O delegado Domiciano Monteiro, chefe da Divisão Especializada de Combate à Corrupção e Investigação de Fraudes, de Belo Horizonte, confirmou que mais de 50 pessoas estão envolvidas em um esquema fraudulento envolvendo o River Park, um parque aquático que está sendo construído em Santa Bárbara. Os valores podem ultrapassar R$ 100 milhões e as investigações continuam, mas tudo indica que há um esquema de lavagem de dinheiro utilizando pequenas empresas como “laranjas”.
Nesta primeira fase da operação, batizada de River of Money (rio de dinheiro, em tradução literal), a Polícia Civil cumpriu oito mandados de busca e apreensão, sendo quatro em Barão de Cocais, um em Belo Horizonte e três na cidade de Garça (SP).
Não houve nenhum mandado de prisão, ocorreu apenas a apreensão de computadores, documentos e máquinas de cartão de crédito. Ao todo, 27 policiais civis participaram da operação em Minas Gerais.Segundo Domiciano Monteiro, o esquema é complexo e as investigações, que começaram em 2018, ainda estão na fase inicial. Sem aprofundar em detalhes, principalmente sobre a suspeita da origem deste dinheiro, o delegado explicou que mais de 10 empresas foram investigadas na primeira fase.
Alguns proprietários dessas empresas prestaram depoimento e confessaram ter “emprestado o nome” para movimentação dos valores, em troca de uma “mensalidade” de R$ 1 mil. O que chama a atenção é que, muitas destas empresas não têm funcionários e seus sócios declararam rendas que são próximas de um salário mínimo. No entanto, algumas delas movimentavam cerca de R$ 100 mil a R$ 200 mil em espécie, entre saques e depósitos.
Domiciano Monteiro trabalha com a hipótese de que esses empresários não tinham noção do tamanho do esquema e teriam sido incentivados por pessoas próximas ou até mesmo familiares, que estariam ligados aos chefes do esquema.
Questionado pelo Diário sobre quem seriam os principais operadores do esquema de fraude, o delegado não citou nomes, mas disse que as suspeitas recaem sobre o principal proprietário do River Park, que inclusive foi um dos que prestaram depoimento à Polícia Civil ontem e também foi alvo de um dos mandados de busca e apreensão ocorridos em Barão de Cocais. O empresário é Renato Aparecido Soares.
O delegado disse que ainda está investigando se o parque aquático foi construído apenas com a finalidade de movimentar o esquema. Sem revelar com exatidão o número de pequenas empresas envolvidas, Domiciano Monteiro informou que, neste primeiro momento, cerca de 10 empresários “laranjas” estão sendo investigados, por estarem diretamente ligados ao River Park.
“Dezenas de empresas estão envolvidas, mas essas [investigadas na primeira fase] estão mais diretas com o parque aquático, devido à movimentação de recursos suspeitos. A gente tem um esquema de lavagem sendo investigado aí, né? Então, nem tudo que foi movimentado pode ser relacionado somente a investimento”, informou o delegado, confirmando que já foram identificados os crimes de falsidade ideológica, sonegação fiscal e organização criminosa.
A investigação começou quando Domiciano Monteiro era delegado em Santa Bárbara, em 2018. Segundo ele, que agora é o chefe da Divisão Especializada de Combate à Corrupção e Investigação de Fraudes, em Belo Horizonte, a Polícia Civil iniciou a investigação, com base em suspeitas relacionadas à possibilidade de crimes fiscais, após denúncias anônimas de moradores da região de Santa Bárbara e Barão de Cocais.
“A investigação foi por iniciativa própria da Polícia Civil, apesar de que havia algumas denúncias no município, mas não foram formalizadas. No município circulava a informação sobre o parque, mas as investigações iniciaram pelas inconsistências fiscais e documentais”, disse o delegado.
Cotistas não serão prejudicados, afirma advogada sobre parque aquático
A advogada Karine Castro, que defende o empresário Renato Soares na operação River of Money, informou que as investigações da Polícia Civil, que culminaram na operação River of Money – Rio de Dinheiro –, não afetarão o funcionamento do parque aquático, nem os seus cotistas. Segundo ela, o River Park está fechado devido ao decreto de isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus.
O parque, localizado no distrito de Barra Feliz, em Santa Bárbara, é um dos maiores empreendimentos deste segmento em toda a região. O megaempreendimento turístico é formado por um complexo de piscinas aquecidas, toboáguas gigantes e rio lento e tem ainda restaurante panorâmico, espaços temáticos e um resort.
“O parque não está embargado, hoje ele está fechado por causa da pandemia e estamos aguardando o decreto autorizar o funcionamento do objeto social, que é parque aquático. Sendo autorizado o funcionamento, estaremos de portas abertas, funcionando da maneira devida, porque não existe impedimento. O parque está funcionando desde o dia 15 de novembro nos finais de semana”, explicou a advogada, garantindo que as investigações não “trarão prejuízos aos cotistas”.
Segundo o delegado Domiciano Monteiro, da Divisão Especializada de Combate à Corrupção e Investigação de Fraudes, de Belo Horizonte, “dezenas de milhões” já foram investidos no local. Ele não soube dizer, no entanto, se o local foi construído especificamente para servir de fachada para o esquema de lavagem de dinheiro que está sendo investigado.