Um dos grandes responsáveis pela disseminação do trap no Brasil, o coletivo Recayd Mob vem alcançando grandes vôos. Na pista desde 2016, o grupo paulistano se tornou a maior referência do gênero no país. Determinante para todo esse sucesso, a faixa Plaqtudum foi lançada no fim de 2018 e acumula mais de 100 milhões de visualizações no YouTube. Essa música elevou e muito o nome dos jovens artistas, chamando a atenção da grande mídia e do público fora do rap.
Presente nas mais diversas vertentes do meio, a Recayd conta um grande time, que traz em sua composição vários modelos, fotógrafos, produtores, designers, dançarinos, beatmakers, DJ’s, MC’s e cantores. Com quatro anos de estrada no rap, o grupo já lançou dois discos: Calzone Tapes, Vol. 1, de 2017 e Calzone Tapes, Vol. 2, de 2018. Dentre as músicas mais célebres dos álbuns, estão as faixas Quando Eu Tinha uma Glock, Flack Jack, Lifestyle Fake e George Bush.
Nascido na província japonesa de Yamanashi, MC Igu é um dos nomes mais cultuados do trap brasileiro. Dono de uma das maiores base de fãs da cena, o rapper é o autor de hits como Buenos Aires, Japão e Frozen. Considerado um dos grandes destaques da Recayd, o “ninja” viveu os primeiros dez anos de sua vida em seu país natal, de onde traz grande parte das referências que traz em suas músicas, que sempre trazem elementos alusivos à cultura asiática.
Para falar um pouco sobre o sucesso da Recayd e os seus últimos lançamentos, a coluna Rima em Prosa conversou com Igu, que também contou detalhes importantes de sua carreira solo e como tem sido o processo de gravação do grupo em meio à pandemia. Confira a entrevista:
@ e Hora do Rush
Visando o desenvolvimento da carreira solo de seus integrantes, a Recayd Mob anunciou, em fevereiro, uma pequena pausa nos shows e trabalhos coletivos. No início deste ano, os quatro principais artistas do grupo lançaram novos projetos individuais. Derek lançou Ícone, Dfideliz lançou Sou Rock N’ Roll, Jé Santiago lançou O Bagulho É Trap e MC Igu lançou Aurélio³.
Poucos meses após o novo volume de Aurélio, Igu retornou, em maio, com @, uma mixtape produzida em seu homestudio, após o início da quarentena. Perguntado a respeito, o rapper disse que a ‘tape’ foi desenvolvida em um curto espaço de tempo e que surgiu por conta do single Maria Gasolean, que o fez entrar de cabeça na vibe apresentada no disco. Ele também exaltou a qualidade do material e o quão foda foi, para ele, essa experiência de produzir em casa.
Com uma pegada mais caseira e próxima de alguns trabalhos que lançava no início de sua carreira, quando tinha menos recursos, @ trouxe um sentimento bom aos fãs mais antigos de Igu. Durante a entrevista, perguntei a ele se ainda gostava de produzir esses trabalhos mais simples e relembrando aquela época. Ele respondeu: “Sim, e sempre vou ser assim. É um bagulho que amo demais. Antigamente eu tinha muito mais tempo para produzir, hoje já é outra parada, mas ainda ando gravando muita coisa em casa”.
Outro trabalho recente de Igu é a série de EP’s intitulada Hora do Rush, produzida em parceria com Jé Santiago, seu companheiro de grupo. Apesar de terem diversas colaborações lançadas, a dupla nunca havia trabalho em um projeto conjunto tão grande. “Eu curto pra caralho trampar com o Jé. No conceito nós trouxemos uma referência à franquia A Hora do Rush. Eu como Jackie Chan e o Jé como Chris Tucker, tá ligado? E ainda tem mais pra sair dessa tape, não preciso falar muito, vocês vão ver” disse o MC, confirmando a origem do projeto, que será concluído agora no dia 31/07, com seu terceiro volume.
