Hoje não vou falar de política | Patrick de Araújo

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Há um mês a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi brutalmente assassinada em via pública, gostaria muito ter escrito um texto, aqui na coluna, sobre a morte da vereadora. Queria escrever aos leitores o quanto o assassinato da vereadora diz sobre esse nosso Brasil. E para ser bem sincero, não o escrevi porque acredito que pessoas mais habilitadas já o fizeram bem melhor do que eu poderia ter feito. Ainda tenho um longo caminho para aprender a escrever e a enxergar os acontecimentos desse mundo com a lucidez de algumas pessoas. No entanto, quase um mês depois da morte de Marielle, o ex-presidente Lula é preso. E eu também queria escrever sobre isso, mas não queria escrever sob total influência dos sentimentos que a prisão de Lula despertaram em mim. Contudo, os dois casos, muito diferentes em suas especificidades, despertaram algumas reações semelhantes que me incomodaram muito e há situações em que o silêncio não é a melhor opção, é preciso falar.

A reação de que falo é o discurso de ódio despejado diante dos dois casos. No caso de Marielle a situação é ainda mais grave. Imagine leitor, que você receba a notícia de que a sua mãe, irmã, filha, amiga, uma pessoa próxima, que você ama, foi assassinada no meio da rua e além de lidar com a morte do seu ente querido você é obrigado a ver várias investidas contra a imagem daquela pessoa que você tanto amava. São falsas notícias, memes, deboches, e o pior, você é obrigado a ouvir que aquela morte brutal, com quatro tiros na cabeça foi bem feito, porque pessoas discordam ou não entendem o posicionamento político dela. Difícil né, leitor?

No caso de Lula, há muito tempo ele é alvo desse discurso de ódio, assim como a família de Marielle, Lula e seus filhos não tiveram paz quando Dona Marisa Letícia, a esposa do ex-presidente, faleceu no ano passado. Agora com o petista preso em Curitiba, não foram poucas as manifestações de pessoas que desejam a sua morte dentro da prisão. O leitor deve ter visto o vídeo do “empresário” Oscar Maroni, dono do Bahamas Hotel Club, em São Paulo, se o leitor pesquisar o nome do hotel no Google irá entender as aspas na palavra empresário. Não são poucos os comentários, os memes, que narram o desejo de que Lula morra na prisão. E também não foram poucos os casos em que os manifestantes pró-Lula também agrediram jornalistas, e manifestantes que comemoravam a prisão do ex-presidente. Sem falar nas agressões, ofensas, xingamentos pela internet afora. De ambos os lados.

Não interessa se você é de direita ou de esquerda, se você acredita que o Lula é corrupto, ou não, se você concorda ou discorda da atuação política da Marielle em vida, não importa. O que interessa é que somos feitos das mesmas composições químicas, somos carne, pele e ossos, do mesmo jeito, e no final não importa sua posição política, o tamanho da sua conta bancária, é bem provável que vamos parar em um buraco embaixo da terra. Em 2013 o jornalista Leonardo Sakamoto escreveu no seu blog no portal Uol um texto intitulado: Se Jesus andasse por aí hoje, certamente apanharia do povo. Sakamoto escreve em um sábado de aleluia e fala sobre a tradição de malhar o Judas, e como usamos de violência para fazer “justiça”. Provavelmente, com essa disseminação de ódio, essa raiva que anda circulando por aí, uma pessoa pregar o amor ao próximo, mesmo que esse próximo seja completamente diferente de você, mesmo que ela tenha cometido um crime, sim, o Cristo ressuscitado seria crucificado de novo.

Este texto não é sobre política é sobre humanidade. É sobre empatia. É sobre enxergar o outro como uma pessoa que assim como você tem sentimentos, tem uma vida, tem angústias, opiniões e merece respeito. Tudo bem não concordar com opiniões diferentes. Tudo bem, não concordar com Marielle ou com Lula, mas as coisas não ficam bem quando você bate palmas para a morte de uma mulher e deseja a morte de outra pessoa. Ultimamente anda difícil, mas eu ainda tenho fé nas pessoas, ainda acredito que não perdemos nossa humanidade, ainda que às vezes alguns fatos tentam nos mostrar o contrário, mas acredito sim que somos capazes de amar mais, de construir um mundo mais humano, e de conviver as diferenças.

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