Imagine assistir a um filme que parece um documentário real, mas que, na verdade, é pura ficção. Esse é o mocumentário, um gênero que mistura criatividade e sátira, deixando o espectador entre o riso e a dúvida. A palavra, que vem do inglês “mockumentary” (de mock, ‘falso’, e documentary, ‘documentário’), já ganhou seu lugar no nosso vocabulário oficial, sendo incluída no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) pela Academia Brasileira de Letras (ABL).
Mas o que exatamente define um mocumentário? Ele é uma obra audiovisual – seja filme, série ou vídeo – que imita o estilo dos documentários tradicionais. O uso de narração séria, depoimentos “realistas”, imagens de arquivo e câmeras trêmulas criam a ilusão de veracidade. Porém, tudo é cuidadosamente roteirizado para entreter, provocar ou até confundir quem assiste.
Um exemplo brasileiro de destaque é “Recife Frio”, de Kleber Mendonça Filho. O curta explora uma mudança climática fictícia que transforma a ensolarada Recife em uma cidade de clima frio e melancólico. Com uma abordagem cômica e crítica, o filme brinca com o formato documental para falar de questões sociais e culturais. Já no cenário internacional, quem não lembra de “Borat” (2006) ou “Brüno” (2009)? As obras de Sacha Baron Cohen arrancam gargalhadas enquanto fazem reflexões ácidas sobre política, preconceitos e costumes.
O mocumentário também é um prato cheio para explorar a criatividade linguística. Ele exemplifica como a língua portuguesa não é um sistema estático, mas um organismo vivo que absorve novas palavras e sentidos. Nesse caso, o termo foi emprestado do inglês, adaptado e incorporado ao nosso uso cotidiano.
Por trás do riso que os mocumentários despertam, há uma crítica implícita: até que ponto acreditamos no que vemos? Em tempos de fake news e excesso de informações, o gênero faz um convite sutil (e divertido) para questionarmos as “verdades” que nos apresentam.
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“Recife Frio” está disponível no YouTube e você pode assisti-lo a seguir:
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