Quando se fala em “maior palavra da língua portuguesa”, é comum que muita gente lembre de inconstitucionalissimamente. O termo é conhecido por figurar em listas escolares e campeonatos de soletração, com suas 27 letras e sua sonoridade complicada. Mas e se a maior palavra não fosse apenas uma questão de comprimento?
Tecnicamente, o título de maior palavra registrada em dicionários pertence a pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico, com 46 letras e 19 sílabas. O termo é um adjetivo derivado de uma doença pulmonar rara causada pela inalação de partículas de cinzas vulcânicas com sílica. Mas o que pouca gente sabe é que essa palavra, apesar de constar em registros lexicográficos, é artificial. Ou seja: foi criada com a intenção de ser grande, e não por uso espontâneo da língua.
Sua origem remonta a 1935, quando o presidente de uma sociedade de enigmas e palavras nos Estados Unidos, Everett M. Smith, cunhou a versão em inglês do termo: pneumonoultramicroscopicsilicovolcanoconiosis. A tradução para o português é posterior e quase não encontra aplicação fora de contextos técnicos ou humorísticos. Everett criou o termo ao combinar prefixos e radicais de origem grega e latina, formando uma nova denominação para uma doença que já possuía um nome científico previamente estabelecido.
E é aqui que a pergunta se expande: a maior palavra é só a mais longa? Ou seria aquela que carrega o maior número de sentidos, usos ou impactos culturais?
Palavras como “saudade”, por exemplo, têm poucas letras, mas carregam uma densidade semântica gigantesca, ao ponto de serem consideradas intraduzíveis. Já “anticonstitucionalmente”, com suas 22 letras, é usada com mais frequência e tem presença garantida em discursos políticos e jurídicos. Outras, como “hipopotomonstrosesquipedaliofobia”, que ironicamente significa o medo de palavras grandes, desafiam o próprio conceito de linguagem acessível.
Se ampliarmos ainda mais o critério, a “maior palavra” pode ser uma expressão cultural, um reflexo da nossa criatividade linguística. Afinal, a língua não é feita apenas de registros oficiais, mas de invenções, exageros, ironias e afetos. Exatamente por isso temos as figuras de linguagem: ferramentas que ampliam os limites do dizer.
Portanto, a resposta à pergunta não é tão simples. Sim, pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico é a mais longa palavra dicionarizada. Mas a “maior”, no sentido mais amplo da linguagem, talvez seja aquela que mais nos representa, seja pelo tamanho físico, pela riqueza de significados ou pelo impacto na cultura.
Afinal, no português, até o tamanho de uma palavra pode ser interpretado de mais de uma maneira.