Conhecida como “primaz de Minas”, Mariana foi a primeira vila (1711), a primeira capital (1712), a primeira cidade (1745) e a sede da primeira diocese (1745) da capitania. Essas primazias não são apenas registros cronológicos, mas representam o lugar originário da administração colonial mineira. O protagonismo da cidade é reafirmado simbolicamente no “Dia de Minas”, celebrado anualmente em 16 de julho, com a transferência simbólica da capital do estado para o município.
Esse papel pioneiro está diretamente associado ao Ciclo do Ouro, que teve início por volta de 1695 e marcou a maior corrida aurífera da história colonial brasileira. Estima-se que cerca de 700 toneladas de ouro, de um total de 1.421 toneladas produzidas no mundo entre 1695 e 1800, tenham saído de Minas Gerais. Mariana, junto a Ouro Preto, esteve no epicentro desse ciclo, atraindo levas de migrantes, promovendo rápido povoamento e transformações socioeconômicas que exigiram a estruturação formal do território.
Linha do tempo das primazias de Mariana
A seguir, os principais marcos históricos que definiram o papel fundacional da cidade:
Tabela 1 – Linha do tempo das primazias de Mariana
Ano | Evento | Descrição |
---|---|---|
1696 | Descoberta de ouro | Bandeirantes liderados por Salvador Fernandes Furtado de Mendonça encontram ouro no Ribeirão do Carmo. |
1709 | Criação da Capitania | Surge a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, com governo sobre vasto território colonial. |
1711 | Elevação a vila | Arraial é elevado à Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo, a primeira de Minas. |
1712 | Estabelecimento como capital | A vila torna-se capital da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro. |
1720 | Criação da Capitania de Minas Gerais | A nova capitania é criada e a capital transferida para Vila Rica (Ouro Preto). |
1745 | Elevação a cidade e sede do bispado | Mariana torna-se cidade e sede do primeiro bispado de Minas, em homenagem à rainha Maria Ana. |
1979 | Instituição do Dia de Minas | Lei estadual transfere simbolicamente a capital para Mariana em 16 de julho. |
Do arraial minerador à sede administrativa
O nascimento de Mariana está associado à descoberta de ouro em 1696. O arraial formado às margens do Ribeirão Nossa Senhora do Carmo cresceu rapidamente, levando à sua elevação a vila em 1711. Em 1712, já era escolhida como a primeira capital da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, então o maior território administrativo do Brasil Colônia. Mariana concentrava o poder sobre Minas, São Paulo e Goiás.
A formalização da administração, com a criação das primeiras vilas — Mariana, Vila Rica e Sabará — e da primeira Câmara de Minas Gerais, visava coibir desordens e facilitar a arrecadação de tributos, como o quinto. Mariana tornou-se, nesse momento, o centro político de uma capitania com alcance continental.
Elevação a cidade planejada e sede do bispado
Em 1745, Mariana foi elevada à categoria de cidade e tornou-se sede do primeiro bispado mineiro. Essa mudança consolidou sua importância não apenas política, mas religiosa. O primeiro bispo, D. Frei Manoel da Cruz, transferiu-se para a cidade, intensificando a presença institucional da Igreja.
Diferente das demais vilas mineradoras, o traçado urbano de Mariana foi planejado, sob projeto do engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim. A cidade foi redesenhada após a enchente de 1742, com ruas retilíneas e praças regulares, refletindo a estética barroca e os preceitos urbanísticos modernos da época.
Esse planejamento não tinha apenas função estética. Ele permitia melhor controle administrativo, eficiência na cobrança de impostos e facilitava a atuação do poder colonial, sendo Mariana um raro exemplo de urbanismo racional em meio à espontaneidade caótica dos arraiais mineradores.
A transferência da capital e seus motivos
A primazia de Mariana como capital durou até 1720, quando o rei D. João V ordenou a criação da Capitania de Minas Gerais e a capital foi transferida para Vila Rica (atual Ouro Preto). A decisão foi política, econômica e estratégica.
Tabela 2 – Motivações para a transferência da capital para Vila Rica
Fator | Explicação |
---|---|
Eficiência administrativa | Dividir o extenso território da antiga capitania tornou a administração mais eficaz. |
Controle fiscal | Vila Rica era o centro minerador mais produtivo; instalar ali a sede era garantir fiscalização direta. |
Supressão de revoltas | Após a Revolta de Vila Rica, a presença da Coroa na cidade reforçava a autoridade colonial. |
Alianças políticas | Ouro Preto havia se aliado aos portugueses durante a Guerra dos Emboabas, ao contrário de Mariana. |
A transferência também teve caráter simbólico, consolidando o controle sobre o centro minerador mais ativo e representando um afastamento da influência dos paulistas, protagonistas da fundação de Mariana.
Mariana após a perda da capital: permanência da primazia
Mesmo com a perda do status político, Mariana preservou sua centralidade histórica e simbólica. Em 1979, o Dia de Minas foi instituído por lei estadual, marcando 16 de julho como a data em que, simbolicamente, a capital de Minas retorna à sua origem. A celebração reitera anualmente o papel fundacional da cidade.
A cidade também abriga um dos mais ricos acervos arquitetônicos coloniais do Brasil e foi tombada como Monumento Nacional em 1945. Esse reconhecimento reforça seu valor cultural e histórico para o país.
Mariana hoje: identidade histórica e economia do turismo
Atualmente, Mariana articula sua relevância histórica com sua economia. O turismo cultural e patrimonial é uma das principais atividades da cidade, que também ainda mantém atividades ligadas à mineração.
Entre seus principais atrativos turísticos estão:
Tabela 3 – Patrimônios turísticos e econômicos de Mariana
Patrimônio | Descrição |
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Mina da Passagem | Uma das maiores minas visitáveis do mundo, explorada por turistas com descida em trolley. |
Conjunto Arquitetônico do Centro Histórico | Igrejas, museus e sobrados do período colonial, com destaque para a Catedral da Sé. |
Circuito Estrada Real e Trilha dos Inconfidentes | Mariana integra roteiros históricos e ecológicos de grande atração nacional. |
Morros de Santana e Santo Antônio | Áreas de mineração histórica com importância arqueológica e paisagística. |
Conclusão: o legado ativo da cidade primaz
Mariana não é apenas um relicário do passado. Seu legado está vivo, visível em sua arquitetura, em seus eventos e na forma como a cidade se insere na memória coletiva de Minas Gerais. A cidade faz de sua história um ativo econômico e cultural, reafirmando sua identidade fundacional como matriz simbólica do estado.
O título de “primaz”, longe de ser apenas uma referência cronológica, é um elemento estruturante de sua identidade contemporânea. Mariana é, e continuará sendo, o berço de Minas Gerais.
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