaval deste ano, nós estamos falando sobre ‘O Mundo Mágico’, em que vamos falar da mágica e da magia desde os tempos do Egito. Mas esse não era o tema que iríamos trabalhar de início. Antes, queríamos falar sobre os 300 anos da sedição de Vila Rica, porque o Morro Santana e Morro da Queimada fazem parte e tem uma história muito rica. Mas não pudemos trabalhar com isso, porque todas outras escolas estão trabalhando temas divertidos e se o Morro viesse falando de algo sério, poderia espantar”, explica o presidente da Império.
Mudança dos tempos
Temystokles, com 15 anos de carnaval na cidade, conta como enxerga a mudança dos tempos carnavalescos de Ouro Preto. E ainda, o quanto isso prejudica todas as escolas de samba, mas a Império principalmente.
“O tempo foi mudando. Hoje, as pessoas não são propriamente do carnaval de escola de samba. O carnaval de Ouro Preto vem se massificando, mas perdendo qualidade cultural também. Teve uma época que todo mundo ia para assistir as escolas, mas hoje todo mundo compra o abadá de bloco. E, inclusive, nós temos um grande problema que, quando vai chegando perto do carnaval, temos dificuldades para ensaiar, porque os blocos também começam a ensaiar com frequência. Aí a galera que toca com a gente na bateria, toca no bloco também. Então a diferença do carnaval é essa, ele foi ganhando um novo tipo de corpo, mas perdendo a qualidade”, alegou o presidente.
Mas com o retorno à suas origens, o carnaval de Ouro Preto de 2020 prometerá grandes desfiles e, claro, terá a presença marcante da escola de samba pioneira da cidade trazendo magia carnavalesca para todos os foliões.
Leia também: Escola de Samba Acadêmicos do São Cristóvão: conheça a atual campeã do carnaval de Ouro Preto