Míriam Leitão é eleita para a Academia Brasileira de Letras e reacende debate sobre diversidade na ABL

Por João Paulo Silva
Míriam Leitão é eleita para a Academia Brasileira de Letras e reacende debate sobre diversidade na ABL

A eleição da jornalista e escritora Míriam Leitão para a cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta quarta-feira (30), reacendeu discussões antigas sobre os critérios e a representatividade da instituição. Ela obteve 20 votos e superou nomes como o ex-senador Cristovam Buarque (14 votos), além de outros 13 candidatos, entre eles o jornalista Tom Farias e a escritora Marcia Camargos.

Com 16 livros publicados, que vão da literatura infantil à análise política, Leitão cumpre formalmente os critérios exigidos pelo estatuto da ABL, que preveem obras de “reconhecido mérito literário”. Sua atuação no jornalismo é extensa, marcada pela cobertura econômica e política, e o jornalismo, enquanto atividade discursiva e narrativa, também integra o campo das letras.

Ainda assim, a escolha de Míriam Leitão para a vaga deixada por Carlos Diegues (1940-2025), cineasta de forte expressão cultural, gerou reações divergentes. Para críticos da eleição, nomes como Conceição Evaristo, há anos peregrinando pelo circuito de candidaturas à Academia Brasileira de Letras, representam uma lacuna incompreensível. Autora de destaque na literatura contemporânea, Evaristo tem uma obra que incorpora questões raciais, sociais e de gênero, e sua ausência na ABL é um reflexo de um conservadorismo estrutural da casa fundada em 1897.

Não se trata, no entanto, de desmerecer a trajetória de Leitão. Muito pelo contrário! Seu ingresso simboliza o reconhecimento de uma carreira dedicada à reflexão crítica sobre o Brasil, além de evidenciar o vínculo entre o ofício jornalístico e a tradição literária. Como apontado por Machado de Assis na sessão inaugural da Academia, a constância e a estabilidade da instituição dependem de sua abertura ao novo, sem, contudo, abandonar a tradição.

A história da ABL é marcada por ausências significativas: Lima Barreto, recusado duas vezes, escreveu que sua vida “irregular e contestatória” não cabia no fardão de imortal. Carlos Drummond de Andrade sequer tentou candidatar-se, afirmando não ter vocação para os rituais da casa. A eleição de Míriam Leitão deve ser vista, portanto, como parte de um processo mais amplo: a renovação da ABL exige não só currículos consolidados, mas também a escuta ativa de vozes diversas e historicamente silenciadas.

A questão permanece: que Brasil a ABL pretende representar no século XXI?

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