Feats e futuros lançamentos
Além do lançamento de discos e projetos maiores, Igu tem desenvolvido grandes feats nos últimos tempos. Parcerias que o público vinha pedindo há tempos e que enfim viram a luz do dia. Em março saiu Ak do Japão, em parceria com Borges, jovem talento do trap carioca, e em abril saiu Mamaeu, com participação do fenômeno mineiro, Sidoka. Perguntei para ele se quando os fãs estão pedindo muito um feat, ele costuma correr atrás para fazer ou deixa as coisas fluírem naturalmente. “Deixo as coisa fluírem naturalmente, o bagulho tem que ser assim. Eu curto trampar com esses artistas que estão aparecendo. Eles são fodas e a cena precisa disto. Ainda quero fazer isto mais vezes esse ano, os fãs vão ver muita coisa ainda” respondeu Igu, indicando a possibilidade de mais parcerias inéditas num futuro próximo
Para a felicidade dos fãs, outro feat que em breve verá a luz do dia é o com Duzz. Quem realizará esse desejo é Young Mascka, que conseguiu reunir os dois rappers em uma faixa de seu novo disco, que deve ser lançado nos próximos meses. A música ainda não teve seu nome confirmado, mas já se sabe que ela ganhará um clipe dirigido por Rich V Freak. Os bastidores dessa produção foram postados no canal do YouTube de Mascarenhas. Por conta de prévias soltadas pelos artistas, alguns canais especulam que essa track irá se chamar Dubai. No passado, Igu e Duzz tiveram um desentendimento que gerou alguns ataques em músicas. “Isso tudo já passou, nós éramos muito novos na época. Hoje em dia vejo que isso não tem nada a ver. Faz um tempo que deixamos isso de lado, trocamos ideia e tá tudo resolvido” disse o integrante da Recayd, destacando a nova fase de sua relação com o rapper. Um final feliz para o público, que enfim poderá ver uma colaboração dos dois.
Mlks de SP e Recayd
Confirmado pelo próprio artista, outro projeto que deve chegar em breve nas plataformas digitais é a nova mixtape da Recayd. Sem ter sua data de lançamento e nome revelados, esse trabalho vem para suceder Calzone Tapes, Vol.2, álbum lançado em janeiro de 2018. Grande hit do rap nacional no momento, Mlks de SP é uma das músicas confirmadas no disco, que deve ser lançado nos próximos meses.
Com quase 16 milhões de visualizações no YouTube, o clipe da faixa causou muitas polêmicas e veio para reafirmar a Recayd como o maior nome do seu segmento. A produção está no ar tem menos de dois meses e já se tornou o segundo maior sucesso do grupo, superando os números do videoclipe de Flack Jack e ficando atrás apenas da colossal Plaqtudum. “Não somos só o maior grupo de São Paulo, mas do Brasil” disse Igu, confirmando a intenção da música, que ressalta a trajetória e posição do coletivo em meio ao trap no Brasil. Ao ser perguntado sobre como ele faz para lidar com o peso de estar no mais alto patamar do rap nacional e não deixar isso subir pra cabeça, o rapper respondeu que o importante é não se esquecer de onde você veio e manter a humildade sempre, pois nada muda.
Outra música nova do grupo é POC POC, lançada agora no início de julho. Tanto ela, quanto Mlks de SP, foram produzidas após o início da pandemia, que afetou muito o meio musical. A redução no valor (ou fim) de contratos e parcerias e a não produção de shows são alguns dos fatores que afetaram muitos os artistas, que passaram a depender quase que inteiramente da renda vinda de streamings nas plataformas digitais. Igu comentou um pouco sobre os problemas enfrentados pelo Recayd, confira:
“Além dos nossos shows, as nossas sessões de estúdio também foram muito afetadas. A gente continua gravando várias mesmo não se encontrando pra gravar que nem antes. Cada um grava sozinho em um lugar. Eu, por exemplo, tenho o meu estúdio em casa, então fica mais fácil seguir esse ritmo de produção. Nós também não conseguimos mais nos unir pra fazer um rolê, trocar uma ideia igual antes, agora tá foda…”
Por fim, o rapper deixou uma mensagem para os fãs que o acompanham e seguem a coluna:
“Obrigado a todos os fãs que estão comigo, eu amo todos vocês! Confiem em mim sempre, vocês sabem que sempre tô com uma coisa inovadora, esse é o Igu” disse o artista, ao final da entrevista.
Rima em Prosa é a coluna especializada em rap do Mais Minas. Nela, são publicadas notícias, matérias e entrevistas relacionadas à tudo de principal que tem ocorrido no rap nacional. Caso tenha gostado da entrevista com MC Igu, recomendados as nossas matérias com Duzz, Aka Rasta e Yunk Vino.