A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) entregou à Justiça o inquérito de apuração das causas do rompimento da barragem B1 do Córrego do Feijão, em Brumadinho. O Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema) apresentou o relatório final apontando o indiciamento de 16 pessoas por crimes de homicídios dolosos duplamente qualificados e por diversos crimes ambientais decorrentes do rompimento da barragem, no dia 25 de janeiro de 2019. E, também, as empresas Vale S.A e Tüd Süd Bureau de Projetos e Consultoria Ltda. também foram indiciadas pelos mesmos crimes ambientais.
A investigação, que teve duração de quase um ano, coletou vários documentos que instruíram 85 volumes do Procedimento Investigatório Criminal e Inquérito Policial. 183 pessoas foram ouvidas, entre investigados, testemunhas e vítimas sobreviventes; 23 mandados de busca e apreensão foram cumpridos e 94 dispositivos eletrônicos analisados, com quase 6 milhões de arquivos digitais.
Ainda de acordo com o relatório elaborado, a conclusão das investigações mostrou que as duas empresas indiciadas tinham o objetivo de esconder do poder público a verdadeira situação de insegurança de várias barragens de mineração mantidas pela Vale. “Com o apoio da Tüv Süd, a Vale operava uma caixa-preta com objetivo de manter uma falsa imagem de segurança da empresa de mineração, que buscava, a qualquer custo, evitar impactos a sua reputação e, consequentemente, alcançar a liderança mundial em valor de mercado”, diz o relatório final das investigações.
Indiciados/Denunciados
Além das duas empresas, 11 indiciados e denunciados ocupavam os seguintes cargos na Vale na época:
1. Fabio Schvartsman (diretor-presidente);
2. Silmar Magalhães Silva (diretor do Corredor Sudeste);
3. Lúcio Flávio Gallon Cavalli (diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão);
4. Joaquim Pedro de Toledo (gerente-executivo de Planejamento, Programação e Gestão do Corredor Sudeste);
5. Alexandre de Paula Campanha (gerente-executivo de Governança em
Geotecnia e Fechamento de Mina);
6. Renzo Albieri Guimarães de Carvalho (gerente operacional de Geotecnia do Corredor Sudeste);
7. Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo (gerente de Gestão de
Estruturas Geotécnicas);
8. César Augusto Paulino Grandchamp (especialista técnico em Geotecnia do Corredor Sudeste);
9. Cristina Heloíza da Silva Malheiros (engenheira sênior junto à Gerência de Geotecnia Operacional);
10. Washington Pirete da Silva (engenheiro especialista da Gerência Executiva de Governança em Geotecnia e Fechamento de Mina);
11. Felipe Figueiredo Rocha (engenheiro civil, atuava na Gerência de Gestão de Estruturas Geotécnicas).
Da Tüv Süd, empresa alemã responsável pelo laudo que atestou a segurança da barragem, cinco pessoas foram indiciadas e denunciadas:
1. Chris-Peter Meier (gerente-geral da empresa);
2. Arsênio Negro Júnior (consultor técnico);
3. André Jum Yassuda (consultor técnico);
4. Makoto Namba (coordenador);
5. Marlísio Oliveira Cecílio Júnior (especialista técnico).
Quase um ano de tragédia
Após três anos, um filme se repetiu na cabeça do cidadão mineiro: mais uma barragem se rompe no estado. Em 25 de janeiro rompeu uma das barragens da Mina Córrego do Feijão, localizada em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte.
O desastre do rompimento da barragem em Brumadinho causou 259 mortes e 11 desaparecidos registradas até o início de dezembro deste ano, além de liberar cerca de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos que poluíram, pelo o menos 300 quilômetros de rios, segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), o que comprometeu o abastecimento em algumas regiões centrais do estado.
Por isso, a Justiça determinou que a Vale adote novas medidas para garantir o fornecimento hidráulico na cidade de Belo Horizonte, já que o Rio Paraopeba, contaminado pelos rejeitos, era responsável pelo fornecimento de mais de 5 milhões de pessoas da região metropolitana.
Ao decorrer de 2019, várias homenagens foram prestadas, acompanhadas de protestos contra a mineradora Vale. Todo dia 25, na entrada da cidade, familiares e amigos prestam homenagens às vítimas ao meio dia e meio – horário em que as vítimas morreram. O horário e data, considerados sagrados pela população, é uma forma de homenagear e lutar para não deixar que as pessoas se esqueçam do que aconteceu naquele 25 de janeiro.