Em quatro anos, pessoas do nosso círculo social se tornaram agressivas e intolerantes com quem pensa diferente. Vivemos uma verdadeira pandemia de zumbis ideológicos de pessoas concordando, sem o mínimo de questionamento, com tudo que uma única pessoa – sem formação histórica, cultural ou filosófica – diz e faz.
Bolsonaro é o líder do senso comum e lidera uma parte da nação incapaz de “enxergar o que está ao lado”. Muitas dessas pessoas se orgulham de nunca terem lido um livro na vida, e até por isso são incapazes de discordarem ou de questionarem o que está, não muito, mas um pouquinho além do que sua visão míope é capaz de alcançar. Essas pessoas relativizam o fato de um governador não conhecer uma das principais ícones da literatura do seu estado, afinal, elas também não conhecem e não fazem questão de conhecer. O mundo é o que eu consigo enxergar, qualquer coisa fora disso é invenção comunista. Repassam uma notícia recebida no “ZAP” sem saber de onde vem, quem escreveu, de qual jornal é e o intuito da publicação, afinal, se a notícia fala algo contra o governo Bolsonaro, é a mídia comunista que quer ver o “atraso do país”, que “está falindo”, que “está sem verba do governo”, e se fala bem “essa sim é uma imprensa de verdade”. Essas pessoas não sabem sequer a função básica da imprensa, e nem querem saber.
Nesses longos quatro anos, pessoas até então respeitadas na sociedade, com histórico profissional e de vida de nos encher de admiração, jogaram sua reputação na lama em troca de combater “um mal maior” que nunca chega, por saudosismo de parte do século passado, ou mesmo tiveram e proferiram “delírios patrióticos” que trocaram o respeito adquirido para virarem “piada” na mesa de bar e, em último caso, presos por cometerem atos criminosos em nome de uma ideologia rasa que não se sustenta em nenhuma base.
Durante o 2° turno da eleição mais recente recebi no WhatsApp, de um parente próximo, a “notícia quentíssima” de que “votando em Lula sua poupança vai ser roubada“. A pessoa que compartilhou é a mesma que vota em Bolsonaro com Fernando Collor ao seu lado sorrindo e mal parou para pensar: “em oito anos que Lula já governou o Brasil, alguém teve poupança bloqueada e roubada”?. Essas pessoas não leram a história do Brasil, então até requentar e acusar um lado do que o outro já fez é válido, pois todo mundo ali é “trabalhador“, “ninguém tem tempo de estudar história do seu país“, de ficar com “bobeira de ler livro“. Qualquer argumento contra o que Bolsonaro diz e fala é comunismo. A ONU é comunista, a China é comunista, a Europa é comunista, Biden é comunista, existe uma ampla “conspiração mundial” que não quis que Bolsonaro governasse, que age contra tudo o que ele pensa e faz.
Essas pessoas são manipuladas e alienadas pelo orgulho do ressentimento. Eu não gosto de partido X, de político Y, de jornalista Z, e pronto. O porquê eu não sei, me fizeram odiá-las porque algo de “muito grave” vai acontecer se essas pessoas não forem odiadas. Sentar num almoço em família e não xingar um político que eu não gosto de ladrão é quase traição à minha causa. Jamais pode-se perder a oportunidade de externar o “futuro tenebroso que está por vir” sem Bolsonaro no poder. A todo tempo essas pessoas estão combatendo aqueles que “querem destruir a família, o Brasil, a pátria, o mundo, o universo…“.
E, assim, a Polícia Federal segue de porta em porta indo prender pessoas que nem ao menos se deram o trabalho de ler a Constituição do seu país e entender o que é crime e o que não é, ou que contavam com a impunidade para fazer o que quer da “sua pátria”. Quem mandou essas pessoas irem até Brasília dia 8 invadir o Congresso e o STF “omitiu” a informação de que são ricas para sair do Brasil caso algo desse errado ou que tem foro privilegiado e influência para permanecerem impunes no país. O resto, bom, o resto que pague pelo culto à ignorância e ao messianismo.