Qual o limite do humor?

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Com certeza, você já ouviu essa pergunta antes: “qual o limite do humor?”, e, mais uma vez, teve que ouvir um discurso chato, seja a favor ou contra, sobre a limitação da comédia. Mas, afinal, as companhias de produção de entretenimento precisam tomar cuidado com o que falam? Existem temas em que não cabe fazer uma piada? Essas são discussões que permeiam opiniões e posicionamentos em todo o Brasil durante anos. Entretanto, apenas uma coisa nessa história toda não tem discussão sobre a liberdade de expressão, a censura.
Recentemente, o grupo Porta dos Fundos tem sofrido as consequências de ter feito uma sátira com a religião cristã em seu especial de natal, produzido para a Netflix. O prédio onde a equipe do canal de humor grava, no Rio de Janeiro, foi atacado por, pelo menos, quatro pessoas, que lançaram bombas caseiras incendiárias em dezembro do ano passado.
Além disso, a Justiça do Rio de Janeiro decidiu que o especial de natal produzido pelo Porta dos Fundos fosse retirada do catálogo da Netflix. Com isso, uma série de debates foi feito sobre a decisão, já que, por um lado, era o respeito ao cristianismo que estava sendo levado em conta, por outro, era uma produção audiovisual de humor envolvendo um líder religioso.
Entretanto, o Supremo Tribunal Federal (STF) acatou o pedido da Netflix para que o especial permanecesse no ar. Isso porque a plataforma de streaming havia alegado que houve “censura judicial” na decisão do desembargador. No recurso, com pedido de liminar, a Netflix afirmou que a Constituição Federal veda quaisquer formas de censura e restrições não previstas à liberdade de expressão.

Outros casos

Qual o limite do humor?

Crédito da foto: Facebook / Danilo Gentilli


Essa não é a primeira vez em que uma atividade de liberdade de expressão, previstas na Constituição brasileira, feita por um artista é alvo de censura ou algo do tipo. O apresentador e humorista Danilo Gentili foi condenado a seis meses e 28 dias de prisão em abril de 2019. Na ocasião, ele publicou um vídeo rasgando uma correspondência oficial enviada por Maria do Rosário e a esfregou em suas partes íntimas. Segundo a juíza Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo, responsável por assinar a condenação, Danilo ofendeu “a dignidade ou o decoro” da deputada.
Entretanto, uma série de personalidades do ramo, mesmo os contrários às ideias de Danilo, se manifestaram contra decisão judicial. Isso porque, mesmo não concordando com os posicionamentos de Gentilli, uma prisão contra um comediante por ele ir à público e fazer uma sátira em vídeo com a ação judicial contra ele poderia ser algo um tanto quanto arbitrário e que traz recordação de alguns medos que o Brasil já viveu durante o período de 1964 a 1985.

Gravidade

Um dos integrantes do próprio Porta dos Fundos, Gregório Duvivier, já deu uma declaração ao portal “A Tribuna”, em 2017, sobre as transformações do humor a partir das mudanças de comportamento da sociedade. Na ocasião, ele lembrou que, durante muitos anos, o engraçado era fazer piadas com homossexuais, travestis, pobres, caipiras, como se a comédia tradicional fosse algo de “bater nas pessoas”. Porém, nos dias de hoje, é muito mais engraçado “bater” no poderoso do que no mais fraco. “Humor não é chutar cachorro morto, é passar a mão na bunda do policial”, disse Duvivier.
Na ocasião, Gregório disse que “a graça é zoar quem está armado, de metralhadora na mão. Quanto mais risco você estiver correndo, eu tendo a acreditar que mais engraçada vai ser a piada”, e em 2019 o risco se tornou uma realidade. A gravidade do problema agora não é mais o que se fala, mas sobre quem o humorista irá tirar sarro, e se for de alguma figura preferida pelos conservadores, não irá se falar mais sobre o limite do humor, e sim do limite da censura.

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