Recentemente, o clássico “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, escrito por Machado de Assis em 1881, alcançou o topo da lista de mais vendidos nos Estados Unidos, impulsionado por um vídeo viral no TikTok. A influenciadora Courtney Henning Novak proclamou a obra como “o melhor livro já escrito”, o que acabou despertando o interesse de americanos por um dos grandes escritores da literatura brasileira. Enquanto é motivo de orgulho ver Machado de Assis sendo celebrado internacionalmente, esse fenômeno também acende uma discussão sobre como valorizamos – ou muitas vezes deixamos de valorizar – nossa própria literatura.
Machado de Assis, um autor afrodescendente que se elevou ao panteão dos grandes escritores mundiais, frequentemente recebe mais atenção e estudo em cursos universitários fora do Brasil do que nas escolas brasileiras. Sua obra, que inclui romances, contos e poesias, é marcada por introspecção psicológica, crítica social e uma ironia que desafia o leitor a refletir sobre a natureza humana e as estruturas sociais.
No entanto, apesar de sua importância indiscutível, muitos brasileiros só têm um contato superficial com sua obra durante os ensinos fundamental e médio, muitas vezes de maneira descontextualizada e apressada. Isso contribui para uma apreciação limitada de seu genialidade, que vai muito além das exigências curriculares básicas.
A situação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” nos leva a questionar: por que um autor de tal calibre muitas vezes só é redescoberto ou valorizado após o reconhecimento vindo de fora? Este fenômeno não é exclusivo de Machado de Assis; ocorre com diversos aspectos da cultura brasileira, desde a música até as artes visuais. Parece que muitas vezes precisamos da validação externa para reconhecer o valor do que é nosso.
A influência de influenciadores digitais na literatura é outro ponto de reflexão. Enquanto é positivo que figuras como Courtney Henning Novak possam trazer obras clássicas para o público contemporâneo, isso também levanta questões sobre como as preferências e as opiniões são formadas e disseminadas na era digital. A viralização de uma obra pode acontecer rapidamente, mas o entendimento profundo e crítico de seu conteúdo requer tempo e dedicação.
É essencial que, como sociedade, fortaleçamos as políticas de educação e incentivo à leitura que permitam a cada brasileiro conhecer e valorizar as riquezas de nossa literatura. Iniciativas que promovam não só Machado de Assis, mas também outros autores fundamentais, devem ser priorizadas. Além disso, é importante que as discussões literárias sejam inclusivas e acessíveis a todos. Enquanto celebramos o reconhecimento de Machado de Assis nos EUA, devemos também refletir sobre como podemos melhor celebrar e valorizar nosso patrimônio literário dentro de nossas próprias fronteiras.