A partir desta terça-feira (12 de junho), mulheres que frequentam praias públicas na Síria deverão, obrigatoriamente, vestir burkinis — tipo de maiô projetado para mulheres, que cobre todo o corpo, exceto o rosto, as mãos e os pés, conforme anunciado pelo Ministério do Turismo do país.
A medida, definida como uma diretriz de “interesse público”, representa mais uma mudança nos padrões culturais do país desde a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro do ano passado.
De acordo com o ministro do Turismo, Mazen al-Salhani, a exigência visa “respeitar o gosto público e a sensibilidade de diversos segmentos da sociedade síria”. Em nota oficial publicada nas redes sociais, o ministério destacou que a nova regulamentação vale para cidadãos locais e turistas que frequentem praias e piscinas públicas.
Além das regras para mulheres, o código impõe também condutas aos homens: camisetas passam a ser obrigatórias fora da área de natação, e é vetado circular com o torso nu em espaços como lobbies de hotéis e restaurantes à beira-mar. A recomendação geral é que, em locais públicos, todos devem cobrir ombros e joelhos, e evitar roupas transparentes ou excessivamente justas.
Permissões e exceções para locais turísticos privados
Apesar das restrições, o governo sírio flexibilizou as exigências em ambientes turísticos de padrão internacional. Resorts e hotéis classificados com quatro estrelas ou mais, bem como praias e piscinas privadas, estão autorizados a manter o uso de trajes típicos ocidentais.
Ainda não está claro quais punições serão aplicadas para quem desrespeitar a norma. No entanto, o governo afirmou que supervisores de praia e salva-vidas terão autoridade para garantir o cumprimento das regras.
Influência de grupo islâmico marca nova fase no país
As mudanças ocorrem sob forte influência de Hayat Tahrir al-Sham (HTS), coalizão islâmica que lidera o governo de transição no país. Anteriormente conhecida como Frente Al-Nusra — grupo designado como terrorista por Estados Unidos e Reino Unido — a HTS desempenhou papel central na ofensiva que levou ao colapso do governo de Assad.
O atual presidente interino da Síria, Ahmad al-Sharaa, ex-líder da HTS, assinou o decreto do novo código de vestimenta. Em março, ele também oficializou uma constituição provisória que institui o governo islâmico por pelo menos cinco anos.
Al-Sharaa afirmou anteriormente que a nova constituição permanente deverá levar cerca de três anos para ser redigida, com a realização de eleições prevista em até cinco anos. O grupo Human Rights Watch, sediado nos EUA, declarou que o amplo poder concentrado nas mãos de al-Sharaa “levanta sérias preocupações quanto à estabilidade do estado de direito e às garantias de direitos humanos”.
Turismo busca se reerguer após fim de sanções
A nova regulamentação coincide com uma campanha do governo sírio para reaquecer o setor turístico. Recentemente, o ministro Mazen al-Salhani tem se reunido com investidores do Catar e da Arábia Saudita para projetos bilionários de infraestrutura e turismo.
O esforço ganhou impulso após o fim das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. A suspensão foi anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, que, durante encontro com Ahmad al-Sharaa em Riad no último dia 14 de maio, classificou o gesto como uma “chance de grandeza” para a Síria.