Rima em Prosa #6: Aka Rasta fala com exclusividade sobre produção, desconstrução, cena e projetos

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Aka Rasta fechou 2019 em alta. Músicas como “Fases”, “É Só Uma Amiga” e “Olho Por Olho” coroaram o ano do artista curitibano, que tem conquistado seus primeiros milhões no YouTube. Representando um estado que ainda não tem tanta notoriedade no cenário nacional, o rapper tem feito seu nome ao longo dos últimos quatro anos. 

Em entrevista exclusiva ao Mais Minas, o rapper conta ao colunista João Victor Pena sobre o seu processo de desconstrução após ter feito um comentário homofóbico, o lançamento da faixa “Marra”, seu trabalho para elevar a autoestima de seus fãs e mais. Confira:

O lado produtor

MM: Ao contrário de muitos artistas, você é o responsável por toda a produção de quase todas as suas músicas, incluindo mixagem e masterização. Como você começou a produzir? Há quanto tempo você produz?

AR: Eu comecei a produzir em 2016, por falta de contatos e dinheiro para gravar em estúdio. Como eu queria fazer acontecer, eu não podia esperar até eu ter condições. Então eu mesmo botei a cara e aprendi. Tanto que nesse meio tempo, eu vivi de produção durante muito tempo, até começar a ganhar dinheiro com as minhas músicas.

MM: Hoje, o que faz o Aka Rasta continuar fazendo toda a sua produção?

AR: Hoje eu continuo fazendo toda a minha produção porque eu sei exatamente o que está na minha cabeça. Pra mim é muito mais difícil eu falar com o produtor pra ele fazer. E eu também tenho um pouco de ciúmes da minha voz, sinto que as pessoas não conseguem deixar ela do jeito que eu gosto. Então eu continuo por preferência.

A cena do Sul

MM: Você é natural do Paraná, no Sul do país. Historicamente essa não é uma região com tanto destaque no rap e recebe até hoje muitas críticas, principalmente pelas questões históricas e raciais que envolvem esse lado do país. Como você vê a cena do Paraná e do Sul como um todo?

AR: A cena do Paraná e do Sul é uma cena com muito potencial, e tem muitos artistas talentosos, que eu mesmo conheço, mas não vira tanto por conta desse preconceito com o Sul e também por causa de estrutura. Mesmo Curitiba sendo uma capital, comparada com São Paulo, é interior. Não tem contatos, não tem capital de giro. 

Polêmica no Twitter e a faixa “Marra”

MM: Alguns meses atrás você sofreu duras críticas após um postagem homofóbica no Twitter. Um pouco depois, você apagou a publicação e reconheceu seu erro, pedindo desculpa a todos. Qual foi o ponto crucial para essa mudança de pensamento?

AR: Essa ocasião foi um grande mal entendido. Eu me expressei mal, mas mesmo se eu tivesse me expressado certo eu precisava passar por essa desconstrução. A palavra que eu queria usar ao invés de gay, era afeminado. Mas isso também seria errado, porque como eu falo em “Marra”, roupa não tem gênero e eu sou uma pessoa que luto pela liberdade de cada um ser como quiser e se vestir do jeito que quiser. Realmente foi algo que eu falei por impulso, não percebi que era que ia ofender as pessoas. Mas eu aprendi com esse erro, me desconstruí nesse sentido e pedi o perdão de maneira sincera.

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Comentário de Aka Rasta gerou muita polêmica na internet – Crédito da foto: Reprodução/Twitter

MM: Essa mudança de pensamento gerou a faixa “Marra”, onde você fala do assunto. Como foi o desenvolvimento dessa música?

AR: Eu normalmente faço músicas com coisas que estão frescas na minha memória. Como eu estava com esse trauma, com essa preocupação por ter ofendido muitas pessoas que eu não gostaria de ter ofendido, vou usar o poder que eu tenho na música pra conscientizar e desconstruir os outros. Da mesma forma que eu fui desconstruído com o meu erro, eu posso desconstruir com a música.

MM: Após o ocorrido, você conversou com o Lord Prince?

