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O Santuário do Caraça é conhecido por sua história, suas belezas naturais, mas se destaca, também, por momentos únicos e marcantes, como a Hora do Lobo, protagonizada pelo lobo-guará, que vai até a escadaria do destino turístico desde maio de 1982 encantando turistas e visitantes. Por esse motivo, acabou se tornando mais do que uma visita ilustre, mas um ícone local. Por todo esse cuidado e carinho com o canídeo, o Santuário, em parceria com o Instituto Pró-Carnívoros, escreveu o projeto “Turismo de Observação do lobo-guará como ferramenta de conservação”, que foi contemplado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), através da Plataforma Semente, para ajudar na preservação e cuidados com o animal.
A primeira boa notícia já chegou. Em um cenário de recuperação após os devastadores incêndios em setembro e outubro do ano passado, foi registrado nascimento de dois filhotes de lobo-guará, filhos da loba Sampaia, monitorada por rádio colar. A confirmação, capturada pelas câmeras de monitoramento, reacende a esperança e sublinha o papel fundamental do Santuário na preservação da espécie.
Douglas Henrique, biólogo e coordenador ambiental do Santuário do Caraça, expressou o alívio e a emoção da equipe. “Depois dos incêndios do ano passado, estávamos acompanhando os lobos e tínhamos a esperança de que havia ocorrido reprodução. Ficamos apreensivos, pois diante do cenário de destruição, não sabíamos se os filhotes dos lobos tinham sobrevivido ou não, mas a imagem dos lobinhos nas câmeras do projeto trouxe a confirmação de que Sampaia conseguiu salvar seus filhotes”, relata.
O biólogo enfatiza a importância da notícia para o Santuário do Caraça. “Essa relação com os filhotes é importante porque os pais ensinam tudo para eles. E essa tradição dos lobos no Caraça só se permanece porque os filhotes aprendem com os pais a subir no adro. O registro dos filhotes, inclusive no adro da igreja, demonstra que o Santuário continua a ser um refúgio vital para a espécie. É um marco importante pois mostra que nós contribuímos para a conservação do lobo. Desde 2015 são registrados eventos de nascimento de lobos no Caraça, ao longo desses anos, mais de 20 lobos nasceram e cresceram por aqui. Uma pergunta importante que o projeto quer responder é: ‘para onde vão esses filhotes depois que crescem e atingem a idade adulta?’”, acrescenta Douglas Henrique.
Monitoramento de lobos
O Santuário do Caraça foi contemplado com um projeto de monitoramento da espécie, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais, execução pelo Instituto Pró-Carnívoros e supervisão do ICMBIO. O projeto utilizará rádio colares e câmeras trap para entender as ameaças e fortalecer a conservação.
De acordo com coordenador ambiental do Caraça, o trabalho tem como foco entender as ameaças regionais que os lobos vêm sofrendo. “O objetivo é monitorar o lobo-guará e conhecer de perto quais são os conflitos vividos pela espécie. Pretendemos diagnosticar a população, identificar as ameaças regionais, entender as áreas de uso dessa espécie e avaliar o comportamento em função dessa ambientação. Esse projeto tem algumas ramificações e a principal delas é a avaliação da saúde desses animais, que são informações que carecem de pesquisas de médio a longo prazo. Alguns estudos apontam que vários lobos têm sofrido com zoonose, principalmente a sarna e a cinomose. Esta doença ocorre através do contato direto ou indireto dos animais silvestres com animais domésticos doentes.
O monitoramento dos lobos é realizado através de duas metodologias: o uso de rádio colar, que é um equipamento que vai nos mostrar quais os caminhos o animal percorre. Além disso, também são utilizadas armadilhas fotográficas, conhecidas como Trap, espalhadas na natureza, que possuem um sensor de calor e movimento, sendo disparadas automaticamente quando um animal passa na sua frente, explica.
