‘Sudestino’: entenda o significado do adjetivo presente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

‘Sudestino’: entenda o significado do adjetivo presente no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa

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A palavra “sudestino” pode não soar tão familiar para todos os brasileiros, mas já deixou sua marca em produções culturais e humorísticas. O termo, além de estar presente em títulos de livros e até em nome de banda de forró, ganhou notoriedade após ser utilizado em um esquete do grupo Porta dos Fundos, em 2021. Na ocasião, a palavra foi utilizada para ironizar generalizações sofridas por moradores do Nordeste, o que gerou ampla discussão pública.

“Uai, mano, cê tá de caô, brother? A gente aqui num papo firmeza nesse trem e você agindo igual um zê ruela? Tô bolado. Essa parada era pra ser top, sô.”. Na esquete intitulada “Sudestino”, um paulista interpretado por Gregório Duvivier enfrenta preconceitos ao se mudar para Recife. A proposta foi usar a inversão de papéis como crítica, abordando a carnavalização bakhtiniana — conceito do filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) que descreve situações em que hierarquias sociais são invertidas temporariamente, geralmente por meio do humor e da paródia.

No caso da esquete, a “graça” surge da ruptura das expectativas e da criação de um cenário em que estigmas são invertidos, expondo a fragilidade dos preconceitos. Contudo, a identidade escolhida para essa inversão — a de “sudestino” — não constava nos principais dicionários brasileiros. Já “nordestino” era amplamente reconhecido, mas muitas vezes associado de forma pejorativa e preconceituosa.

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Curiosamente, meses após a repercussão do vídeo, mas sem relação direta aparente, a Academia Brasileira de Letras (ABL) incorporou oficialmente a palavra “sudestino” ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Segundo a ABL, o adjetivo “sudestino” refere-se a algo ou alguém pertencente à região Sudeste do Brasil ou ao sudeste de qualquer região. Ou seja, moradores do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo são “sudestinos”.

A inclusão do termo equilibra o vocabulário referente às regiões do país e fortalece a reflexão sobre identidade e regionalismo. Enquanto as pessoas que residem no Sudeste são denominados sudestinos, aqueles que vivem no Centro-Oeste recebem o adjetivo de centro-oestinos. No Sul, os habitantes são tradicionalmente chamados de sulistas, e no Norte, as designações variam entre nortistas e nortenhos. Ressalta-se que os termos “nordestino”, “sudestino”, “centro-oestino” e “nortista” constituem adjetivos pátrios, os quais indicam a origem ou naturalidade dos indivíduos em relação a uma determinada região.

A incorporação do termo “sudestino” ao Volp pela Academia Brasileira de Letras simboliza a atualização lexicográfica e reflete um diálogo entre cultura, linguagem e identidade. Ao oficializar o adjetivo, a ABL equilibra a representação das regiões no vocabulário. A inversão proposta pelo humor, inspirada na carnavalização bakhtiniana, evidenciou como o preconceito regional, muitas vezes naturalizado, é construído e passível de desconstrução. Assim, a legitimação de “sudestino” consolida um passo importante no debate sobre pertencimento e diversidade, reforçando que a língua é um organismo vivo, capaz de evoluir para incluir narrativas que combatam assimetrias e promovam o respeito às múltiplas identidades que compõem o Brasil.

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