AR: Eu não lembro se eu falei diretamente com ele, ou se foi com outra pessoa da banca. Só que eles realmente ficaram muito ofendidos. Até falaram algumas coisas de mim, mas eu entendo. Por mais que não fosse minha intenção, nem havia pensado na possibilidade, eu os ofendi. Eu não tenho nada contra eles, por mais que tenham falado algumas coisas de mim, da minha parte está tudo suave.

MM: Nessa faixa, além de mostrar seu arrependimento e redenção, uma coisa a se destacar é a participação da Ebony. Além dela, você também já havia gravado com outra mina, a Luiza Sandmann. Na sua visão, por que grande parte dos rappers insistem em não gravar com mulheres? 

AR: Cara, eu realmente não sei explicar o motivo. Mas acho que é porquê tem muito menos mulheres do que homens no trap, então naturalmente vão sair muito mais músicas entre homens. Só que agora, graças a Deus, estão aparecendo muitas mulheres, elas estão tendo uma visibilidade maior. Ainda não chegou no nível que elas merecem, elas merecem muito mais, mas tem vários nomes femininos que tão chegando. E pelo menos falando por mim, eu pretendo trabalhar com todas elas, porque elas tão fazendo algo incrível. Algo que eu comento já com meus colegas, que eu sentia falta, eram mulheres que faziam trap, trap mesmo. E esse momento chegou e vai ser incrível.

MM: Um dos temas mais recorrentes nas suas músicas é a valorização da pele preta e do cabelo crespo. Nos comentários dos clipes e vídeos, é possível ver um grande número de jovens agradecendo pela ajuda na construção de suas auto-estimas. Como você se sente sabendo que ajuda tantas pessoas a se sentirem bem com elas mesmo?

AR: Eu acho que esse é meu propósito. Não é algo forçado, é algo natural. Eu mesmo quando era mais jovem sofri muito com isso, por ter meu próprio gosto e ser julgado por ser diferente das pessoas que só seguiam o padrão. Felizmente eu tinha uma pessoa ali pra manter sempre a minha alta, que é a minha mãe. Ela sempre fez de tudo pra manter a minha confiança no jeito que eu sou. Mas não é todo mundo que tem uma mãe como a que eu tive. Então eu sinto algo dentro de mim, que me faz querer ser essa pessoa que eles precisam. Ser esse apoio que eles não tem. Eu não quero que as pessoas percam a sua identidade, elas têm que se amar do jeito que elas são. E a música tem um poder muito forte, e que tem que ser usado para o bem. Aumentar a auto-estima das pessoas é um dom que eu tenho.

Rima em Prosa #6: Aka Rasta fala com exclusividade ao Mais Minas

Aka Rasta é um expoente da cena sulista – Crédito da foto: Divulgação

MM: Além disso, você também fala muito de estilo, como na própria faixa “Marra”. Você acha que é possível se empoderar através da moda?

AR: Eu acho que é possível sim, mas é um jeito muito delicado de ver. Porque quando você veste um estilo você é assimilado a uma tribo, a uma cultura. Então se você está vestindo tal coisa, você está “abrandado” a ideia daquilo. Mas isso entra um pouco em conflito do que eu falei da pessoa ser do jeito que ela quiser. Eu luto mais para que a pessoa seja ela mesmo na moda, do que ela abraçar ou se prender a um padrão de roupa.

Novos projetos

MM: Além dos singles que você vem lançando, quais são os projetos a curto prazo do Aka Rasta? Há algum álbum, EP ou mixtape vindo por aí?

AR: Bem, eu não posso explanar muitas coisas mas esse é um ano de projetos grandes. Mixtape, álbum, entre outras coisas. Não esperem menos que fogo desse ano. A gente está muito focado no trabalho, mais do que sempre esteve. A gente vai acontecer de verdade, uma revolução musical aqui no Brasil. Astro Gang, let’s get it!

Após um 2019 de muitos trabalhos, Aka Rasta iniciou 2020 também com lançamento. No dia 14 de janeiro, o rapper disponibilizou no seu canal do YouTube o remix da faixa “Fases”, um de seus maiores sucessos. Com uma nova roupagem, a música agradou ao público do artista, que considera essa como uma das tracks mais motivadores do rapper.

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