Segundo Douglas Henrique, todo o trabalho com o lobo-guará é executado pelo Instituto Pró-Carnívoros. “Essa entidade é referência nos estudos de carnívoros do Brasil e especialmente o Lobo-Guará. Assim, o Santuário do Caraça contribuirá com informações cientificas sobre a espécie, já que aqui ela está dentro de uma unidade de preservação. No entanto, o seu entorno sofre constantes ameaças, seja do crescimento urbano e da monocultura de eucalipto, da mineração, das estradas e por isso, queremos entender qual a importância dos lobos do Caraça para a continuidade da espécie dentro do Quadrilátero Ferrífero e em Minas Gerais. Sabemos que a espécie está sempre se reproduzindo, mas queremos verificar se esses indivíduos estão sobrevivendo, para onde vão e o que acontece com eles”, completa.
Desmistificar lendas
Além disso, o coordenador ambiental do Caraça, diz que o trabalho chega parar destituir qualquer tipo de narrativa a respeito da casta. “Outro aspecto muito interessante desse trabalho é de desmistificar as histórias e lendas ao redor do lobo-guará. Desta forma, as comunidades do entorno serão sensibilizadas da importância dessa espécie nativa dentro do Santuário do Caraça, mas também, nas proximidades. Isso, porque ele é importante, já que é um dispersor de sementes e um animal que controla alguns roedores, serpentes. Ou seja, queremos mostrar a importância desse convívio equilibrado e ecológico. Assim, reforçamos que esse será um trabalho muito importante e que com certeza, terá bons frutos para toda a região. Manter a espécie é preservar a nossa natureza”, conclui.
Sobre o Santuário do Caraça

O complexo é tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e Estadual. Foi escolhido como uma das Sete Maravilhas da Estrada Real. Conta com um amplo Conjunto Arquitetônico onde estão a primeira igreja de estilo neogótico do Brasil, o prédio do antigo Colégio (hoje Museu e Biblioteca), o hotel com 57 apartamentos e quartos, com capacidade para até 230 pessoas, e a Fazenda do Engenho, com 26 apartamentos. O local possui enorme diversidade de fauna e flora, com raridades de animais e plantas no meio ambiente. Na ampla diversidade de sua fauna, há 386 espécies de aves, 64 espécies de anfíbios, 54 espécies de répteis, 12 espécies de peixes e 76 espécies de mamíferos.
A Reserva Particular do Patrimônio Natural do Santuário do Caraça faz parte de duas importantes reservas ecológicas, as Reservas da Biosfera da Serra do Espinhaço Sul e a da Mata Atlântica, onde há diversas espécies de flora e fauna, algumas encontradas somente no Complexo do Santuário do Caraça, que fica na transição entre Mata Atlântica e Cerrado, onde também há campos rupestres. Em suas serras há nascentes, ribeirões e lagos que possuem águas de coloração escura, que carreiam material orgânico em suspensão. O clima tem baixas temperaturas e elevada umidade do ar, comuns em ambientes de mata. O território do Complexo do Caraça integra a Área de Proteção Ambiental ao Sul da Região Metropolitana de BH, onde começam duas grandes bacias hidrográficas, a do rio São Francisco e a do rio Doce, que abastecem aproximadamente 70% da população de Belo Horizonte e 50% da população de sua região metropolitana.
Santuário do Caraça
- Endereço: Estrada do Caraça, Km 9 – Entre os municípios de Catas Altas e Santa Bárbara – CEP 35960-000
- Fácil acesso pelas rodovias BR 381 e MG 436, além do da possibilidade de ir por trem (Estação Dois Irmãos – Barão de Cocais)
- Taxa entrada:
- R$ 35 (em dias de semana)
- Finais de semana, feriados e datas comemorativas:
- R$45 (por pessoa).
- Idosos: 50% de desconto.
- Moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara possuem 50% de desconto.
- Entrada gratuita na 1ª quarta-feira de cada mês para os moradores de Barão de Cocais, Catas Altas e Santa Bárbara.