Resenha do livro ‘Não existe linguagem neutra!’ e o debate sobre inclusão na língua

Resenha do livro 'Não existe linguagem neutra!' e o debate sobre inclusão na língua

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A linguagem é um espelho da sociedade, refletindo suas mudanças, conflitos e avanços. Nos últimos anos, termos como “todes”, “todxs” e “tod@s” ganharam espaço nas redes sociais, nos discursos políticos e até em questões de vestibulares. Mas o que está por trás dessas expressões? Seria a busca por uma linguagem neutra ou inclusiva? No livro “Não existe linguagem neutra!”, Raquel Freitag, professora e linguista renomada, mergulha nesse debate, mostrando que a língua portuguesa está em um momento de transformação, onde o masculino genérico, até então hegemônico, é questionado. A obra convida a refletir sobre como a linguagem pode ser um instrumento de inclusão ou exclusão, e como ela reflete as dinâmicas de poder e identidade na sociedade.

A discussão sobre linguagem neutra não é simples. Para começar, o próprio termo “neutro” é ambíguo. Ele pode significar ausência de gênero, mas também pode ser interpretado como uma tentativa de não tomar partido. No entanto, como Freitag argumenta, a língua nunca é neutra. Ela carrega consigo valores, hierarquias e visões de mundo. O masculino genérico, por exemplo, é um reflexo de uma sociedade que historicamente privilegiou o masculino como norma. Quando dizemos “todos” para nos referirmos a um grupo misto, estamos perpetuando uma convenção que invisibiliza mulheres e pessoas não binárias.

Mas por que isso importa? A linguagem não é apenas um meio de comunicação; ela também molda a forma como vemos o mundo. Quando excluímos determinados grupos da linguagem, estamos reforçando sua exclusão social. É aqui que entra a proposta da linguagem inclusiva, que busca representar todas as identidades de gênero. Expressões como “todos, todas e todes” são tentativas de romper com o binarismo de gênero e incluir pessoas que não se identificam nem como homens nem como mulheres.

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No entanto, essas mudanças não são consensuais. Projetos de lei tentam proibir o uso da linguagem neutra, e há quem veja nela uma ameaça à “pureza” da língua portuguesa. Mas a língua, como lembra Freitag, não é estática. Ela evolui com o tempo, adaptando-se às necessidades de seus falantes. O que hoje parece estranho ou inovador pode, no futuro, tornar-se a norma. Afinal, a gramática que estudamos hoje é fruto de convenções que foram cristalizadas ao longo dos séculos.

O debate sobre linguagem neutra vai muito além de questões gramaticais. Ele toca em temas como identidade, representação e poder. Raquel Freitag convida o leitor a pensar criticamente sobre como a língua pode ser usada para incluir ou excluir, e como ela reflete as desigualdades da sociedade. Se a linguagem nunca é neutra, então cabe a nós decidir como queremos usá-la: para perpetuar hierarquias ou para construir um mundo mais inclusivo.

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