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A língua é muito mais do que um simples meio de comunicação. Ela carrega história, cultura e, muitas vezes, preconceitos. No Brasil, onde a diversidade é imensa, a forma como as pessoas falam pode ser usada como instrumento de discriminação. É exatamente essa relação entre língua e desigualdade racial que Gabriel Nascimento aborda em seu livro Racismo Linguístico: Os Subterrâneos da Linguagem e do Racismo.
Racismo linguístico pode ser entendido como toda forma de racialização da língua. Ele ocorre quando a maneira de falar de determinados grupos é usada para reforçar estereótipos e perpetuar desigualdades. Como explica Nascimento, muitas variantes do português faladas por populações negras e de classes sociais menos favorecidas são estigmatizadas. A variedade linguística desses grupos é vista como “errada” ou “inferior”, enquanto a norma-padrão, de origem colonial e europeia, é exaltada como a única correta.
Essa discriminação se manifesta de várias formas. Um exemplo comum é a desvalorização de expressões e construções linguísticas de origem africana e indígena. Além disso, muitas vezes, o preconceito contra uma determinada maneira de falar esconde um preconceito maior: o racial.
A forma como falamos tem impacto direto na forma como somos percebidos e tratados. No mercado de trabalho, na educação e até mesmo nas relações sociais, falar fora do padrão culto pode significar exclusão. O livro mostra como essa discriminação linguística não é apenas uma questão de gramática, mas uma ferramenta de perpetuação das desigualdades raciais e sociais. Um dos pontos levantados por Nascimento é o fato de que formas linguísticas como “nós vai” são marginalizadas, enquanto outras variações presentes no português europeu são aceitas. Isso nos leva a refletir: por que apenas certas formas são vistas como “erradas”?
O livro também propõe uma mudança na forma como enxergamos a língua. Em vez de perpetuar um padrão único e excludente, é necessário reconhecer a riqueza das diferentes variedades linguísticas. Isso passa pela educação, por políticas públicas e por uma maior valorização das contribuições culturais e linguísticas de grupos historicamente marginalizados. Ao final da leitura, fica a provocação: até que ponto a forma como falamos reflete o que realmente somos e até que ponto é um reflexo das estruturas de poder que nos cercam? Racismo Linguístico é um convite à reflexão e à mudança. A língua pode ser um instrumento de opressão, mas também pode ser um meio de resistência e empoderamento.