A Inglaterra goleou a Seleção da Bulgária, no dia 14 de Outubro, e se classificou para a Eurocopa de 2020. O placar foi de 6 a 0, uma lavada. Entretanto, o resultado da partida foi o que menos importou para o futebol e a civilização como um todo. A partida foi manchada por manifestações racistas por parte das arquibancadas em Sofia, capital do país búlgaro.
Somente no primeiro tempo, o árbitro Ivan Bebek teve que paralisar a partida duas vezes por causa de cânticos racistas vindo das arquibancadas. Além disso, Tyrone Mings, zagueiro que estreava com a camisa da seleção, irá recordar de um momento tão importante de uma forma lamentável. Durante o jogo, sons de macaco eram vindos do público.
Em primeiro momento, a partida foi paralisada para que a coordenação de som do estádio Stadion Vasil Levski comunicasse o pedido de cessão das ofensas para que a partida decorresse naturalmente. Entretanto, não foi o suficiente, e o jogo teve que ser parado mais uma vez, agora com suspensão temporária.
O treinador da Inglaterra, Gareth Southgate, chegou a conversar com seus jogadores para que todos se retirassem de campo, contudo, isso não foi feito. Segundo a norma protocolar da Uefa, caso a partida fosse interrompida pela terceira vez pela mesma causa, o jogo teria de ser abandonado por todos.
Tentando controlar a situação, o capitão da seleção da Bulgária, Ivelin Popov, foi até os arredores da arquibancada pedir para que a torcida parasse com os xingamentos de conotação racista. Uma parte destes torcedores que entoavam cânticos preconceituosos foram embora no intervalo do jogo.
E ainda, imagens gravadas por transmissões de televisão mostraram torcedores fazendo saudações nazistas. Além disso, foi focado a imagem de um torcedor que ateou uma camiseta escrito “no respect” (sem respeito), em ironia à campanha contra o racismo nos estádios, já vista em diversos eventos de grande porte da Uefa.
Inicialmente, com o plano de retirada de campo por parte dos ingleses, a União de Futebol da Bulgária disse considerar injusto a ação do adversário. E mais, o goleiro da seleção búlgara, Plamen Iliev, declarou ao jornal britânico The Guardian, que seus torcedores se portaram bem. “Sendo honesto, eu acredito que (os torcedores) se comportaram bem. Não houve nenhum abuso e acho que eles (jogadores ingleses) exageraram um pouco. O público estava numa boa. Não escutei palavrões para os nossos ou para os jogadores deles”, afirmou o jogador.
E não foi só isso. O treinador da seleção búlgara, Krasimir Balatov, também comentou sobre o público nas arquibancadas. “Pessoalmente não escutei nada. Mas tenho que dizer que os torcedores ingleses vaiaram o hino da Bulgária. Durante o segundo tempo, usaram palavras contra nossos torcedores que achei inaceitáveis”, declarou o técnico.
Mesmo com imagens e vídeos, além de testemunhas, os profissionais da Seleção da Bulgária não admitiram os atos racistas nas arquibancadas e ainda, um deles, chegou a ir contra os ingleses, insinuando desrespeito com o país.
Já Greg Clark, representante da Federação Inglesa, pediu para que alguma punição, por parte da Uefa, seja feita imediatamente. “Nós queremos uma punição severa da Uefa, porque não é a primeira vez que nossos jogadores são vítimas desse abuso. Quero uma análise muito séria dos acontecimentos pela Uefa”, declarou o dirigente.
Apesar das campanhas contra o racismo e o ativismo por parte da organização de futebol Uefa, suas punições parecem estarem longe de uma suposta imagem militante perante a este absurdo tão problemático da sociedade, que surgiu diversas vezes no âmbito da arquibancada. A punição mais frequente feita por parte dela é o fechamento dos estádios, o que não surtiu muito efeito. E ainda, os casos são processados e, posteriormente, decididos de forma muito lenta, ao decorrer que em outros âmbitos, as decisões são bem rápidas, como é o caso de suspensão de jogadores por jogadas violentas e afins.
Casos de racismo que se repetem na Europa
Sterling
Em dezembro de 2018, durante uma partida entre Chelsea e Manchester City, válido pelo Campeonato Inglês, o atacante Raheem Sterling foi vítima de ofensas racistas vindas da arquibancada do Stamford Bridge (estádio do Chelsea). O clube londrino identificou os agressores através de imagens de câmera e os puniu, proibindo um deles de ir ao estádio de futebol.
Auabmeyang
Também em dezembro de 2018, durante o clássico londrino Arsenal e Tottenham, o atacante Pierre-Emerick Aubameyang, dos reds, foi alvo de um gesto racista vindo da torcida visitante. Um torcedor arremessou uma casca de banana em direção ao jogador. O clube dos Spurs identificou o agressor e o baniu de comparecer aos estádios por quatro anos.
Malcom
O atacante brasileiro Malcom Filipe Silva de Oliveira foi alvo de racismo logo em sua estreia pelo Zenit, na Rússia. Torcedores do próprio time estenderam uma faixa ironizando a contratação da diretoria, por se tratar de um jogador negro. Dentro dessas torcidas há torcedores que são declaradamente contra jogadores com cor de pele negra em seu clube.
Dalbert
Outro jogador brasileiro também foi alvo de racismo dentro do campo. Dalbert Henrique Chagas Estevão, ao jogar pela Fiorentina, em uma partida contra o Atalanta, ouviu gritos de macaco vindo das arquibancadas do time adversário. A partida foi paralisada após o atleta contar o acontecido ao juiz, mas teve reinício e o jogo durou até o fim.
Lukaku
O jogador belga, atuando pela Inter de Milão, foi alvo de gritos racistas durante uma cobrança de pênalti contra o Cagliari em uma partida válida pelo Campeonato Italiano. E, após isso, a torcida organizada do próprio time da capital italiana publicaram uma carta à Romelu Lukaku, pedindo que o atleta entendesse as manifestações da torcida rival.