Uma série de reportagens publicadas pelo jornal O Tempo entre os dias 16 e 22 de julho de 2025, com autoria do jornalista José Vítor Camilo, reacendeu o debate público sobre os impactos sociais e territoriais da expansão da mineração da CSN em Congonhas, Minas Gerais. Os textos revelam denúncias de violações de direitos, ameaças de remoção e reconhecimento formal de territórios tradicionais, colocando em evidência a tensão entre atividade econômica e salvaguardas sociais e ambientais.
Na primeira reportagem, publicada em 16 de julho, O Tempo trouxe à tona o caso de um casal de idosos, Seu João, de 74 anos, e Dona Geralda, de 66, que enfrentava ordem de remoção judicial para que a CSN pudesse utilizar o terreno onde moram, em uma área verde da comunidade de Santa Quitéria, para instalar uma pilha de rejeitos. O imóvel da família, segundo a matéria, possui valor simbólico e afetivo: abriga um forno de barro antigo, uma piscina natural e outras estruturas erguidas por gerações. O texto aponta que, apesar da decisão judicial favorável à empresa, a remoção do casal provocou mobilização entre vizinhos, ativistas e instituições públicas.
No dia seguinte, 17 de julho, nova reportagem de Camilo mostrou que o caso chegou ao conhecimento do Ministério Público Federal. A deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT) acionou formalmente o MPF para acompanhar as tentativas de desapropriação e para assegurar o direito à permanência da comunidade quilombola de Santa Quitéria. A mobilização contou ainda com um abaixo-assinado que reuniu mais de 1.500 assinaturas em menos de 24 horas. A matéria destaca que não há transparência sobre os impactos reais da expansão minerária na região e que moradores relatam pressões indiretas para deixarem suas casas.
Em 18 de julho, outra reportagem revelou um novo desdobramento: a comunidade de Santa Quitéria foi oficialmente reconhecida como remanescente de quilombo pela Fundação Palmares, por meio da Portaria nº 187. O reconhecimento reforça a necessidade de consulta prévia e informada, conforme determina a Convenção 169 da OIT, ratificada pelo Brasil. A reportagem aponta que a pilha de rejeitos pretendida pela CSN ficaria a cerca de 1 km do centro da comunidade, afetando diretamente áreas de uso tradicional como a capela e a escola local. A matéria também registra que a Justiça de Minas havia agendado, para o fim do mês, uma audiência de conciliação entre as partes, após atuação da Defensoria Pública e de organizações quilombolas.
Por fim, em 22 de julho, Camilo noticiou que o Tribunal de Justiça de Minas Gerais suspendeu a remoção do casal de idosos, acatando recurso da Federação N’Golo, entidade representativa das comunidades quilombolas do estado. A decisão revogou a liminar anterior e determinou o envio do caso à Justiça Federal, por envolver território quilombola reconhecido. A filha do casal, Danila, declarou sentir alívio diante da decisão, embora reconheça que a situação ainda requer acompanhamento permanente.
Ao longo da série, as reportagens de José Vítor Camilo oferecem um retrato aprofundado das disputas por território e das estratégias jurídicas, políticas e comunitárias mobilizadas para enfrentar os efeitos da mineração em áreas tradicionais. O conjunto das matérias ajuda a compreender a complexidade do processo de expansão da CSN Mineração em Congonhas e os múltiplos atores envolvidos no conflito.
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